Albufeira: Queda de rochas fez cinco mortos e três feridos
“Falésia caiu e engoliu as pessoas” (COM VÍDEOS)
"Um estrondo enorme, muito pó e, num ápice, parte da falésia caiu. Numa fracção de segundo, várias pessoas no areal, com crianças, ficaram soterradas. Foram engolidas", recorda ao CM Carlos Pereira, testemunha da tragédia que, ontem, pelas 11h55, matou um homem e quatro mulheres, três dos quais da mesma família e todos do Norte do País, na praia Maria Luísa, em Albufeira. Há ainda três feridos, um deles grave. As autoridades garantiram, ontem à noite, que já não há desaparecidos.
Perderam a vida António, Rita e Mariana Mota Fonseca, uma família de Ramal, Porto, com respectivamente 51, 33 e 23 anos, além de uma outra mulher que não foi possível identificar até à hora de fecho desta edição e Maria Emília Freitas Ribeiro Dias, 37 anos, emigrante em França, de férias no Algarve há um dia, com o marido e uma filha de 15 anos. Esta vítima é natural de Gouveia, em Marco de Canaveses.
'Gerou-se o pânico entre os banhistas que enchiam a praia, mas tive o sangue-frio de ligar para o 112', conta o banhista Carlos Pereira, de Lisboa. 'Uns gritavam, outros procuravam ajudar, o que eu também tentei fazer', ajudando a retirar alguns dos soterrados 'apenas escavando com as mãos'.
'Pusemos a salvo duas senhoras, queixosas dos membros', e dez minutos depois chegaram os primeiros-socorros. 'Assistimos um homem [António Mota Fonseca] em paragem cardiorrespiratória, conseguindo reverter a situação inicialmente. Mas, quando estava a ser transportado para o hospital, ainda na praia, teve nova paragem, vindo a falecer', explicou ao CM Richard Glied, responsável do INEM, que confirmou a assistência a três feridos graves – duas mulheres e um homem, 'com queixas nos membros superiores e inferiores'.
O homem ferido esteve uma hora soterrado, tendo sido retirado com a ajuda de uma retroescavadora, com um pé muito ferido. 'Um milagre apesar de tudo', diz Carlos Pereira, que garante estarem no local, à hora da tragédia, dezenas de pessoas, 'muitas crianças a jogar à bola'.
A subida da maré dificultou o socorro. Só ao fim da tarde foi possível retirar os três corpos soterrados. Por razões de segurança, uma máquina realizou 'um desmoronamento controlado', explicou Marques Pereira, capitão do porto de Albufeira: 'A parte da falésia que não caiu estava em risco.' E lembrou o facto de haver 'sinalética indicativa do risco no local'. Marques Pereira minorou a possibilidade do recente sismo na região e a passagem de um avião na altura do acidente terem sido responsáveis pela tragédia. 'O mar causou, nos dois últimos anos, depressão no local e alguma falência desta zona.'
'PEDI AO MEU MARIDO PARA NÃO FICAR DEBAIXO DA FALÉSIA'
Ana Paula olhava emocionada para as manobras de socorro envolvidas no resgate dos corpos soterrados.
'Podia ser eu e a minha família a estarmos ali', confidenciou ao CM, ainda mal recomposta do susto sofrido.
'Cheguei à praia com a família muito cedo e o meu marido queria colocar a toalha por debaixo da falésia', conta esta veraneante da Covilhã, que não sabe explicar porque recusou. 'Preferi outro local e foi a nossa sorte', garante.
Ana Paula ouviu 'um enorme estrondo' e a falésia a cair em cima das pessoas, precisamente no local onde o marido queria ficar e onde, momentos antes, passara com uma filha. 'Nascemos hoje outra vez', confidencia.
BANHISTA FICOU COM PERNA FRACTURADA E FOI OPERADO
Um homem com 24 anos foi o ferido mais grave na derrocada da falésia na praia Maria Luísa. Com fracturas muito graves numa perna, o sinistrado foi conduzido ao Hospital de Faro, onde, ontem à tarde, foi submetido a uma intervenção cirúrgica. Não corria perigo de vida, mas inspirava cuidados, explicou o director regional do INEM, Richard Glieg.
Uma jovem de 16 anos foi igualmente atingida e, depois de ter sido assistida no local, acabaria por ser também encaminhada para o Hospital de Faro, com uma fractura num braço. Mais sorte teve outra vítima, de 30 anos, que apenas sofreu um pequeno ferimento num pé e foi também tratada no local.
IDENTIFICADAS 32 ZONAS DE RISCO
'Estão identificadas 32 zonas de risco nas falésias nacionais, mas a que ontem desabou, integrada na área do Plano de Ordenamento da Orla Costeira Burgau-Vilamoura, não foi considerada como estando em perigo iminente', esclareceu o presidente do Instituto da Água, Orlando Borges. A responsável da Administração Hidrográfica da Região do Algarve frisou que o troço da costa em causa tinha sido inspeccionado 'na semana passada'. Valentina Calixto apontou como uma das possíveis causas da derrocada o sismo de segunda-feira.
APONTAMENTOS
CARVOEIRO
Há seis anos ocorreu uma derrocada na arriba nascente da praia do Carvoeiro, no concelho de Lagoa. Não provocou vítimas, provavelmente por ter acontecido durante o Inverno.
VALE DO LOBO
No empreendimento de luxo de Vale do Lobo, no concelho de Loulé, no início da década, parte de duas moradias colocadas próximo da arriba ruiu. As casas foram depois demolidas.
LAGOS
Na praia D. Ana, em Lagos, para prevenir o risco de pessoas serem atingidas por derrocadas, foram colocadas baías de protecção junto à falésia. Estas são, no entanto, regularmente destruídas por populares que, apesar do perigo, querem ir para o local.
CAVALO PRETO
Durante o Verão, dezenas de autocaravanas estão regularmente estacionadas no topo da falésia da praia do Cavalo Preto, em Quarteira (Loulé).
COSTA ALGARVIA ESTÁ EM RISCO
Regista-se em média doze desmoronamentos nas arribas do Algarve Central por ano, segundo dados da Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARHA). E o excesso de construção junto à costa – no caso em concreto da praia Maria Luísa há moradias com piscinas a escassas dezenas de metros do limite das falésias – aumenta os riscos de derrocadas, diz ao CM João Alveirinho Dias, tido como um dos maiores especialistas portugueses em erosão costeira.
Os doze desmoronamentos anuais verificam-se nos principais concelhos turísticos algarvios, incluindo Albufeira – os dados foram publicados no boletim de Maio/Junho da ARHA. João Alveirinho Dias, investigador da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade do Algarve, diz ao CM que a construção nas proximidades da costa, o tráfego automóvel e o sismo ocorrido dia 18 no Algarve podem ter contribuído para a tragédia na praia Maria Luísa, mas salientou que 'é impossível estabelecer uma relação de causalidade'.
Segundo o especialista, 'todos os litorais de arriba são zonas de risco', embora haja factores que possam acentuar ainda mais esses riscos. A edificação junto à costa é um deles, dado que provoca 'um aumento de carga nas arribas e transmite vibrações ao solo na fase de construção'. Outro factor é 'o aumento de tráfego rodoviário'.
Alveirinho Dias realçou a importância de ser estabelecida uma faixa ‘non edificandis’ (onde não seja permitida a construção) junto às arribas, de forma 'a preservar o património natural'. Mas existem zonas do Algarve que 'estão de tal modo ocupadas que a parte natural perdeu-se'. O investigador confessa não ter ficado muito surpreendido com a derrocada da arriba em Albufeira, porquanto 'as arribas são formas de erosão'.
Mas explicou que os desprendimentos acontecem 'predominantemente no Inverno, devido à água da chuva, vento e temporais'. Não quer dizer 'que não aconteçam no Verão, mas não são tão frequentes'.
O comportamento das pessoas é fundamental para evitar acidentes – 'o Algarve está cheio de placas a avisar para perigos. 'E se fosse um tsunami, quantos mortos haveria? As pessoas devem estudar sempre a melhor via de evacuação.'
'DESFECHO HÁ MUITO ESPERADO'
A Almargem diz que a derrocada 'constitui um desfecho negro para uma situação que infelizmente há muito se esperava'. Para os ambientalistas 'as arribas areníticas apresentam-se frequentemente muito instáveis face à erosão, mas, igualmente, por acção directa do Homem através da ocupação com construções pesadas'. No caso da praia Maria Luísa, 'as arribas estão ocupadas quase até à zona da crista'.
APOIO PSICOLÓGICO PARA FAMILIARES
O INEM montou no local um hospital de campanha para efectuar os primeiros tratamentos. Antes de os jornalistas terem acesso à praia, os familiares das vítimas que ficaram soterradas e algumas testemunhas foram levados para um hotel de Albufeira, onde ficaram refugiados da pressão mediática e onde lhes foi prestado apoio psicológico.
'TERRA DE OBRA ILEGAL FEZ PESO' (José Matos e Silva, Engenheiro Civil e Prof. Universitário)
Correio da Manhã – Enquanto conhecedor da zona, onde tem casa, na sua opinião o que pode ter originado o desabamento?
José Matos e Silva – O facto de terem depositado no cimo daquela falésia toda a terra proveniente de uma escavação para a construção de uma cave ilegal numa casa. Além de outros factores, o peso que ali foi colocado pode ter tido a sua influência.
– A escavação era ilegal?
– Era à revelia da Câmara. Tanto que depois a obra foi embargada – há ano e meio. A casa era de um presidente checo e, quando este vendeu e saiu de Portugal, quem comprou decidiu fazer uma escavação para construir a cave. Até à paragem da obra, a terra retirada foi posta precisamente no cimo da falésia que desabou.
PRESIDENTE NO LOCAL UMA HORA DEPOIS DA TRAGÉDIA
A passar férias no Algarve, o Presidente da República foi ontem o primeiro responsável político a chegar ao local da tragédia, pelas 13h15 – pouco mais de uma hora depois da derrocada. Cavaco Silva manifestou a sua enorme preocupação com o sucedido na praia Maria Luísa e inteirou-se da forma como os meios no terreno foram accionados e de todo o desenrolar das operações.
Quanto ao primeiro-ministro, que ontem tinha compromissos no Algarve, chegou pelas 16h45, com o ministro do Ambiente, Nunes Correia. O responsável pela Administração Interna, Rui Pereira, chegaria momentos depois. José Sócrates, que elogiou a actuação dos meios de socorro, revelou estar 'consternado e muito impressionado' com a tragédia vivida numa praia que, conforme recordou, costuma 'visitar', uma vez que passa férias 'ali próximo'.
O governante, que em seguida se deslocou ao Centro de Saúde de Albufeira e ao Hospital de Faro, a fim de manifestar a sua solidariedade para com os familiares das vítimas, referiu que o risco de aluimento de falésias é 'uma ameaça vigiada pela Administração Hidrográfica da Região do Algarve, que fiscaliza permanentemente as zonas e as sinaliza'. No caso concreto, sublinhou, tratava-se de uma arriba 'que não era considerada como estando em perigo iminente, mas algo aconteceu'.
Desidério Silva, presidente da Câmara de Albufeira, que se encontrara com Cavaco Silva à entrada da praia, mostrou-se desolado. 'Não é fácil gerir isto', admitiu, adiantando ser importante que 'as entidades com responsabilidade no sector se articulem para evitar mais situações destas. E as autarquias não devem servir só para recolher o lixo' das praias, disse.
Nuno Aires, presidente da Região de Turismo no Algarve, lamentou a tragédia, mas escusou-se a analisar possíveis impactos no turismo, num momento em que havia operações de socorro a decorrer, limitando-se a considerar que 'acidentes acontecem em todos os destinos turísticos'. Silva Gomes, governador civil de Faro, esclareceu que a zona 'estava sinalizada como sendo perigosa', tendo alertado para a necessidade de 'se respeitar os avisos'. Posição igual manifestou o secretário de Estado da Protecção Civil, José Manuel Medeiros: 'O primeiro elemento de segurança somos nós próprios.'
PRAIA FREQUENTADA POR CARAS CONHECIDAS
Luís Figo é uma das figuras públicas que costumam frequentar a praia Maria Luísa. Todos os Verões o futebolista, que tem uma casa na zona, aluga um toldo onde costuma ficar com a mulher e os filhos.
Mas Figo não é a única cara conhecida que costuma ser vista pelo areal da María Luísa. O ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, é outra personalidade que gosta da praia e o próprio primeiro-ministro, José Sócrates, admitiu ontem, nas declarações após o acidente, que costuma ir à praia, quando está de férias no Algarve. Continuando pelos famosos que frequentam a Maria Luísa, Karen Matzenbacher e Filipe Gaidão já lá foram vistos este ano, tal como Luís Represas.
As casas colocadas na falésia também têm proprietários conhecidos. O ex-primeiro-ministro da República Checa, Vaclav Havel, já lá teve uma moradia, tal como Luís Figo – que também tem uma propriedade naquela zona. Finalmente, existe um rumor sobre uma moradia que será propriedade de um ex-piloto de Fórmula 1. Mas o seu nome está envolto em segredo.
O CASO LÁ FORA
‘BBC NEWS’
O site do canal de televisão britânico BBC destaca a tragédia em Albufeira com o título 'Derrocada mortífera em praia de Portugal'. Refere 'a morte de pelo menos duas pessoas e ferimentos noutras duas'.
‘ABC’
O jornal espanhol on-line dá o título 'Resgatam com vida um espanhol após uma derrocada numa praia do Sul de Portugal'. A foto mostra a equipa de salvamento.
‘LE PARISEIN’
O site do jornal francês dá uma notícia intitulada 'Uma falésia desaba sobre uma praia em Portugal: um morto'. Refere ainda que 'a praia, perto de Albufeira, é muito frequentada'.
ALERTA COM DOIS ANOS
Desde 2007 que os concessionários da praia Maria Luísa, em Albufeira, alertavam as autoridades para o perigo de desabamento da rocha, de cerca de 15 metros, segundo o ‘Expresso’. 'Há dois anos veio uma máquina para tentar remover a rocha, mas sem sucesso', diz um responsável. Estranhamente, o primeiro-ministro afirmou que 'a situação não tinha sido detectada como perigo iminente'.
“Falésia caiu e engoliu as pessoas” (COM VÍDEOS)
"Um estrondo enorme, muito pó e, num ápice, parte da falésia caiu. Numa fracção de segundo, várias pessoas no areal, com crianças, ficaram soterradas. Foram engolidas", recorda ao CM Carlos Pereira, testemunha da tragédia que, ontem, pelas 11h55, matou um homem e quatro mulheres, três dos quais da mesma família e todos do Norte do País, na praia Maria Luísa, em Albufeira. Há ainda três feridos, um deles grave. As autoridades garantiram, ontem à noite, que já não há desaparecidos.
Perderam a vida António, Rita e Mariana Mota Fonseca, uma família de Ramal, Porto, com respectivamente 51, 33 e 23 anos, além de uma outra mulher que não foi possível identificar até à hora de fecho desta edição e Maria Emília Freitas Ribeiro Dias, 37 anos, emigrante em França, de férias no Algarve há um dia, com o marido e uma filha de 15 anos. Esta vítima é natural de Gouveia, em Marco de Canaveses.
'Gerou-se o pânico entre os banhistas que enchiam a praia, mas tive o sangue-frio de ligar para o 112', conta o banhista Carlos Pereira, de Lisboa. 'Uns gritavam, outros procuravam ajudar, o que eu também tentei fazer', ajudando a retirar alguns dos soterrados 'apenas escavando com as mãos'.
'Pusemos a salvo duas senhoras, queixosas dos membros', e dez minutos depois chegaram os primeiros-socorros. 'Assistimos um homem [António Mota Fonseca] em paragem cardiorrespiratória, conseguindo reverter a situação inicialmente. Mas, quando estava a ser transportado para o hospital, ainda na praia, teve nova paragem, vindo a falecer', explicou ao CM Richard Glied, responsável do INEM, que confirmou a assistência a três feridos graves – duas mulheres e um homem, 'com queixas nos membros superiores e inferiores'.
O homem ferido esteve uma hora soterrado, tendo sido retirado com a ajuda de uma retroescavadora, com um pé muito ferido. 'Um milagre apesar de tudo', diz Carlos Pereira, que garante estarem no local, à hora da tragédia, dezenas de pessoas, 'muitas crianças a jogar à bola'.
A subida da maré dificultou o socorro. Só ao fim da tarde foi possível retirar os três corpos soterrados. Por razões de segurança, uma máquina realizou 'um desmoronamento controlado', explicou Marques Pereira, capitão do porto de Albufeira: 'A parte da falésia que não caiu estava em risco.' E lembrou o facto de haver 'sinalética indicativa do risco no local'. Marques Pereira minorou a possibilidade do recente sismo na região e a passagem de um avião na altura do acidente terem sido responsáveis pela tragédia. 'O mar causou, nos dois últimos anos, depressão no local e alguma falência desta zona.'
'PEDI AO MEU MARIDO PARA NÃO FICAR DEBAIXO DA FALÉSIA'
Ana Paula olhava emocionada para as manobras de socorro envolvidas no resgate dos corpos soterrados.
'Podia ser eu e a minha família a estarmos ali', confidenciou ao CM, ainda mal recomposta do susto sofrido.
'Cheguei à praia com a família muito cedo e o meu marido queria colocar a toalha por debaixo da falésia', conta esta veraneante da Covilhã, que não sabe explicar porque recusou. 'Preferi outro local e foi a nossa sorte', garante.
Ana Paula ouviu 'um enorme estrondo' e a falésia a cair em cima das pessoas, precisamente no local onde o marido queria ficar e onde, momentos antes, passara com uma filha. 'Nascemos hoje outra vez', confidencia.
BANHISTA FICOU COM PERNA FRACTURADA E FOI OPERADO
Um homem com 24 anos foi o ferido mais grave na derrocada da falésia na praia Maria Luísa. Com fracturas muito graves numa perna, o sinistrado foi conduzido ao Hospital de Faro, onde, ontem à tarde, foi submetido a uma intervenção cirúrgica. Não corria perigo de vida, mas inspirava cuidados, explicou o director regional do INEM, Richard Glieg.
Uma jovem de 16 anos foi igualmente atingida e, depois de ter sido assistida no local, acabaria por ser também encaminhada para o Hospital de Faro, com uma fractura num braço. Mais sorte teve outra vítima, de 30 anos, que apenas sofreu um pequeno ferimento num pé e foi também tratada no local.
IDENTIFICADAS 32 ZONAS DE RISCO
'Estão identificadas 32 zonas de risco nas falésias nacionais, mas a que ontem desabou, integrada na área do Plano de Ordenamento da Orla Costeira Burgau-Vilamoura, não foi considerada como estando em perigo iminente', esclareceu o presidente do Instituto da Água, Orlando Borges. A responsável da Administração Hidrográfica da Região do Algarve frisou que o troço da costa em causa tinha sido inspeccionado 'na semana passada'. Valentina Calixto apontou como uma das possíveis causas da derrocada o sismo de segunda-feira.
APONTAMENTOS
CARVOEIRO
Há seis anos ocorreu uma derrocada na arriba nascente da praia do Carvoeiro, no concelho de Lagoa. Não provocou vítimas, provavelmente por ter acontecido durante o Inverno.
VALE DO LOBO
No empreendimento de luxo de Vale do Lobo, no concelho de Loulé, no início da década, parte de duas moradias colocadas próximo da arriba ruiu. As casas foram depois demolidas.
LAGOS
Na praia D. Ana, em Lagos, para prevenir o risco de pessoas serem atingidas por derrocadas, foram colocadas baías de protecção junto à falésia. Estas são, no entanto, regularmente destruídas por populares que, apesar do perigo, querem ir para o local.
CAVALO PRETO
Durante o Verão, dezenas de autocaravanas estão regularmente estacionadas no topo da falésia da praia do Cavalo Preto, em Quarteira (Loulé).
COSTA ALGARVIA ESTÁ EM RISCO
Regista-se em média doze desmoronamentos nas arribas do Algarve Central por ano, segundo dados da Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARHA). E o excesso de construção junto à costa – no caso em concreto da praia Maria Luísa há moradias com piscinas a escassas dezenas de metros do limite das falésias – aumenta os riscos de derrocadas, diz ao CM João Alveirinho Dias, tido como um dos maiores especialistas portugueses em erosão costeira.
Os doze desmoronamentos anuais verificam-se nos principais concelhos turísticos algarvios, incluindo Albufeira – os dados foram publicados no boletim de Maio/Junho da ARHA. João Alveirinho Dias, investigador da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade do Algarve, diz ao CM que a construção nas proximidades da costa, o tráfego automóvel e o sismo ocorrido dia 18 no Algarve podem ter contribuído para a tragédia na praia Maria Luísa, mas salientou que 'é impossível estabelecer uma relação de causalidade'.
Segundo o especialista, 'todos os litorais de arriba são zonas de risco', embora haja factores que possam acentuar ainda mais esses riscos. A edificação junto à costa é um deles, dado que provoca 'um aumento de carga nas arribas e transmite vibrações ao solo na fase de construção'. Outro factor é 'o aumento de tráfego rodoviário'.
Alveirinho Dias realçou a importância de ser estabelecida uma faixa ‘non edificandis’ (onde não seja permitida a construção) junto às arribas, de forma 'a preservar o património natural'. Mas existem zonas do Algarve que 'estão de tal modo ocupadas que a parte natural perdeu-se'. O investigador confessa não ter ficado muito surpreendido com a derrocada da arriba em Albufeira, porquanto 'as arribas são formas de erosão'.
Mas explicou que os desprendimentos acontecem 'predominantemente no Inverno, devido à água da chuva, vento e temporais'. Não quer dizer 'que não aconteçam no Verão, mas não são tão frequentes'.
O comportamento das pessoas é fundamental para evitar acidentes – 'o Algarve está cheio de placas a avisar para perigos. 'E se fosse um tsunami, quantos mortos haveria? As pessoas devem estudar sempre a melhor via de evacuação.'
'DESFECHO HÁ MUITO ESPERADO'
A Almargem diz que a derrocada 'constitui um desfecho negro para uma situação que infelizmente há muito se esperava'. Para os ambientalistas 'as arribas areníticas apresentam-se frequentemente muito instáveis face à erosão, mas, igualmente, por acção directa do Homem através da ocupação com construções pesadas'. No caso da praia Maria Luísa, 'as arribas estão ocupadas quase até à zona da crista'.
APOIO PSICOLÓGICO PARA FAMILIARES
O INEM montou no local um hospital de campanha para efectuar os primeiros tratamentos. Antes de os jornalistas terem acesso à praia, os familiares das vítimas que ficaram soterradas e algumas testemunhas foram levados para um hotel de Albufeira, onde ficaram refugiados da pressão mediática e onde lhes foi prestado apoio psicológico.
'TERRA DE OBRA ILEGAL FEZ PESO' (José Matos e Silva, Engenheiro Civil e Prof. Universitário)
Correio da Manhã – Enquanto conhecedor da zona, onde tem casa, na sua opinião o que pode ter originado o desabamento?
José Matos e Silva – O facto de terem depositado no cimo daquela falésia toda a terra proveniente de uma escavação para a construção de uma cave ilegal numa casa. Além de outros factores, o peso que ali foi colocado pode ter tido a sua influência.
– A escavação era ilegal?
– Era à revelia da Câmara. Tanto que depois a obra foi embargada – há ano e meio. A casa era de um presidente checo e, quando este vendeu e saiu de Portugal, quem comprou decidiu fazer uma escavação para construir a cave. Até à paragem da obra, a terra retirada foi posta precisamente no cimo da falésia que desabou.
PRESIDENTE NO LOCAL UMA HORA DEPOIS DA TRAGÉDIA
A passar férias no Algarve, o Presidente da República foi ontem o primeiro responsável político a chegar ao local da tragédia, pelas 13h15 – pouco mais de uma hora depois da derrocada. Cavaco Silva manifestou a sua enorme preocupação com o sucedido na praia Maria Luísa e inteirou-se da forma como os meios no terreno foram accionados e de todo o desenrolar das operações.
Quanto ao primeiro-ministro, que ontem tinha compromissos no Algarve, chegou pelas 16h45, com o ministro do Ambiente, Nunes Correia. O responsável pela Administração Interna, Rui Pereira, chegaria momentos depois. José Sócrates, que elogiou a actuação dos meios de socorro, revelou estar 'consternado e muito impressionado' com a tragédia vivida numa praia que, conforme recordou, costuma 'visitar', uma vez que passa férias 'ali próximo'.
O governante, que em seguida se deslocou ao Centro de Saúde de Albufeira e ao Hospital de Faro, a fim de manifestar a sua solidariedade para com os familiares das vítimas, referiu que o risco de aluimento de falésias é 'uma ameaça vigiada pela Administração Hidrográfica da Região do Algarve, que fiscaliza permanentemente as zonas e as sinaliza'. No caso concreto, sublinhou, tratava-se de uma arriba 'que não era considerada como estando em perigo iminente, mas algo aconteceu'.
Desidério Silva, presidente da Câmara de Albufeira, que se encontrara com Cavaco Silva à entrada da praia, mostrou-se desolado. 'Não é fácil gerir isto', admitiu, adiantando ser importante que 'as entidades com responsabilidade no sector se articulem para evitar mais situações destas. E as autarquias não devem servir só para recolher o lixo' das praias, disse.
Nuno Aires, presidente da Região de Turismo no Algarve, lamentou a tragédia, mas escusou-se a analisar possíveis impactos no turismo, num momento em que havia operações de socorro a decorrer, limitando-se a considerar que 'acidentes acontecem em todos os destinos turísticos'. Silva Gomes, governador civil de Faro, esclareceu que a zona 'estava sinalizada como sendo perigosa', tendo alertado para a necessidade de 'se respeitar os avisos'. Posição igual manifestou o secretário de Estado da Protecção Civil, José Manuel Medeiros: 'O primeiro elemento de segurança somos nós próprios.'
PRAIA FREQUENTADA POR CARAS CONHECIDAS
Luís Figo é uma das figuras públicas que costumam frequentar a praia Maria Luísa. Todos os Verões o futebolista, que tem uma casa na zona, aluga um toldo onde costuma ficar com a mulher e os filhos.
Mas Figo não é a única cara conhecida que costuma ser vista pelo areal da María Luísa. O ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, é outra personalidade que gosta da praia e o próprio primeiro-ministro, José Sócrates, admitiu ontem, nas declarações após o acidente, que costuma ir à praia, quando está de férias no Algarve. Continuando pelos famosos que frequentam a Maria Luísa, Karen Matzenbacher e Filipe Gaidão já lá foram vistos este ano, tal como Luís Represas.
As casas colocadas na falésia também têm proprietários conhecidos. O ex-primeiro-ministro da República Checa, Vaclav Havel, já lá teve uma moradia, tal como Luís Figo – que também tem uma propriedade naquela zona. Finalmente, existe um rumor sobre uma moradia que será propriedade de um ex-piloto de Fórmula 1. Mas o seu nome está envolto em segredo.
O CASO LÁ FORA
‘BBC NEWS’
O site do canal de televisão britânico BBC destaca a tragédia em Albufeira com o título 'Derrocada mortífera em praia de Portugal'. Refere 'a morte de pelo menos duas pessoas e ferimentos noutras duas'.
‘ABC’
O jornal espanhol on-line dá o título 'Resgatam com vida um espanhol após uma derrocada numa praia do Sul de Portugal'. A foto mostra a equipa de salvamento.
‘LE PARISEIN’
O site do jornal francês dá uma notícia intitulada 'Uma falésia desaba sobre uma praia em Portugal: um morto'. Refere ainda que 'a praia, perto de Albufeira, é muito frequentada'.
(...)
ALERTA COM DOIS ANOS
Desde 2007 que os concessionários da praia Maria Luísa, em Albufeira, alertavam as autoridades para o perigo de desabamento da rocha, de cerca de 15 metros, segundo o ‘Expresso’. 'Há dois anos veio uma máquina para tentar remover a rocha, mas sem sucesso', diz um responsável. Estranhamente, o primeiro-ministro afirmou que 'a situação não tinha sido detectada como perigo iminente'.
VÍDEOS (Imagens de vídeo-amadores transmitidas pela RTP)
1 comentário:
Tantos geólogos agora a serem interrogados sobre o que aconteceu.
Quanto trabalho de geólogos, desde relatórios sobre perigos geológicos a alertas públicos, foram respectivamente arrumados em serviços oficiais ou ignorados pelas populações que tiveram acesso aos mesmo antes das coisas acontecerem?
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