Poema da interrogação
«Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação.»
Génesis
Deus de tudo e do nada, se existes,
uno e trino, suprema omnisciência,
trabalhaste seis dias e resistes
impassível no céu, com paciência;
se em vez da criação numa semana
tivesses operado um mês a eito,
esculpisses o barro com mais gana
e fizesses um mundo mais perfeito;
(repara, por exemplo, vê o homem
que se diz ser à tua semelhança
e que mata e devasta e cria a fome,
em nome do poder e da abastança);
perdoa-me a pergunta impertinente:
existes como O Ser, ou como ente?
Domingos da Mota- Blog Fogo Maduro
ADENDA: recebemos o seguinte comentário do autor deste belo poema:
Caríssimo Fernando Martins,Vejo que publicou aqui o meu "Poema da interrogação", numa alusão ao Dia da criação, e nos marcadores escreveu:"aldrabices, criacionismo, Domingos da Mota, Fogo Maduro, poesia".Se ler bem o poema, a começar pelo título e a acabar no seu último verso, verá que ele é atravessado por uma forte carga de ironia, e, ainda que tenha como epígrafe uma passagem do Génesis, é mesmo um poema de interrogação sobre a existência de Deus e sobre o criacionismo, e não de afirmação da sua existência e desse acto criador.Daí que considero que para defender o que afirma, o poema foi mal escolhido. E mesmo que um poema não precise de explicações, já o poeta não é um desses «senhores» que defende que a Terra só tem a idade que aqui refere.Com estima,Domingos da Mota
Queremos assim deixar bem claro que partilhamos os pontos de vista do autor do poema e que a sua brilhante e fina ironia é que nos levou a escolher o poema - não podia ser de outro modo... Os marcadores escolhidos são para a data e para quem nela acredita, não para o Poema.
3 comentários:
Caríssimo Fernando Martins,
Vejo que publicou aqui o meu "Poema da interrogação", numa alusão ao Dia da criação, e nos marcadores escreveu:"aldrabices, criacionismo, Domingos da Mota, Fogo Maduro, poesia".
Se ler bem o poema, a começar pelo título e a acabar no seu último verso, verá que ele é atravessado por uma forte carga de ironia, e, ainda que tenha como epígrafe uma passagem do Génesis, é mesmo um poema de interrogação sobre a existência de Deus e sobre o criacionismo, e não de afirmação da sua existência e desse acto criador.
Daí que considero que para defender o que afirma, o poema foi mal escolhido. E mesmo que um poema não precise de explicações, já o poeta não é um desses «senhores» que defende que a Terra só tem a idade que aqui refere.
Com estima,
Domingos da Mota
Caro Amigo:
Tal como o senhor, também nós aqui gostamos de poesia, pelo dque entedemos perfeitamente a ironia do mesmo. Foi usado como, mas, se assim o entender, explicaremos que é por ironia que citámos o seu belo poema...
A adenda que colocou é mais do que suficiente para dar o sentido da leitura do poema.
Aliás, no blogue De Rerum Natura, Paulo Trincão também resolveu publicar este poema, mas sem o título e sem a epígrafe, num texto demolidor para a tese do criacionismo, mas, segundo a minha leitura, deixando no ar a ideia de que o poema defendia o criacionismo; posteriormente, depois de eu me manifestar, o poema foi publicado na íntegra, e com uma explicação do motivo da republicação.
Obrigado,
Domingos da Mota
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