quinta-feira, fevereiro 19, 2009

António Gedeão/Rómulo de Carvalho - 12 anos

Fala do Homem Nascido - Adriano Correia de Oliveira



Fala do Homem nascido

Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca para comer
e olhos para desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar


NOTA: faz hoje 12 anos que António Gedeão/Rómulo de Carvalho morreu. Será que alguma vez poderemos dizer que de facto morreu se o continuarmos a recordar, a cantar e a ler...?!?

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