terça-feira, novembro 02, 2010

Porque hoje é o dia dos fieis defuntos


O fiel defunto de Sócrates

As negociações do Orçamento tiveram todos os ingredientes de uma telenovela da TVI. Declarações apaixonadas e silêncios enraivecidos, encontros e desencontros, promessas e traições, longas conversas secretas, suspiros e desabafos, uma ruptura violenta e uma reconciliação nocturna entre o Governo e o PSD.


Os cabelos brancos de Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga faziam prever menos barulho e mais sensatez. Para sair da tragédia portuguesa, sobra ainda o Fundo Monetário Internacional, agora com um novo director para a Europa, o gestor António Borges, que pertenceu à anterior direcção laranja de Manuela Ferreira Leite.

Seria uma ironia do destino se, depois de criticar as propostas de Eduardo Catroga e atacar o PSD, Teixeira dos Santos se visse obrigado a acatar as ordens de António Borges e do FMI. Apesar do acordo, o Fundo Monetário continua a ser bem--vindo. É a única instituição que pode tirar a limpo o que ninguém ainda conseguiu saber: qual é a profundidade do buraco financeiro em que o Governo de José Sócrates enfiou o País.

A verdadeira dimensão da dívida pública mantém-se um mistério para a esmagadora maioria dos portugueses. Esta só não é uma tragédia grega porque Portugal está em piores lençóis do que a Grécia. Atenas, ao contrário de Lisboa, tem uma maioria absoluta no parlamento, que foi capaz de aprovar o pacote de austeridade do FMI.

Eduardo Catroga avisou que o Orçamento continua a ser mau. Ainda assim, apesar da imprevisibilidade da política nacional, o acordo entre o Governo e o PSD vai resistir até amanhã, Dia de Todos os Santos. O Orçamento deve, pelo menos, chegar até terça-feira, porque antes de nascer já era um fiel defunto.

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