Biografia
Nasceu e cresceu em
Lisboa, filho de pai
alemão e
espanhol, Hermann Luis Krippahl (nascido 31 de julho em 1920), e de mãe
portuguesa,
Maria Odette Antunes Valada (nascida em 15 de novembro 1932). Com
quatro anos de idade protagonizava os filmes do pai, cineasta amador.
Aos cinco anos entrou para o
Kindergarten (Jardim Infantil), na
Deutsche Schule Lissabon (
Escola Alemã de Lisboa).
Era um aluno mediano, mas brilhante em todas as vertentes artísticas. À
medida que foi tendo os primeiros contactos com o teatro e a música,
foi-se desenhando o seu futuro, já que era o protagonista absoluto de
todos os saraus escolares. Ainda estudava quando comprou a sua primeira
viola-baixo
Höfner em segunda mão numa loja de penhores da
Avenida de Roma por mil escudos. Dedicou-se à música de alma e coração, e
foi através dela que abriu as portas que haviam de o levar à vida
artística.
Década de 70
Por volta dos dezoito anos de idade tem as primeiras aparições na
televisão num programa juvenil com um trio de seu nome "Soft", e em
finais de 1973 é convidado a integrar o grupo
In-Clave, banda residente do
programa de televisão No Tempo Em Que Você Nasceu (estreado a 27 de janeiro de 1974), gravado no Teatro Maria Matos, e dirigida pelo maestro
Pedro Osório. Um ano antes, a
PIDE
fizera-lhe um ultimato: ou se naturalizava português e cumpria o
serviço militar, ou a escolher a cidadania alemã seria expulso do País.
Herman José opta pela nacionalidade alemã e inscreve-se num curso
superior, em
Munique, na Escola Superior de Televisão e Cinema (
Hochschule für Film und Bild) que nunca chegou a frequentar.
Com o
25 de Abril de 1974, acaba por permanecer em
Portugal e, em outubro desse ano, estreia-se como actor no
Teatro ABC, com a peça
Uma no Cravo, Outra na Ditadura. Empresariada por
Sérgio de Azevedo, a peça era escrita por
José Carlos Ary dos Santos, César de Oliveira e Rogério Bracinha, e integrava no seu elenco actores como
Ivone Silva,
José de Castro e
João Lagarto, que dava os seus primeiros passos no teatro. Descoberto por
Nicolau Breyner, é levado por este a estrear-se como actor na televisão, em
1975. As suas participações na rábula
Sr. Feliz e Sr. Contente levam os críticos a dizer, pouco depois, que Herman «metera o veterano ao bolso».
A música mantém-se uma constante na sua vida, e em
1977 lança
Saca o Saca-Rolhas
no programa televisivo 'A Feira', cujas vendas alcançam o Disco de
Ouro. Desse programa foi também êxito a dupla "Olho Vivo e Zé d'Olhão"
ao lado do ator
Joel Branco.
Seguem-se outros êxitos musicais como o "Super-homem Português", a
reboque dos quais percorre o país em espetáculos, onde mistura anedotas
com improviso, recriações de personagens suas e muita música.
Década de 80
Em
1980 lança o single
A Canção do Beijinho que é novamente Disco de Ouro. Nesse mesmo ano é convidado para o programa
O Passeio dos Alegres, emitido nas tardes de
Domingo da
RTP, com
Júlio Isidro. A mais famosa criação deste programa é o personagem
Tony Silva (
O "creador" de toda música Ró', latino-romântico de brilhantina e lantejoulas, que retratava a sociedade nas suas canções) conquista o grande público.
Em
1983 tem o seu primeiro programa de humor com
O Tal Canal que permite a unanimização à volta do seu humor, num dos seus mais profícuos trabalhos. No mesmo ano leva ao
Festival RTP da Canção o tema
A Cor do Teu Baton, que fica em 2º lugar. A sua equipa regressa em
Hermanias (
1984), consolidando algumas das suas personagens mais marcantes, como o cronista de futebol
José Estebes, e criando outras como o cantor popular
Serafim Saudade, o comentador
Doutor Pinóquio e o câmara e censor
José Cortes, que interrompia as cenas mais picantes com os gritos
O que é isto? Estamos a brincar, isto é um programa de televisão ou quê?.
No programa seguinte,
Humor de Perdição (
1987), cria a personagem
Maximiana, e é confrontado com a suspensão do mesmo por parte do Conselho de Administração da
RTP, na sequência da sua
entrevista histórica (uma rubrica do programa) à
Rainha Santa Isabel que o lado mais conservador do poder considerou como um
atentado aos valores históricos. Nesse mesmo ano estreia-se no cinema em
O Querido Lilás, de
Artur Semedo, e é recrutado pelo
Emídio Rangel, para fazer crónicas diárias na recém-legalizada TSF, com as quais obteve um êxito estrondoso.
Paralelamente à televisão, Herman desenvolveu na década de
1980 uma intensa actividade de humorista radiofónico, primeiro na
Rádio Comercial com os programas
A Flor Do Éter,
Rebéubéu Pardais ao Ninho e
Água Mole Em Pedra Dura Entra Muda E Sai Calada, depois na supracitada
TSF e, por fim, como autor da
Hermandifusão Portuguesa na
Antena 1, em duas edições diárias num simultâneo com a RDP Internacional, RDP África, Madeira e Açores.
Década de 90
Só regressa à televisão em
1990, com
Casino Royal, uma mistura de ficção de alta comédia com uma forte componente musical, integralmente de sua autoria. Ainda no início da
década de 1990 entrega-se à apresentação de concursos como
Com a Verdade M' Enganas e
Roda da Sorte, para, logo de seguida, apresentar
Parabéns (
1993), onde inaugura um espaço
talk-show, por onde passam figuras como
Tony Bennett,
Amália Rodrigues,
Roger Moore,
Cher,
Kylie Minogue,
Omar Shariff,
Joan Collins,
Isabel Pantoja e
Lola Flores.
Foi agraciado com o grau de Comendador da
Ordem do Mérito a 10 de junho de 1992.
Em
1996 chega ao fim o programa
Parabéns. Fica para a História um abaixo assinado a exigir a censura de um
sketch sobre a
Última Ceia,
que juntou perto de duzentas e cinquenta mil assinaturas. A direção de
programas (Joaquim Furtado e Joaquim Vieira) recusa-se a proibir a sua
emissão, assume a polémica e encomenda-lhe o programa de humor
Herman Enciclopédia (
1997), duas séries de imenso sucesso de um humor culto, inovador e
vernacular. Sobressaem novas personagens, como
Diácono Remédios,
Super Tia,
Engenheiro Passos de Ferreira,
Lauro Dérmio,
David Vaitembora ou
Melga e
Mike (este último interpretado por
José Pedro Gomes), satirizando a publicidade das
Televendas. Para
1998, altura em que
Lisboa recebeu a
Exposição Mundial (já caricaturada nas rábulas da
Expo '97, no
Porto), forma a sua própria produtora HZP (Herman Zap Produções), e lança
Herman98 gravado no Teatro São Luiz e depois
Herman99 gravado no Teatro Armando Cortez em Lisboa, e no Teatro Rivoli no Porto. É numa dessas emissões que lança a cantora
Diana Krall
no mercado europeu - feito que a própria nunca deixou de mencionar e
agradecer publicamente - e recebe muitos convidados ilustres, como o
Prémio Nobel da Paz, o timorense
Ramos Horta.
Década de 2000 e saída da RTP
Em
2000, Herman José chega à
SIC, apresentando aos Domingos, o
talk-show HermanSIC.
O programa de estreia teve 76% de share - feito irrepetível nos dias
de hoje - e contava com uma equipa de actores constituída por
Maria Rueff,
Joaquim Monchique,
Ana Bola,
Maria Vieira,
Manuel Marques,
Vítor de Sousa e, durante algum tempo,
Nuno Lopes.
Poe ele passaram um conjunto imenso de vedetas internacionais, como
Anastasia,
Sting,
Julio Iglesias,
Enrique Iglesias,
Lionel Ritchie,
Ute Lemper,
Gloria Estefan,
No Doubt,
Shania Twain,
Djavan,
Mark Knopfler,
Jamie Cullum,
Norah Jones,
David Copperfield,
Tom Jones e muitos outros. É nesse programa que a fadista
Mariza, convidada assídua do programa e amiga pessoal do humorista, ganha grande visibilidade.
Herman José torna-se entretanto proprietário do
Teatro Tivoli, situado na
Avenida da Liberdade (
Lisboa), em
2005, que vende seis anos mais tarde à empresa de espetáculos UAU. É nele que grava o seu espetáculo ao vivo
One Herman Show em DVD, acompanhado pela Big Band do seu fiel maestro Pedro Duarte.
Em
2007 estreia
Hora H, 44 episódios de ficção humorística, onde cria personagens como a
Chica Pardoca,
Yuri Tupolev,
Américo Russo e o editor-chefe decadente e tabagista
Raposinho Pinto. Apesar das fracas audiências na SIC generalista, o programa torna-se, aquando da sua repetição na SIC Radical pela mão de
Pedro Boucherie Mendes, numa série de culto, a ponto de ser nomeada como Melhor Programa de Humor, no Festival de Televisão de
Monte Carlo. Nesse programa, juntou à sua família artística o comediante
César Mourão e a atriz
Susana Cacela.
Em maio de
2008 o apresentador lançou a versão portuguesa de
Chamar a Música, um concurso que teve no ar durante a época de verão de
2008, alcançando óptimos resultados de audiências. Em setembro de
2008 volta a apresentar o concurso
Roda da Sorte na
SIC.
que, apesar de ter triplicado as audiências no horário, é
descontinuado em finais de 2008 pelo canal e substituído por um
programa de informação. Sai da SIC desagradado com a decisão, e com a
política de avanços e recuos do seu então diretor de programas,
Nuno Santos, com quem mantém uma breve polémica pública, entretanto sanada.
Atualidade
Em abril de 2010 regressa à "sua" casa RTP, de onde partira 10 anos antes. Apresentou aos sábados à noite o
Herman 2010, um
talk-show onde junta a conversa com personalidades portuguesas a apontamentos humorísticos, ao lado do ator
Manuel Marques. O programa manteve-se, adotando as designações de
Herman 2011,
Herman 2012 e
Herman 2013,
que conheceu a sua última edição no sábado 14 de Dezembro de 2013,
decisão tomada uniteralmente pelo então diretor de programas Hugo
Andrade.
Culmina o ano fazendo um memorável espetáculo de passagem de ano
no Terreiro do Paço com a sua orquestra para mais de 70 000
espetadores,e reforça as suas atuações na
diáspora com recorrentes idas a
Angola,
Moçambique,
Luxemburgo,
Suíça,
França,
Alemanha,
Nova Iorque,
Nova Jérsia,
Toronto e
Macau. O tema dos seus espetáculos de 2014 é a comemoração dos seus 40 anos de carreira, com o título
40 Anos, Sempre A Bombar, título também de uma canção comemorativa que lançou para assinalar a efeméride.
No dia 22 de setembro de 2014 estreia-se ao lado da apresentadora Vanessa Oliveira na condução do programa das tardes da RTP1
Há Tarde. Com o fim do formato, anuncia o regresso ao humor em outubro de 2015, com a estreia da série
Nelo e Idália (personagens originados no
HermanSIC), protagonizado por este e por
Maria Rueff, mais uma vez na
RTP1, 25 episódios com meia hora de duração, com um elenco fixo de que fazem parte os atores
Maria Rueff,
Márcia Breia,
Martinho Silva, Rita Tristão da Silva, Inês Sobral e os atores convidados
Ana Bola,
Joaquim Monchique,
Victor de Sousa,
Florbela Queiroz,
Eládio Clímaco,
Lídia Franco, Susana Cacela,
Eduardo Madeira,
Maria de Lourdes Norberto, entre outros. A sitcom é distinguida com o
Troféus TV 7 Dias como a melhor série de televisão de 2015.
Quarta-feira 20 de setembro de 2016 estreia o programa
Cá Por Casa, mais uma vez na companhia de
Maria Rueff, também na
RTP1.
Trata-se de um formato semanal de uma hora, original e de sua autoria,
onde culinária, música, humor e entrevistas se entrecruzam numa casa
onde tudo acontece. A música é sempre gravada ao vivo, com
acompanhamento do quinteto do maestro Pedro Duarte.
A 7 de novembro de 2023, foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da
Ordem do Infante D. Henrique.
Discografia
Singles:
- 1977 Saca o Saca-rolhas / História do Capuchinho Rodrigues Monteiro
- 1977 Pau-Pau/ Eu Beijo As Suas Mãos Senhora
- 1978 Olho Vivo e Zé D’Olhão / Folcloróptico (c/Joel Branco)
- 1979 Super-Homem Português / O Cowboy da Reboleira
- 1980 Canção do Beijinho / Eu Não Sei de Ti, Eu Não Sei de Ti
- 1981 (Tony Silva) Canta Música Ró / A Técnica do Pulmão
- 1981 Bailarico / Apaixonado
- 1981 Tôfartudeti / Falta d'ar
- 1981 Virodisco / Surpresa
- 1982 Da Da Da / Instrumental
- 1983 (A cor do teu) Baton / Bem-Haja Você
- 1983 O Tal Canal 12"
- 1985 O Verdadeiro Artista / O Meu Automóvel
- 1986 Bamos Lá Cambada / Instrumental Rafeiro (Rough Mix)
Álbuns:
- 1980 Canção do Beijinho
- 1985 Serafim Saudade – O Verdadeiro Artista)
- 1991 Na Telefonia (Sem fios) (rábulas)
- 1999 Christmas Songs
- 2005 És Tão Boa!
- 2009 Adeus, vou ali já venho
- 2013 One (Her)Man Show
- 2019 Amanhã Faço Dieta
Processo Casa Pia
Herman José foi desde o primeiro minuto um defensor ruidoso do apresentador
Carlos Cruz na sequência da sua detenção no âmbito do
Processo Casa Pia.
A 29 de dezembro de 2003, acaba ele próprio acusado no âmbito do mesmo
processo por um crime de abuso sexual a um adolescente. A alegada vítima
descreve ao pormenor uma cena passada numa sexta de Carnaval, onde
estaria
alcoolizado e mascarado de menina. O dito abuso teria acontecido num carro
preto e grande,
nas traseiras do seu restaurante de Alcântara, na madrugada de sexta 8
para sábado 9 de fevereiro de 2002. Em finais de 2003, o
Ministério Público
chama o humorista, e propõe-lhe o arquivamento provisório da acusação
contra o pagamento de 10.000 Euros a uma organização de solidariedade,
proposta que este recusa liminarmente, optando por ir a julgamento.
Nunca lhe é dita a data da acusação, nem lhe são fornecidos quaisquer
pormenores sobre o processo. Só quando este chega ao Tribunal de
Instrução Criminal (TIC) é que os seus advogados são confrontados com
uma data e uma narrativa sem qualquer prova factual. Apresentam
documentos que provam que, na data da acusação, o Herman José estava com
a sua equipa no Brasil (Rio de Janeiro), ao serviço da SIC, fazendo
gravações e diretos para a sua emissão de Carnaval. A juíza de
instrução, Ana Teixeira e Silva, perante a ausência de qualquer tipo de
provas incriminatórias, manda arquivar a acusação. O
Ministério Público recorreu da decisão para o Tribunal da Relação, mas viu confirmada a não-pronúncia do humorista.