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sexta-feira, janeiro 26, 2024

Afonso Lopes Vieira nasceu há 146 anos

 

(imagem daqui)
   
Afonso Lopes Vieira (Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 25 de janeiro de 1946) foi um poeta português.
Natural de Leiria, bacharelou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, em 1900. Depois de exercer a advocacia junto do seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira, radicou-se em Lisboa, onde veio a exercer o ofício de redator na Câmara dos Deputados, até 1916. No último desses anos deixou o cargo para se dedicar exclusivamente à atividade literária. Na capital, residiu no Palácio da Rosa, junto ao bairro da Mouraria, que fora dos marqueses de Castelo Melhor, e foi propriedade do poeta entre 1927 e 1942. Em frente do palácio, no Largo da Rosa, foi colocado um busto seu.
Ainda jovem, Afonso Lopes Vieira descobriu os clássicos da literatura, nomeadamente através da biblioteca do seu tio-avô, o poeta Rodrigues Cordeiro, e iniciou a sua colaboração em jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa atividade literária - Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) - encerrando a sua atividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), mas que culminará com a obra inovadora e epigonal Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
O carácter ativo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do Salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935), sob a égide e em defesa do Integralismo Lusitano.
Teve ainda colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave Azul (1899-1900), Serões (1915-1920), Arte & vida (1904-1906), A republica portugueza (1910-1911), Alma Nova (1914-1930), Atlantida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926), Ordem Nova (1926-1927) e Lusitânia (1924-1927).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, lugar da sua Casa-Nau e paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heroica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Atualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, ligado à corrente da chamada Renascença Portuguesa e um dos primeiros representantes do neogarretismo.
   

  

Pinhal do Rei
 
 
Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
ditoso o "Lavrador" que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;
ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
rei D. Dinis, bom poeta e mau marido,
lá vem as velidas bailar e cantar.


Encantado jardim da minha infância,
aonde a minh'alma aprendeu;
a música do Longe e o ritmo da Distância
que a tua voz marítima lhe deu;
místico órgão cujo além se esfuma
no além do Oceano, e onde a maresia
ameiga e dissolve em bruma,
e em penumbra de nave, a luz do dia.
Por estes fundos claustros gemem
os ais do Velho do Restelo...
Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo,
teus velhos troncos de saudades fremem...

Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
são as caravelas, teu corpo cortado,
é lo verde pino no mar a boiar.

Pinhal de heróicas árvores tão belas,
foi do teu corpo e da tua alma também
que nasceram as nossas caravelas
ansiosas de todo o Além;
foste tu que lhe deste a tua carne em flor
e sobre os mares andaste navegando,
rodeando a terra e olhando os novos astros,
ó gótico Pinhal navegador,
em naus, erguida, levando
tua alma em flor na ponta alta dos mastros!...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que grande saudade, que longo gemido
ondeia nos ramos, suspira no ar!

Na sussurrante e verde catedral
oiço rezar a alma de Portugal:
ela aí vem, dorida, e nos seus olhos
sonâmbulos de surda ansiedade,
no roxo da tardinha,
abre a flor da Saudade;
ela aí vem, sozinha,
dorida do naufrágio e dos escolhos,

viúva de seus bens
e pálida de amor,
arribada de todos os aléns
de este mundo de dor;
ela aí vem, sozinha,
e reza a ladainha
na sussurrante catedral aonde
toda se espalha e esconde,
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar.

  
  

in
Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940) - Afonso Lopes Vieira

 

quinta-feira, novembro 02, 2023

Teixeira de Pascoaes dizia que nasceu há 146 anos...

   
Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8 de novembro de 1877 - Gatão, Amarante, 14 de dezembro de 1952) foi um poeta e escritor português, principal representante do saudosismo.  
Todas as fontes bibliográficas indicam 2 de novembro de 1877 como a sua data de nascimento. Contudo, o assento de nascimento/batismo refere, indubitavelmente, que ele nasceu às cinco horas da tarde de 8 de novembro de 1877, em Amarante. Segundo Luísa Borges, em O Lugar de Pascoais, Pascoais terá adotado 2 de novembro, como data do seu aniversário, por razões puramente simbólicas, por ser o Dia dos Mortos, uma "porta" para o "Mais Além".

 

Nas Trevas

Como estou só no mundo! Como tudo
É lágrima e silêncio!

Ó tristeza das Coisas, quando é noite
Na terra e em nosso espírito!... Tristeza
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluídas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do céu...

Ó tristeza das Coisas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Fantástica Paisagem,
Desde o soturno espaço à fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!

Erma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha...
Somente as grossas lágrimas da chuva
Escorrem pela face do Silencio...

Piedade, noite negra! Não me beijes
Com esses lábios mortos de Fantasma!

Ó Sol, vem alumiar a minha dor
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraíza
Nesta carne a sangrar que é a minha alma!

Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cala-te!
Negras nuvens do sul, limpai os olhos,
Desanuviai a brônzea face morta!

Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Fantasma angélico e divino;
Espírito que, um dia, em minha irmã,
Tomou corpo infantil, figura de Anjo...
E para que, meu Deus? Para partir,
Com seis anos apenas, no primeiro
Riso da vida, em lágrimas, levando
Toda a luz de esperança que floria
Este ermo, este remoto em que divago...

Como estou só no mundo! Como é triste
A solidão que faz a tua Ausência,
E o terrível e trágico silêncio
Da tua alegre Voz emudecida!

Ó noite, ó noite triste! Ó minha alma!
Tu, que o viste e beijaste tantas vezes,
Tu, que sentiste bem o que ele tinha
De angélica Criança sobre humana,
Não vês as próprias coisas como sofrem,
E como as grandes árvores agitam
As ramagens de lágrimas e sombras?

Repara bem na lúgubre tristeza
Da nossa velha casa abandonada
Da divina Presença da Criança!

Ah, como as portas gemem e o beirais
Têm soluços de vento...

Lá fora, no terreiro onde brincavas,
A noite escura chora...

................................Ó minha alma,
Embebe-te na dor das Coisas ermas;
Chora também, consome-te, soluça,
Junto à Mãe dolorosa, de joelhos...
   


in Elegias (1912) - Teixeira de Pascoaes

quinta-feira, janeiro 26, 2023

Afonso Lopes Vieira nasceu há 145 anos

  Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira (Leiria  - foto pessoal)
    
Afonso Lopes Vieira (Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 25 de janeiro de 1946) foi um poeta português.
Natural de Leiria, bacharelou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, em 1900. Depois de exercer a advocacia junto do seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira, radicou-se em Lisboa, onde veio a exercer o ofício de redator na Câmara dos Deputados, até 1916. No último desses anos deixou o cargo para se dedicar exclusivamente à atividade literária. Na capital, residiu no Palácio da Rosa, junto ao bairro da Mouraria, que fora dos marqueses de Castelo Melhor, e foi propriedade do poeta entre 1927 e 1942. Em frente do palácio, no Largo da Rosa, foi colocado um busto seu.
Ainda jovem, Afonso Lopes Vieira descobriu os clássicos da literatura, nomeadamente através da biblioteca do seu tio-avô, o poeta Rodrigues Cordeiro, e iniciou a sua colaboração em jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa atividade literária - Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) - encerrando a sua atividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), mas que culminará com a obra inovadora e epigonal Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
O carácter ativo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do Salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935), sob a égide e em defesa do Integralismo Lusitano.
Teve ainda colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave Azul (1899-1900), Serões (1915-1920), Arte & vida (1904-1906), A republica portugueza (1910-1911), Alma Nova (1914-1930), Atlantida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926), Ordem Nova (1926-1927) e Lusitânia (1924-1927).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, lugar da sua Casa-Nau e paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heroica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Atualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, ligado à corrente da chamada Renascença Portuguesa e um dos primeiros representantes do neogarretismo.
   

  

Pinhal do Rei
 
 
Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
ditoso o "Lavrador" que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;
ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
rei D. Dinis, bom poeta e mau marido,
lá vem as velidas bailar e cantar.


Encantado jardim da minha infância,
aonde a minh'alma aprendeu;
a música do Longe e o ritmo da Distância
que a tua voz marítima lhe deu;
místico órgão cujo além se esfuma
no além do Oceano, e onde a maresia
ameiga e dissolve em bruma,
e em penumbra de nave, a luz do dia.
Por estes fundos claustros gemem
os ais do Velho do Restelo...
Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo,
teus velhos troncos de saudades fremem...

Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
são as caravelas, teu corpo cortado,
é lo verde pino no mar a boiar.

Pinhal de heróicas árvores tão belas,
foi do teu corpo e da tua alma também
que nasceram as nossas caravelas
ansiosas de todo o Além;
foste tu que lhe deste a tua carne em flor
e sobre os mares andaste navegando,
rodeando a terra e olhando os novos astros,
ó gótico Pinhal navegador,
em naus, erguida, levando
tua alma em flor na ponta alta dos mastros!...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que grande saudade, que longo gemido
ondeia nos ramos, suspira no ar!

Na sussurrante e verde catedral
oiço rezar a alma de Portugal:
ela aí vem, dorida, e nos seus olhos
sonâmbulos de surda ansiedade,
no roxo da tardinha,
abre a flor da Saudade;
ela aí vem, sozinha,
dorida do naufrágio e dos escolhos,

viúva de seus bens
e pálida de amor,
arribada de todos os aléns
de este mundo de dor;
ela aí vem, sozinha,
e reza a ladainha
na sussurrante catedral aonde
toda se espalha e esconde,
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar.

  
  

in
Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940) - Afonso Lopes Vieira

quarta-feira, novembro 02, 2022

Teixeira de Pascoaes nasceu há 145 anos...

   
Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8 de novembro de 1877 - Gatão, Amarante, 14 de dezembro de 1952) foi um poeta e escritor português, principal representante do saudosismo.  
Todas as fontes bibliográficas indicam 2 de novembro de 1877 como a sua data de nascimento. Contudo, o assento de nascimento/baptismo refere indubitavelmente que ele nasceu às cinco horas da tarde de 8 de novembro de 1877, em Amarante. Segundo Luísa Borges, em O Lugar de Pascoais, Pascoais terá adoptado 2 de novembro, como data do seu aniversário, por razões puramente simbólicas, por ser o Dia dos Mortos, uma "porta" para o "Mais Além".

 

Nas Trevas

Como estou só no mundo! Como tudo
É lágrima e silêncio!

Ó tristeza das Coisas, quando é noite
Na terra e em nosso espírito!... Tristeza
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluídas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do céu...

Ó tristeza das Coisas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Fantástica Paisagem,
Desde o soturno espaço à fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!

Erma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha...
Somente as grossas lágrimas da chuva
Escorrem pela face do Silencio...

Piedade, noite negra! Não me beijes
Com esses lábios mortos de Fantasma!

Ó Sol, vem alumiar a minha dor
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraíza
Nesta carne a sangrar que é a minha alma!

Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cala-te!
Negras nuvens do sul, limpai os olhos,
Desanuviai a brônzea face morta!

Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Fantasma angélico e divino;
Espírito que, um dia, em minha irmã,
Tomou corpo infantil, figura de Anjo...
E para que, meu Deus? Para partir,
Com seis anos apenas, no primeiro
Riso da vida, em lágrimas, levando
Toda a luz de esperança que floria
Este ermo, este remoto em que divago...

Como estou só no mundo! Como é triste
A solidão que faz a tua Ausência,
E o terrível e trágico silêncio
Da tua alegre Voz emudecida!

Ó noite, ó noite triste! Ó minha alma!
Tu, que o viste e beijaste tantas vezes,
Tu, que sentiste bem o que ele tinha
De angélica Criança sobre humana,
Não vês as próprias coisas como sofrem,
E como as grandes árvores agitam
As ramagens de lágrimas e sombras?

Repara bem na lúgubre tristeza
Da nossa velha casa abandonada
Da divina Presença da Criança!

Ah, como as portas gemem e o beirais
Têm soluços de vento...

Lá fora, no terreiro onde brincavas,
A noite escura chora...

................................Ó minha alma,
Embebe-te na dor das Coisas ermas;
Chora também, consome-te, soluça,
Junto à Mãe dolorosa, de joelhos...
   


in Elegias (1912) - Teixeira de Pascoaes

quarta-feira, janeiro 26, 2022

O poeta Afonso Lopes Vieira nasceu há 144 anos

  Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira (Leiria  - foto FM)
    
Afonso Lopes Vieira (Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 25 de janeiro de 1946) foi um poeta português.
Natural de Leiria, bacharelou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, em 1900. Depois de exercer a advocacia junto do seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira, radicou-se em Lisboa, onde veio a exercer o ofício de redator na Câmara dos Deputados, até 1916. No último desses anos deixou o cargo para se dedicar exclusivamente à atividade literária. Na capital, residiu no Palácio da Rosa, junto ao bairro da Mouraria, que fora dos marqueses de Castelo Melhor, e foi propriedade do poeta entre 1927 e 1942. Em frente do palácio, no Largo da Rosa, foi colocado um busto seu.
Ainda jovem, Afonso Lopes Vieira descobriu os clássicos da literatura, nomeadamente através da biblioteca do seu tio-avô, o poeta Rodrigues Cordeiro, e iniciou a sua colaboração em jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária - Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) - encerrando a sua actividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), mas que culminará com a obra inovadora e epigonal Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
O carácter ativo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do Salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935), sob a égide e em defesa do Integralismo Lusitano.
Teve ainda colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave Azul (1899-1900), Serões (1915-1920), Arte & vida (1904-1906), A republica portugueza (1910-1911), Alma Nova (1914-1930), Atlantida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926), Ordem Nova (1926-1927) e Lusitânia (1924-1927).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, lugar da sua Casa-Nau e paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heróica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Actualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, ligado à corrente da chamada Renascença Portuguesa e um dos primeiros representantes do neogarretismo.
   

  

Pinhal do Rei
 
 
Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
ditoso o "Lavrador" que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;
ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
rei D. Dinis, bom poeta e mau marido,
lá vem as velidas bailar e cantar.


Encantado jardim da minha infância,
aonde a minh'alma aprendeu;
a música do Longe e o ritmo da Distância
que a tua voz marítima lhe deu;
místico órgão cujo além se esfuma
no além do Oceano, e onde a maresia
ameiga e dissolve em bruma,
e em penumbra de nave, a luz do dia.
Por estes fundos claustros gemem
os ais do Velho do Restelo...
Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo,
teus velhos troncos de saudades fremem...

Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
são as caravelas, teu corpo cortado,
é lo verde pino no mar a boiar.

Pinhal de heróicas árvores tão belas,
foi do teu corpo e da tua alma também
que nasceram as nossas caravelas
ansiosas de todo o Além;
foste tu que lhe deste a tua carne em flor
e sobre os mares andaste navegando,
rodeando a terra e olhando os novos astros,
ó gótico Pinhal navegador,
em naus, erguida, levando
tua alma em flor na ponta alta dos mastros!...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que grande saudade, que longo gemido
ondeia nos ramos, suspira no ar!

Na sussurrante e verde catedral
oiço rezar a alma de Portugal:
ela aí vem, dorida, e nos seus olhos
sonâmbulos de surda ansiedade,
no roxo da tardinha,
abre a flor da Saudade;
ela aí vem, sozinha,
dorida do naufrágio e dos escolhos,

viúva de seus bens
e pálida de amor,
arribada de todos os aléns
de este mundo de dor;
ela aí vem, sozinha,
e reza a ladainha
na sussurrante catedral aonde
toda se espalha e esconde,
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar.

  
  

in
Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940) - Afonso Lopes Vieira

terça-feira, novembro 02, 2021

Teixeira de Pascoaes nasceu há 144 anos

   
Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8 de novembro de 1877 - Gatão, Amarante, 14 de dezembro de 1952) foi um poeta e escritor português, principal representante do saudosismo.  
Todas as fontes bibliográficas indicam 2 de novembro de 1877 como a sua data de nascimento. Contudo, o assento de nascimento/baptismo refere indubitavelmente que ele nasceu às cinco horas da tarde de 8 de novembro de 1877, em Amarante. Segundo Luísa Borges, em O Lugar de Pascoais, Pascoais terá adoptado 2 de novembro, como data do seu aniversário, por razões puramente simbólicas, por ser o Dia dos Mortos, uma "porta" para o "Mais Além".

 

O Que Eu Sou

Nocturna e dúbia luz
Meu ser esboça e tudo quanto existe...
Sou, num alto de monte, negra cruz,
Onde bate o luar em noite triste...

Sou o espírito triste que murmura
Neste silencio lúgubre das Cousas...
Eu é que sou o Espectro, a Sombra escura
De falecidas formas mentirosas.

E tu, Sombra infantil do meu Amor,
És o Ser vivo, o Ser Espiritual,
A Presença radiosa...
Eu sou a Dor,
Sou a trágica Ausência glacial...

Pois tu vives, em mim, a vida nova,
E eu já não vivo em ti...
Mas quem morreu?
Foste tu que baixaste à fria cova?
Oh, não! Fui eu! Fui eu!

Horrível cataclismo e negra sorte!
Tu foste um mundo ideal que se desfez
E onde sonhei viver após a morte!
Vendo teus lindos olhos, quanta vez,
Dizia para mim: eis o lugar
Da minha espiritual, futura imagem...
E viverei à luz daquele olhar,
Divino sol de mística Paisagem.

Era minha ambição primordial
Legar-lhe a minha imagem de saudade;
Mas um vento cruel de temporal,
Vento de eternidade,
Arrebatou meu sonho! E fugitiva
Deste mundo se fez minha alegria;
Mais morta do que viva,
Partiu contigo, Amor, à luz do dia
Que doirou de tristeza o teu caixão...
Partiu contigo, ao pé de ti murmura;
É magoada voz na solidão,
Doce alvor de luar na noite escura...
E beija o teu sepulcro pequenino;
Sobre ele voa e erra,
Porque o teu Ser amado é já divino
E o teu sepulcro, abrindo-se na terra,
Penetrou-a de luz e santidade...
E para mim a terra é um grande templo
E, dentro dele, a Imagem da Saudade...
E rezo de joelhos, e contemplo
Meu triste coração, saudoso altar
Alumiado de sombra, escura luz...
Nele deitado estás como a sonhar,
Meu pequenino e místico Jesus...
Lágrimas dos meus olhos são as flores
Que a teus pés eu deponho...
Enfeitam tua Imagem minhas dores,
E alumia-te, ás noites, o meu sonho.

Todo me dou em sacrifício à tua
Imagem que eu adoro.
Sou branco incenso à triste luz da lua:
Eu sou, em névoa, as lágrimas que choro...

 

in Elegias (1912) - Teixeira de Pascoaes

terça-feira, janeiro 26, 2021

Afonso Lopes Vieira nasceu há 143 anos

  Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira (Leiria  - foto pessoal)
  
Afonso Lopes Vieira (Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 25 de janeiro de 1946) foi um poeta português.
Natural de Leiria, bacharelou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, em 1900. Depois de exercer a advocacia junto do seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira, radicou-se em Lisboa, onde veio a exercer o ofício de redator na Câmara dos Deputados, até 1916. No último desses anos deixou o cargo para se dedicar exclusivamente à atividade literária. Na capital, residiu no Palácio da Rosa, junto ao bairro da Mouraria, que fora dos marqueses de Castelo Melhor, e foi propriedade do poeta entre 1927 e 1942. Em frente do palácio, no Largo da Rosa, foi colocado um seu busto.
Ainda jovem, Afonso Lopes Vieira descobriu os clássicos da literatura, nomeadamente através da biblioteca do seu tio-avô, o poeta Rodrigues Cordeiro, e iniciou a sua colaboração em jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária - Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) - encerrando a sua actividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), mas que culminará com a obra inovadora e epigonal Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
O carácter ativo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do Salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935), sob a égide e em defesa do Integralismo Lusitano.
Teve ainda colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave Azul (1899-1900), Serões (1915-1920), Arte & vida (1904-1906), A republica portugueza (1910-1911), Alma Nova (1914-1930), Atlantida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926), Ordem Nova (1926-1927) e Lusitânia (1924-1927).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, lugar da sua Casa-Nau e paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heróica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Actualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, ligado à corrente da chamada Renascença Portuguesa e um dos primeiros representantes do neogarretismo.
 

 

Pinhal do Rei
 
 
Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
ditoso o "Lavrador" que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;
ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
rei D. Dinis, bom poeta e mau marido,
lá vem as velidas bailar e cantar.


Encantado jardim da minha infância,
aonde a minh'alma aprendeu;
a música do Longe e o ritmo da Distância
que a tua voz marítima lhe deu;
místico órgão cujo além se esfuma
no além do Oceano, e onde a maresia
ameiga e dissolve em bruma,
e em penumbra de nave, a luz do dia.
Por estes fundos claustros gemem
os ais do Velho do Restelo...
Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo,
teus velhos troncos de saudades fremem...

Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
são as caravelas, teu corpo cortado,
é lo verde pino no mar a boiar.

Pinhal de heróicas árvores tão belas,
foi do teu corpo e da tua alma também
que nasceram as nossas caravelas
ansiosas de todo o Além;
foste tu que lhe deste a tua carne em flor
e sobre os mares andaste navegando,
rodeando a terra e olhando os novos astros,
ó gótico Pinhal navegador,
em naus, erguida, levando
tua alma em flor na ponta alta dos mastros!...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que grande saudade, que longo gemido
ondeia nos ramos, suspira no ar!

Na sussurrante e verde catedral
oiço rezar a alma de Portugal:
ela aí vem, dorida, e nos seus olhos
sonâmbulos de surda ansiedade,
no roxo da tardinha,
abre a flor da Saudade;
ela aí vem, sozinha,
dorida do naufrágio e dos escolhos,

viúva de seus bens
e pálida de amor,
arribada de todos os aléns
de este mundo de dor;
ela aí vem, sozinha,
e reza a ladainha
na sussurrante catedral aonde
toda se espalha e esconde,
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar.


in
Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940) - Afonso Lopes Vieira

segunda-feira, novembro 02, 2020

Teixeira de Pascoaes nasceu há 143 anos

   
Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8 de novembro de 1877 - Gatão, Amarante, 14 de dezembro de 1952) foi um poeta e escritor português, principal representante do saudosismo.  
Todas as fontes bibliográficas indicam 2 de novembro de 1877 como a sua data de nascimento. Contudo, o assento de nascimento/baptismo refere indubitavelmente que ele nasceu às cinco horas da tarde de 8 de novembro de 1877, em Amarante. Segundo Luísa Borges, em O Lugar de Pascoais, Pascoais terá adoptado 2 de novembro, como data do seu aniversário, por razões puramente simbólicas, por ser o Dia dos Mortos, uma "porta" para o "Mais Além".

 

O Que Eu Sou

Nocturna e dúbia luz
Meu ser esboça e tudo quanto existe...
Sou, num alto de monte, negra cruz,
Onde bate o luar em noite triste...

Sou o espírito triste que murmura
Neste silencio lúgubre das Cousas...
Eu é que sou o Espectro, a Sombra escura
De falecidas formas mentirosas.

E tu, Sombra infantil do meu Amor,
És o Ser vivo, o Ser Espiritual,
A Presença radiosa...
Eu sou a Dor,
Sou a trágica Ausência glacial...

Pois tu vives, em mim, a vida nova,
E eu já não vivo em ti...
Mas quem morreu?
Foste tu que baixaste à fria cova?
Oh, não! Fui eu! Fui eu!

Horrível cataclismo e negra sorte!
Tu foste um mundo ideal que se desfez
E onde sonhei viver após a morte!
Vendo teus lindos olhos, quanta vez,
Dizia para mim: eis o lugar
Da minha espiritual, futura imagem...
E viverei à luz daquele olhar,
Divino sol de mística Paisagem.

Era minha ambição primordial
Legar-lhe a minha imagem de saudade;
Mas um vento cruel de temporal,
Vento de eternidade,
Arrebatou meu sonho! E fugitiva
Deste mundo se fez minha alegria;
Mais morta do que viva,
Partiu contigo, Amor, à luz do dia
Que doirou de tristeza o teu caixão...
Partiu contigo, ao pé de ti murmura;
É magoada voz na solidão,
Doce alvor de luar na noite escura...
E beija o teu sepulcro pequenino;
Sobre ele voa e erra,
Porque o teu Ser amado é já divino
E o teu sepulcro, abrindo-se na terra,
Penetrou-a de luz e santidade...
E para mim a terra é um grande templo
E, dentro dele, a Imagem da Saudade...
E rezo de joelhos, e contemplo
Meu triste coração, saudoso altar
Alumiado de sombra, escura luz...
Nele deitado estás como a sonhar,
Meu pequenino e místico Jesus...
Lágrimas dos meus olhos são as flores
Que a teus pés eu deponho...
Enfeitam tua Imagem minhas dores,
E alumia-te, ás noites, o meu sonho.

Todo me dou em sacrifício à tua
Imagem que eu adoro.
Sou branco incenso à triste luz da lua:
Eu sou, em névoa, as lágrimas que choro...

in Elegias (1912) - Teixeira de Pascoaes

domingo, janeiro 26, 2020

O poeta Afonso Lopes Vieira nasceu há 142 anos

  Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira (Leiria  - foto de Fernando Martins)
  
Afonso Lopes Vieira (Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 25 de janeiro de 1946) foi um poeta português.
Natural de Leiria, bacharelou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, em 1900. Depois de exercer a advocacia junto do seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira, radicou-se em Lisboa, onde veio a exercer o ofício de redator na Câmara dos Deputados, até 1916. No último desses anos deixou o cargo para se dedicar exclusivamente à atividade literária. Na capital, residiu no Palácio da Rosa, junto ao bairro da Mouraria, que fora dos marqueses de Castelo Melhor, e foi propriedade do poeta entre 1927 e 1942. Em frente do palácio, no Largo da Rosa, foi colocado um seu busto.
Ainda jovem, Afonso Lopes Vieira descobriu os clássicos da literatura, nomeadamente através da biblioteca do seu tio-avô, o poeta Rodrigues Cordeiro, e iniciou a sua colaboração em jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária - Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) - encerrando a sua actividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), mas que culminará com a obra inovadora e epigonal Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
O carácter ativo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do Salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935), sob a égide e em defesa do Integralismo Lusitano.
Teve ainda colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave Azul (1899-1900), Serões (1915-1920), Arte & vida (1904-1906), A republica portugueza (1910-1911), Alma Nova (1914-1930), Atlantida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926), Ordem Nova (1926-1927) e Lusitânia (1924-1927).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, lugar da sua Casa-Nau e paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heróica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Actualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, ligado à corrente da chamada Renascença Portuguesa e um dos primeiros representantes do neogarretismo.
 
 
O Segredo do Mar

A “Flor do Mar” avançando
Navegava, navegava,
Lá para onde se via
O vulto que ela buscava.

Era tão grande, tão grande
Que a vista toda tapava.

E Bartolomeu erguido
Aos marinheiros bradava
Que ninguém tivesse medo
Do gigante que ali estava.

E mais perto agora estão
Do que procurando vão!

Bartolomeu que viu?
Que descobriu o valente?
- Que o gigante era um penedo
que tinha forma de gente?

Que era dantes o mar? Um quarto escuro
Onde os meninos tinham medo de ir.
Agora o mar é livre e é seguro
E foi um português que o foi abrir.



Afonso Lopes Vieira

quinta-feira, novembro 02, 2017

Teixeira de Pascoaes nasceu há 140 anos

Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8 de novembro de 1877 - Gatão, Amarante, 14 de dezembro de 1952) foi um poeta e escritor português, principal representante do saudosismo. Todas as fontes bibliográficas indicam 2 de novembro de 1877 como a sua data de nascimento. Contudo, o assento de nascimento/baptismo refere indubitavelmente que ele nasceu às cinco horas da tarde de 8 de novembro de 1877, em Amarante. Segundo Luísa Borges, em O Lugar de Pascoais, Pascoais terá adoptado 2 de novembro, como data do seu aniversário, por razões puramente simbólicas, por ser o Dia dos Mortos, uma "porta" para o "Mais Além".

Vida
Nasceu no seio de uma família aristocrática de Amarante, o segundo filho (de sete) de João Pereira Teixeira de Vasconcelos, juiz e deputado às Cortes e de Carlota Guedes Monteiro. Foi uma criança solitária, introvertida e sensível, muito propenso à contemplação nostálgica da Natureza.
Em 1883, inicia os estudos primários em Amarante, e em 1887 ingressa no liceu da vila. Em 1895, muda-se para Coimbra onde termina os seus estudos secundários (em Amarante não foi bom aluno, tendo até reprovado em Português) e em 1896 inscreve-se no curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ao contrário da maioria dos seus camaradas, não faz parte da boémia coimbrã, e passa o seu tempo, monasticamente, no quarto, a ler, a escrever e a reflectir.
Licencia-se em 1901 e, renitentemente, estabelece-se como advogado, primeiro em Amarante e, a partir de 1906, no Porto. Em 1911, é nomeado juiz substituto em Amarante, cargo que exerce durante dois anos. Em 1913, com alívio, dá por terminada a sua carreira judicial. Sobre esta sua penosa experiência jurídica dirá: "Eu era um Dr. Joaquim na boca de toda a gente. Precisava de honrar o título. Entre o poeta natural e o bacharel à força, ia começar um duelo que durou dez anos, tanto como o cerco de Tróia e a formatura de João de Deus. Vivi dez anos, num escritório, a lidar com almas deste mundo, o mais deste mundo que é possível — eu que nascera para outras convivências."
Sendo um proprietário abastado, não tinha necessidade de exercer nenhuma profissão para o seu sustento, e passou a residir no solar de família em São João do Gatão, perto de Amarante, com a mãe e outros membros da sua família. Dedicava-se à gestão das propriedades, à incansável contemplação da natureza e da sua amada Serra do Marão, à leitura e sobretudo à escrita. Era um eremita, um místico natural e não raras vezes foi descrito como detentor de poderes sobrenaturais.
Apesar de ser um solitário, Gatão era local de peregrinação de inúmeros intelectuais e artistas, nacionais e estrangeiros, que o iam visitar frequentemente. No final da vida, seria amigo dos poetas Eugénio de Andrade e Mário Cesariny de Vasconcelos. Este último haveria de o eleger como poeta superior a Fernando Pessoa, chegando a ser o organizador da reedição de alguns dos textos de Pascoais, bem como de uma antologia poética, nos anos 70 e 80.
Pascoais morreu aos 75 anos, em Gatão, de bacilose pulmonar, alguns meses depois da morte da sua mãe, em 1952.


Nas Trevas

Como estou só no mundo! Como tudo
É lágrima e silencio!

Ó tristeza das Coisas, quando é noite
Na terra e em nosso espírito!... Tristeza
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluídas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do céu...

Ó tristeza das Cousas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Fantástica Paisagem,
Desde o soturno espaço à fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!

Erma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha...
Somente as grossas lágrimas da chuva
Escorrem pela face do Silencio...

Piedade, noite negra! Não me beijes
Com esses lábios mortos de Fantasma!

Ó Sol, vem alumiar a minha dor
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraíza
Nesta carne a sangrar que é a minha alma!

Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cala-te!
Negras nuvens do sul, limpai os olhos,
Desanuviai a brônzea face morta!

Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Fantasma angélico e divino;
Espírito que, um dia, em minha irmã,
Tomou corpo infantil, figura de Anjo...
E para que, meu Deus? Para partir,
Com seis anos apenas, no primeiro
Riso da vida, em lágrimas, levando
Toda a luz de esperança que floria
Este ermo, este remoto em que divago...

Como estou só no mundo! Como é triste
A solidão que faz a tua Ausência,
E o terrível e trágico silêncio
Da tua alegre Voz emudecida!

Ó noite, ó noite triste! Ó minha alma!
Tu, que o viste e beijaste tantas vezes,
Tu, que sentiste bem o que ele tinha
De angélica Criança sobre humana,
Não vês as próprias cousas como sofrem,
E como as grandes árvores agitam
As ramagens de lágrimas e sombras?

Repara bem na lúgubre tristeza
Da nossa velha casa abandonada
Da divina Presença da Criança!

Ah, como as portas gemem e o beirais
Têm soluços de vento...

Lá fora, no terreiro onde brincavas,
A noite escura chora...

................................Ó minha alma,
Embebe-te na dor das Cousas ermas;
Chora também, consome-te, soluça,
Junto à Mãe dolorosa, de joelhos...


in Elegias (1912) - Teixeira de Pascoaes

segunda-feira, novembro 02, 2015

Teixeira de Pascoaes nasceu há 138 anos

Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8 de novembro de 1877 - Gatão, Amarante, 14 de dezembro de 1952) foi um poeta e escritor português, principal representante do saudosismo.  
Todas as fontes bibliográficas indicam 2 de novembro de 1877 como a sua data de nascimento. Contudo, o assento de nascimento/baptismo refere indubitavelmente que ele nasceu às cinco horas da tarde de 8 de novembro de 1877, em Amarante. Segundo Luísa Borges, em O Lugar de Pascoais, Pascoais terá adoptado 2 de novembro, como data do seu aniversário, por razões puramente simbólicas, por ser o Dia dos Mortos, uma "porta" para o "Mais Além".


Encantamento

Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar
A tua doce e angélica Figura,
Esquecido, embebido num luar,
Num enlevo perfeito e graça pura!

E à força de sorrir, de me encantar,
Diante de ti, mimosa Criatura,
Suavemente sentia-me apagar…
E eu era sombra apenas e ternura.

Que inocência! que aurora! que alegria!
Tua figura de Anjo radiava!
Sob os teus pés a terra florescia,

E até meu próprio espírito cantava!
Nessas horas divinas, quem diria
A sorte que já Deus te destinava!

 

in Elegias (1912) - Teixeira de Pascoaes

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Afonso Lopes Vieira nasceu há 137 anos

Foto de Fernando Martins -  Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira (Leiria)

Afonso Lopes Vieira (Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 25 de janeiro de 1946) foi um poeta português.
Natural de Leiria, bacharelou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, em 1900. Depois de exercer a advocacia junto do seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira, radicou-se em Lisboa, onde veio a exercer o ofício de redator na Câmara dos Deputados, até 1916. No último desses anos deixou o cargo para se dedicar exclusivamente à atividade literária. Na capital, residiu no Palácio da Rosa, junto ao bairro da Mouraria, que fora dos marqueses de Castelo Melhor, e foi propriedade do poeta entre 1927 e 1942. Em frente do palácio, no Largo da Rosa, foi colocado um seu busto.
Ainda jovem, Afonso Lopes Vieira descobriu os clássicos da literatura, nomeadamente através da biblioteca do seu tio-avô, o poeta Rodrigues Cordeiro, e iniciou a sua colaboração em jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária - Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) - encerrando a sua actividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), mas que culminará com a obra inovadora e epigonal Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
O carácter ativo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do Salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935), sob a égide e em defesa do Integralismo Lusitano.
Teve ainda colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave Azul (1899-1900), Serões (1915-1920), Arte & vida (1904-1906), A republica portugueza (1910-1911), Alma Nova (1914-1930), Atlantida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926), Ordem Nova (1926-1927) e Lusitânia (1924-1927).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, lugar da sua Casa-Nau e paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heróica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Actualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, ligado à corrente da chamada Renascença Portuguesa e um dos primeiros representantes do neogarretismo.

O Segredo do Mar

A “Flor do Mar” avançando
Navegava, navegava,
Lá para onde se via
O vulto que ela buscava.

Era tão grande, tão grande
Que a vista toda tapava.

E Bartolomeu erguido
Aos marinheiros bradava
Que ninguém tivesse medo
Do gigante que ali estava.

E mais perto agora estão
Do que procurando vão!

Bartolomeu que viu?
Que descobriu o valente?
- Que o gigante era um penedo
que tinha forma de gente?

Que era dantes o mar? Um quarto escuro
Onde os meninos tinham medo de ir.
Agora o mar é livre e é seguro
E foi um português que o foi abrir.



Afonso Lopes Vieira