Descendente de camponeses, gente modesta e analfabeta, foi uma mártir francesa
canonizada em
1920, quase cinco séculos depois de ter sido queimada viva.
Segundo a escritora
Irène Kuhn, Joana d'Arc foi esquecida pela história até o século XIX, conhecido como o
século do
nacionalismo, o que pode confirmar as teorias de
Ernest Gellner. Irène Kuhn escreveu:
Foi apenas no século XIX que a França redescobriu esta personagem trágica.
François Villon, nascido em
1431, no ano de sua morte, evoca sua lembrança na bela
Ballade des Dames du temps jadis ou seja,
Balada das damas do tempo passado -
- Et Jeanne, la bonne Lorraine
- Qu'Anglais brûlèrent à Rouen;
- Où sont-ils, où, Vierge souvraine?
- Mais où sont les neiges d'antan?
Antes aos factos relacionados,
Shakespeare tratou-a como uma bruxa;
Voltaire
escreveu um poema satírico, ou pseudo-ensaio histórico, que a
ridicularizava, intitulado «La Pucelle d´Orléans» ou «A Donzela de
Orléans».
Depois da
Revolução Francesa, o partido monárquico reavivou a lembrança da boa lorena, que jamais desistiu do retorno do rei.
Joana foi recuperada pelos profetas da «França eterna», em primeiro lugar o grande historiador romântico
Jules Michelet. Com o
romantismo, o alemão
Schiller fez dela a heroína da sua peça de teatro "
Die Jungfrau von Orléans", publicada em
1801.
Em
1870, quando a França foi derrotada pela Alemanha - que ocupou a
Alsácia e a
Lorena
- "Jeanne, a pequena pastora de Domrémy, um pouco ingénua, tornou-se a
heroína do sentimento nacional". Republicanos e nacionalistas exaltaram
aquela que deu sua vida pela pátria.
Durante a primeira fase da
Terceira República, no entanto, o culto a Joana d'Arc esteve associado à direita monárquica, da qual era um dos símbolos, como o rei
Henrique IV, sendo mal vista pelos republicanos.
O gesto do Papa inspirou-se no desejo de fazer a Igreja de França
entrar em mais perfeito acordo com os dirigentes anticlericais da III
República, mas só com a
Primeira Guerra Mundial de
1914 a
1918,
Joana deixa de ser uma heroína da Direita. Segundo Irène Kuhn, a partir
daí os "postais patrióticos" mostram Jeanne à cabeça dos exércitos e
monumentos seus aparecem como cogumelos por toda a
França. O Parlamento francês estabelece uma festa nacional em sua honra no 2º domingo de maio.
Em 9 de maio de
1920,
cerca de 500 anos depois de sua morte, Joana d'Arc foi definitivamente
reabilitada, sendo canonizada pelo Papa Bento XV - era a
Santa Joana
d'Arc. A canonização traduzia o desejo da Santa Sé de estender pontes
para a França republicana, laica e nacionalista. Em
1922 foi declarada padroeira de
França.
Joana d´Arc permanece como testemunha de milagres que pode realizar uma
pessoa, ainda que animada apenas pela energia de suas convicções, mesmo
adolescente, pastora e analfabeta, de modo que seu exemplo guarda um
valor universal.