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sábado, julho 31, 2010

A falha geológica do Alqueva


LI HÁ DIAS que a barragem de Alqueva estava cheia até mais não. Sempre me interessei por este empreendimento e, nessa medida, acompanhei, com toda a atenção, a polémica em torno da existência de uma falha geológica mesmo sob o paredão da represa. Na opinião de muito boa gente, esta obra imensa representa o mais recente e talvez o mais grandioso e esperançoso abraço entre o Alentejo e o grande rio. Esperemos que os inconfessáveis interesses de alguns não estraguem as esperanças dos que aqui vivem e dos que, por todo o Portugal, esperam que este empreendimento contribua para levantar a economia do País.

Segundo um estudo encomendado, em 1996, pela Empresa de Desenvolvimento da Infra-Estrutura de Alqueva (EDIA) e levado a efeito por investigadores do Instituto de Ciência Aplicada e Tecnologia, de Évora, a barragem do Alqueva assenta numa falha sísmica com indícios de actividade, correndo o risco de ser destruída se ocorrer um sismo de magnitude máxima, de 6,1 na escala de Richter, prevista para esta falha. O estudo admite, ainda, que, na ocorrência de um abalo desta magnitude, a rotura à superfície do terreno originaria um deslocamento na ordem dos 20 a 30 centímetros, ao longo de sete quilómetros de extensão, o que seria suficiente para destruir a barragem.

Reagindo à divulgação deste estudo, a EDIA insistia na segurança da barragem, reafirmando que a referida falha não tem actividade sísmica, no que era corroborada por outros dois estudos elaborados na mesma altura, um pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil e outro por Lloyd Cluff, investigador norte-americano da Universidade da Califórnia. Nestes termos, a EDIA decidiu manter a construção da barragem no local para onde fora projectada. Como resposta a esta decisão, o Prof. Alexandre Araújo, da Universidade de Évora, defendia que a prudência aconselhava a deslocação da barragem, entre 100 a 200 metros para jusante do local onde estava e acabou por ser construída. Tal deslocação não aconteceu porque, na altura, as obras já tinham sido iniciadas. Segundo este investigador a referida deslocação seria suficiente porque, assim, a falha não passaria debaixo do respectivo paredão. Perante a eventualidade de um sismo da referida magnitude, a estrutura poderia abanar, mas não seria destruída. Alexandre Araújo lembrou, ainda, que o facto de se criar ali uma grande albufeira, esta poderá desencadear um efeito catalizador, uma vez que o peso da coluna de água irá aumentar a pressão sobre o terreno, e que a presença de tanta água poderá lubrificar as fracturas, provocando aquilo a que se dá o nome de sismicidade induzida.

Ao que indicam os estudos realizados, o intervalo de recorrência entre dois sismos máximos desencadeados por esta falha parece ser muito largo, na ordem dos 10 mil anos, mas a realidade é que se desconhece quando ocorreu o último abalo. O próximo, argumentava-se na altura, tanto pode ser amanhã, como daqui a mil anos.

A falha geológica do Alqueva foi descoberta na década de 70, no decorrer de um estudo geológico efectuado aquando do projecto inicial da barragem. Mas, ao que parece, não mereceu qualquer atenção por parte de quem tinha capacidade para decidir. Como resultado, houve uma significativa derrapagem nos custos da construção deste empreendimento - falava-se em 3 000 000 de contos, 15 000 000 de euros, na moeda actual - uma vez que foi necessário consolidar a referida falha com muito mais trabalho e muitos milhares de metros cúbicos de betão.

in Sopas de Pedra - post de A. M. Galopim de Carvalho

NOTA: publicamos este post nesta data apenas para recordar que existe um excelente blog de Geologia, do Doutor Galopim de Carvalho, que merece mais visitas - é o Sopas de Pedra...

terça-feira, outubro 07, 2008

Na rota dos miradouros na região Penacova-Buçaco


Foi este o título que o meu amigo Doutor António Saraiva, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, deu à ultima Geologia no Verão em que participei este ano, no dia 14 de Setembro de 2008. Como todas as outras, a procura excedeu em muito os lugares disponíveis, mas como me tinha inscrito ainda em Julho tive lugar assegurado (mais mulher e filho...). Foi excelente a todos os níveis: a companhia, as explicações, os locais observados, os miradouros, o local de almoço e os aspectos geológicos...!

Foi uma alegria para mim voltar aos Moinhos de Gavinhos, a Penacova, à Serra da Atalhada (locais a que já não ia há mais de 20 anos...) e conhecer finalmente (desta vez só por fora...) a barragem da Aguieira. Mas, acima de tudo, é sempre bom conviver com malta de Geologia (sobretudo encontrar um ex-funcionário do Departamento ainda tão interessado nestas coisas...) e ver como estas actividades são alvo de intensa procura - há que dar os parabéns à Ciência Viva, aos Doutores das Geologias da Universidade de Coimbra e ao organizador - o Doutor Saraiva está a ficar perito nisto de divulgar o nosso património geológico...

Antes de colocar as fotos, ficou alinhavada uma proposta de Geologia no Verão, no próximo ano, em Viana do Castelo - eu talvez arranje dormida para um pequeno grupo, o pessoal participante da zona (os autóctones...) e respectivo transporte para a coisa se fazer...!