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terça-feira, maio 04, 2021

Noel Rosa morreu há 84 anos

 
Noel de Medeiros Rosa (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1910 - Rio de Janeiro, 4 de maio de 1937) foi um sambista, cantor, compositor, bandolinista, guitarrista brasileiro e um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil. Teve contribuição fundamental na legitimação do samba de morro e no "asfalto", ou seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação em sua época - facto de grande importância, não só para o samba, mas para a história da música popular brasileira. Morto prematuramente, aos 26 anos, por causa de tuberculose, deixou um conjunto de canções que se tornaram clássicos dentro do cancioneiro popular brasileiro.

Biografia
Noel Rosa nasceu de um parto muito difícil, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e bebé. Além disso, nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula (provável Síndrome de Pierre Robin) o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular.
Nascido na Rua Teodoro da Silva número 130, no bairro carioca de Vila Isabel, foi primeiro filho do comerciante Manuel Garcia Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio de São Bento, onde, apesar da inteligência notável, não era aplicado nos estudos.
Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música - e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou à viola e cedo se tornou figura conhecida da boémia carioca. Em 1931 entrou na Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, no meio do samba e de noitadas regadas com cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás desde 1929, ao lado de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.
Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, Minha Viola e Festa no Céu, ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de Com que roupa?, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Para essa música ele inspirou-se em quando ia sair com os amigos, a mãe não deixou e escondeu as suas roupas e ele, com pressa, perguntou: "Com que roupa eu vou?" Noel revelou-se um talentoso cronista do quotidiano, com uma sequência de canções que primavam pelo humor e pela veia crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em Positivismo, considerava-o o "rei das letras". Noel também foi protagonista de uma curiosa polémica (Noel Rosa X Wilson Batista) travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida.
Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com sua noiva, uma moça da alta sociedade carioca, chamada Lindaura. Apesar de ter afeto e carinho pela esposa, era apaixonado mesmo por Ceci, diminutivo de Juraci Correia de Araújo, prostituta do cabaré e sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez sucesso com a música "Dama do Cabaré", inspirada em Ceci, que mesmo na vida fácil, era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza. Foram anos de caso com ela, eles se encontravam no cabaré à noite e passeavam juntos, bebiam, fumavam, jogavam, andavam noite a fora sem destino, principalmente pelo bairro carioca da Lapa, onde se localizava o cabaré. Ele dava-lhe presentes, jóias, perfumes e ela o compensava com noites inesquecíveis de amor. Ele queria tirá-la da vida e fazê-la sua esposa, mas seria um escândalo social e a família jamais aceitaria uma meretriz na família. Ele pensou melhor e tentou dar uma casa para Ceci, para que ela só se deitasse com ele, onde se encontrariam escondidos e a sustentaria. Ceci recusou, não queria depender de homem para sobreviver, e queria alguém que a assumisse como esposa. Após mais alguns anos juntos, o ciúme doentio de Noel por Ceci a fez terminar a relação, que ficou entre indas e vindas por um bom tempo, até que se afastaram de vez.
  
Tuberculose e morte
Em depressão durante alguns meses, pela separação de Ceci, Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra a tuberculose. A vida boémia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava ao samba, à bebida e ao cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes. Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte, para tratar de seu problema pulmonar, ainda inicial e não transmissível pelo ar, e para salvar seu casamento, já que gostava da sua esposa, mas ela ameaçava separar-se, pois não suportava mais as traições e bebedeiras do marido, mas isso naquela época era um peso e uma vergonha enormes para a mulher, e por isso Lindaura reconsiderou, e também queria salvar seu matrimonio. Sem planear, Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto espontâneo e, devido as complicações por causa da forte hemorragia, afetando o seu útero, não pode ter mais filhos, o que a deixou muito revoltada e deprimida. Foi por isso que Noel Rosa não foi pai, o que o deixou muito mal, já que era o seu maior desejo. Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Dr. Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro". Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contacto com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na vida boémia. O facto de não ter parado de beber e fumar, não fazer repouso absoluto e continuar a fazer noitadas, pioraram a sua tuberculose. De volta ao Rio, sentindo-se melhor, parou a medicação e jurou estar curado, mas poucos dias depois adoeceu fortemente, não conseguindo mais se alimentar e nem levantar da cama, e faleceu, repentinamente, em sua casa, no bairro de Vila Isabel, no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia há alguns anos. Deixou a sua esposa viúva e desesperada. Lindaura, sua mulher, e Dona Martha, a sua mãe, cuidaram de Noel até ao fim. O seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério do Caju no Rio de Janeiro.