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quarta-feira, abril 17, 2024

Hoje é dia de cantar a Poesia de Joaquim Pessoa...

 

Amélia dos olhos doces

Amélia dos olhos doces
quem é que te trouxe
grávida de esperança?
Um gosto de flor na boca.
Na pele e na roupa
perfumes de França.

Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras
e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama.

Amélia dos olhos doces
quem dera que fosses
apenas mulher.
Amélia dos Olhos Doces
se ao menos tivesses
direito a viver!

Amélia gaivota
amante ou poeta.
Rosa de café.
Amélia gaiata
do Bairro da Lata.
Do Cais do Sodré.

Tens um nome de navio.
Teu corpo é um rio
onde a sede corre.
Olhos Doces. Quem diria
que o amor nascia
onde Amélia morre?

Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras
e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama. 



Joaquim Pessoa

O poeta Joaquim Pessoa morreu há um ano...

(imagem daqui)

 

Joaquim Maria Pessoa (Barreiro, 22 de fevereiro de 194817 de abril de 2023), conhecido por Joaquim Pessoa, foi um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica português.

Com formação na área do "marketing" e da publicidade, foi diretor criativo e diretor-geral de várias agências de publicidade e autor ou coautor de diversos programas de televisão ("1000 Imagens", "Rua Sésamo", "45 Anos de Publicidade em Portugal", etc.). Foi diretor pedagógico e professor da cadeira de Publicidade no Instituto de Marketing e Publicidade, em Lisboa, e professor no Instituto Dom Afonso III, em Loulé.

Desempenhou durante seis anos (1988-1994) o cargo de diretor da Sociedade Portuguesa de Autores. Em colaboração com Luís Machado, organizou em 1983 o I Encontro Peninsular de Poesia, que reuniu prestigiados nomes da poesia ibérica. Conta com mais de 600 recitais da sua poesia, realizados em Portugal e no estrangeiro. Foi diretor literário da Litexa Editora, diretor do jornal "Poetas & Trovadores", colaborador das revistas "Sílex" e "Vértice" e do jornal "A Bola".

Foi um dos fundadores da cooperativa artística Toma Lá Disco, com Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho e Luiz Villas-Boas, entre outros.

Viu o seu nome ser atribuído a arruamentos na Baixa da Banheira (concelho da Moita) e no Poceirão (concelho de Palmela).

Morreu a 17 de abril de 2023, aos 75 anos, depois de um internamento na sequência de doença prolongada.
 
 
 
Nenhuma Morte Apagará os Beijos
 
 
Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas
                                           [clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.

Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida
                                                            [e atormentada

desvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível. 
 


in Os Olhos de Isa (1980) - Joaquim Pessoa

segunda-feira, abril 01, 2024

segunda-feira, abril 17, 2023

Hoje dia de recordar um Poeta que nos deixou...

 


Amélia dos olhos doces

Amélia dos olhos doces
quem é que te trouxe
grávida de esperança?
Um gosto de flor na boca.
Na pele e na roupa
perfumes de França.

Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras
e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama.

Amélia dos olhos doces
quem dera que fosses
apenas mulher.
Amélia dos Olhos Doces
se ao menos tivesses
direito a viver!

Amélia gaivota
amante ou poeta.
Rosa de café.
Amélia gaiata
do Bairro da Lata.
Do Cais do Sodré.

Tens um nome de navio.
Teu corpo é um rio
onde a sede corre.
Olhos Doces. Quem diria
que o amor nascia
onde Amélia morre?

Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras
e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama. 



Joaquim Pessoa

O poeta Joaquim Pessoa deixou-nos hoje...

(imagem daqui)

 

Joaquim Maria Pessoa (Barreiro, 22 de fevereiro de 194817 de abril de 2023), conhecido por Joaquim Pessoa, foi um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica português.

Com formação na área do "marketing" e da publicidade, foi diretor criativo e diretor-geral de várias agências de publicidade e autor ou coautor de diversos programas de televisão ("1000 Imagens", "Rua Sésamo", "45 Anos de Publicidade em Portugal", etc.). Foi diretor pedagógico e professor da cadeira de Publicidade no Instituto de Marketing e Publicidade, em Lisboa, e professor no Instituto Dom Afonso III, em Loulé.

Desempenhou durante seis anos (1988-1994) o cargo de diretor da Sociedade Portuguesa de Autores. Em colaboração com Luís Machado, organizou em 1983 o I Encontro Peninsular de Poesia, que reuniu prestigiados nomes da poesia ibérica. Conta com mais de 600 recitais da sua poesia, realizados em Portugal e no estrangeiro. Foi diretor literário da Litexa Editora, diretor do jornal "Poetas & Trovadores", colaborador das revistas "Sílex" e "Vértice" e do jornal "A Bola".

Foi um dos fundadores da cooperativa artística Toma Lá Disco, com Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho e Luiz Villas-Boas, entre outros.

Viu o seu nome ser atribuído a arruamentos na Baixa da Banheira (concelho da Moita) e no Poceirão (concelho de Palmela).

Morreu a 17 de abril de 2023, aos 75 anos, depois de um internamento na sequência de doença prolongada.
 
 
 
Nenhuma Morte Apagará os Beijos
 
 
Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas
                                           [clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.

Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida
                                                            [e atormentada

desvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível. 


in Os Olhos de Isa (1980) - Joaquim Pessoa

segunda-feira, junho 13, 2011

Poema para a cidade de Lisboa

(imagem daqui)

Quinta canção

Chamar-te a ti, Lisboa, camarada
e depois, eu sei lá, enlouquecer.
Que a loucura é quase um grão de nada
e tu tens um nome de mulher.

Ou dizer que és a minha namorada.
Devagar. Não vá alguém saber
que fizemos amor de madrugada
e tu trazes um filho por nascer.

Se eu inventar de noite a liberdade
de poder beijar-te os olhos e morrer,
no teu ventre não há fado nem saudade
mas apenas os filhos que eu fizer.

E pode ser que eu guarde a tempestade
de ter que aqui ficar. E então dizer
que sobre a minha boca ninguém há-de
pôr rosas de silêncio, se eu quiser.

in Canções de Ex-Cravo e Malviver - Joaquim Pessoa