Biografia
Filho de José António da Motta e de sua mulher Inês de Almeida Vianna, estudou no
Conservatório de Lisboa, sendo os seus estudos patrocinados pelo rei
D. Fernando II e a sua esposa, a
Condessa de Edla. Em 1882 parte para
Berlim onde, custeado pelo real mecenas, continua durante três anos os estudos de piano e composição.
Em 1885 parte para
Weimar onde é aluno de
Franz Liszt, que mais tarde lhe oferece uma fotografia com a dedicatória: "
A José Vianna da Motta, saudando os seus futuros sucessos. Fr. Liszt".
Entre as suas composições mais conhecidas está a Sinfonia "À Pátria" e
as obras "Evocação dos Lusíadas" e "Cenas da Montanha", entre outras.
Casou primeira vez com Margarethe Marie Lemke (
Karlsruhe,
Heidelberg, 31 de março de 1858 - ?), filha de Juliua Lemke e de sua mulher Agnes Eckhardt, sem geração, casou segunda vez com
Berta de Bívar, e casou uma terceira vez, com Irma Harden, sem geração.
Faleceu em 1948, em Lisboa, tendo vivido os últimos anos da sua vida
na residência de sua filha Inês de Bivar Vianna da Motta e do seu
genro, o psiquiatra
Henrique João de Barahona Fernandes. A sua outra filha, Leonor Micaela de Bivar Vianna da Motta, nascida em
Buenos Aires, casou com João Apolinário Sampaio Brandão, com geração.
José Vianna da Motta desde cedo revelou a sua grande proficiência para a música e particularmente para o
piano.
Com 14 anos de idade concluiu os estudos no Conservatório Nacional. No mesmo ano (1882), partiu para
Berlim, com os seus estudos financiados pelo Rei consorte,
D. Fernando II, e pela sua esposa, a
Condessa de Edla, que nele apostaram depois de o ouvir tocar. Em
Berlim estudou com
Xaver Scharwenka
(piano) e com Philipp Scharwenka (composição). A sua primeira
apresentação, no mesmo local, data de 1885 e foi um inegável êxito. Na
mesma cidade, teve também aulas com Carl Schaeffer, membro da
Sociedade Wagneriana. Em 1884 já Viana da Motta descobrira o encanto de
Wagner, em
Bayreuth. Tornou-se então membro da mesma Sociedade, e foi fiel a Wagner até ao fim da sua vida.
Em 1885, devido ao desejo de trabalhar com
Liszt, parte para
Weimar e foi um dos seus últimos alunos.
Dois anos depois, em
Frankfurt, trabalhou com Hans Von Bullow, que o considerou um dos mais brilhantes discípulos de Liszt.
Fixou residência em Berlim e apresentou-se em várias cidades alemãs.
Rússia,
Paris,
Estados Unidos,
Inglaterra,
Espanha,
Itália,
Dinamarca,
Brasil,
Argentina, foram países que presenciaram as suas atuações. Em 1893, no mês de abril, fez a sua primeira grande digressão em
Portugal.
O público e a crítica sempre o aplaudiram e distinguiram a sua
técnica, clareza, expressão, o rigor das suas interpretações dos
mestres clássicos.
Foi considerado um brilhante intérprete de
Liszt,
Bach e
Beethoven. A ele devemos a primeira apresentação da audição integral das 32 Sonatas para piano de
Beethoven.
Anos antes de regressar definitivamente a Portugal, ao eclodir a
1ª Guerra Mundial, Vianna da Motta fixa-se em
Genebra. Nesta cidade foi professor na Escola Superior de Música de Genebra.
Já em Portugal, manteve a sua atividade como pianista até 1945 a par com a sua ação pedagógica.
Importância
Dada a versatilidade e a profundidade da sua cultura, Vianna da Motta
personificou em alto grau o ideal de "músico completo" que
Liszt
preconizou na sua diretriz pedagógica. Assim se explicará também a
razão dos diversos campos da sua atividade: pianista, pedagogo,
compositor, musicógrafo, conferencista e regente de orquestra; tendo
sido predestinado, no entanto, para ser um virtuoso de piano, ele
destacou-se no quadro dos renomeados pianistas da sua época (foi amigo e
colaborador de
Ferruccio Busoni, entre muitos outros). Em 1885 frequentou, em
Weimar, o último curso de verão dado por
Liszt, do qual recebeu por escrito os melhores votos para a sua grande carreira, e foi o aluno dilecto de
Hans von Bülow nos cursos de
Frankfurt a. M. em
1887.
José Vianna da Motta tocou por toda a Europa, Américas do Norte e do
Sul, perante presidentes, Reis e Imperadores, recebeu altas
condecorações e na Alemanha foi-lhe concedido o título de
Hofpianist (pianista da Corte) por
Carlos Eduardo de Saxe-Coburgo-Gota.
Conquanto Vianna da Motta tenha ficado sempre bem português e tenha
marcado por todo o mundo a presença de Portugal, já através de si
próprio, já através das suas composições e de outros compositores
portugueses, como por exemplo de
João Domingos Bomtempo,
ele foi um afincado divulgador da cultura alemã e incorpora o
fenómeno mais flagrante de simbiose das duas culturas ou seja: ele
representa a ponte por excelência da cultura luso-alemã (especialmente
na sua considerável obras de
Lieder, em que musicou diversos poetas alemães!). Houve quem lhe chamasse "o português mais patriota e o alemão missionário".
Obrigado, pela
Primeira Guerra Mundial, a abandonar a sua residência de
Berlim em
1914, aceitou finalmente o convite para a regência da classe de virtuosismo de piano do
Conservatório de Genebra, em
1915. Em
1917 regressou definitivamente a
Lisboa, fundou a
Sociedade de Concertos e realizou o seu objetivo de proceder à reforma do
Conservatório Nacional de Lisboa, assumindo o cargo de diretor desta instituição de
1919 a
1938.
A sua orientação pedagógica operou uma completa viragem no nível
técnico/artístico e na intelectualidade do meio musical lisbonense. Fez
inúmeras primeiras audições de obras há muito consagradas, como a
integral das 32 sonatas de
Beethoven, no centenário da sua morte, em
1927 (cuja receita reverteu a favor dos alunos pobres do Conservatório, tendo instituído o
prémio Beethoven) e, também, de compositores seus contemporâneos.
Como compositor, cuja atividade se confinou ao período da sua vida
com residência em Berlim, José Vianna da Motta foi importante para a
História da Música em Portugal no âmbito da "música de concerto", por
lhe caber o mérito da primeira procura e criação consciente de
"música culta" de carácter nacional. São disso testemunho a sua obra
mais relevante a Sinfonia "À Pátria" (que apresenta também a inovação
entre nós do conceito lisztiano de música programática e em
que, ao que parece, um compositor português usa pela primeira vez
numa sinfonia, temas genuínos do folclore do nosso país), as suas
composições pianísticas, as suas canções para canto e piano.
Sem dúvida, das personagens mais versáteis do mundo da música portuguesa na primeira metade do
século XX.
Exemplar na sua capacidade de trabalho e perseverança, no domínio
absoluto da técnica pianística, no equilíbrio da forma e do conteúdo.
Intérprete excecional, notável pedagogo, admirável compositor…mas
terá recebido sempre o valor que merece?
Como tantos outros artistas portugueses dos maiores, Vianna da Motta
foi uma vítima da incompreensão, da maldade e da pequenez de um meio
com o qual a sua invulgar estatura não podia ter medida comum.
Negaram-lhe o talento, disputaram-lhe a glória, moveram-lhe campanhas
ultrajantes, dificultaram-lhe a vida, regatearam misérias nos seus
modestos cachets de concertista, esforçaram-se por fazer cair
sobre o seu nome e a sua obra a pedra vil do esquecimento,
deixaram-no morrer num isolamento e numa solidão terríveis, e mesmo
depois de morto se procurou evitar que a sua vera fisionomia de artista e de intelectual pudesse ser revelada em toda a sua luz.
Fernando Lopes Graça, 1949, in In Memoriam de Viana da Motta