quinta-feira, outubro 22, 2009

Dia da criação

Para alguns senhores a Terra faz hoje anos - mais exactamente 6.012 anos...

Poema da interrogação

«Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação.»

Génesis

Deus de tudo e do nada, se existes,
uno e trino, suprema omnisciência,
trabalhaste seis dias e resistes
impassível no céu, com paciência;

se em vez da criação numa semana
tivesses operado um mês a eito,
esculpisses o barro com mais gana
e fizesses um mundo mais perfeito;

(repara, por exemplo, vê o homem
que se diz ser à tua semelhança
e que mata e devasta e cria a fome,
em nome do poder e da abastança);

perdoa-me a pergunta impertinente:
existes como O Ser, ou como ente?

Domingos da Mota- Blog Fogo Maduro


ADENDA: recebemos o seguinte comentário do autor deste belo poema:

Caríssimo Fernando Martins,

Vejo que publicou aqui o meu "Poema da interrogação", numa alusão ao Dia da criação, e nos marcadores escreveu:"aldrabices, criacionismo, Domingos da Mota, Fogo Maduro, poesia".
Se ler bem o poema, a começar pelo título e a acabar no seu último verso, verá que ele é atravessado por uma forte carga de ironia, e, ainda que tenha como epígrafe uma passagem do Génesis, é mesmo um poema de interrogação sobre a existência de Deus e sobre o criacionismo, e não de afirmação da sua existência e desse acto criador.
Daí que considero que para defender o que afirma, o poema foi mal escolhido. E mesmo que um poema não precise de explicações, já o poeta não é um desses «senhores» que defende que a Terra só tem a idade que aqui refere.
Com estima,

Domingos da Mota

Queremos assim deixar bem claro que partilhamos os pontos de vista do autor do poema e que a sua brilhante e fina ironia é que nos levou a escolher o poema - não podia ser de outro modo... Os marcadores escolhidos são para a data e para quem nela acredita, não para o Poema.

3 comentários:

Domingos da Mota disse...

Caríssimo Fernando Martins,

Vejo que publicou aqui o meu "Poema da interrogação", numa alusão ao Dia da criação, e nos marcadores escreveu:"aldrabices, criacionismo, Domingos da Mota, Fogo Maduro, poesia".
Se ler bem o poema, a começar pelo título e a acabar no seu último verso, verá que ele é atravessado por uma forte carga de ironia, e, ainda que tenha como epígrafe uma passagem do Génesis, é mesmo um poema de interrogação sobre a existência de Deus e sobre o criacionismo, e não de afirmação da sua existência e desse acto criador.
Daí que considero que para defender o que afirma, o poema foi mal escolhido. E mesmo que um poema não precise de explicações, já o poeta não é um desses «senhores» que defende que a Terra só tem a idade que aqui refere.
Com estima,

Domingos da Mota

Fernando Martins disse...

Caro Amigo:

Tal como o senhor, também nós aqui gostamos de poesia, pelo dque entedemos perfeitamente a ironia do mesmo. Foi usado como, mas, se assim o entender, explicaremos que é por ironia que citámos o seu belo poema...

Domingos da Mota disse...

A adenda que colocou é mais do que suficiente para dar o sentido da leitura do poema.
Aliás, no blogue De Rerum Natura, Paulo Trincão também resolveu publicar este poema, mas sem o título e sem a epígrafe, num texto demolidor para a tese do criacionismo, mas, segundo a minha leitura, deixando no ar a ideia de que o poema defendia o criacionismo; posteriormente, depois de eu me manifestar, o poema foi publicado na íntegra, e com uma explicação do motivo da republicação.
Obrigado,

Domingos da Mota