Era filho do major Tito Alexandre Ferreira Passos e de Rita Vieira
Guimarães Passos. O seu avô, José Alexandre dos Passos, fora advogado e
professor, dedicado também ao estudo de questões vernáculas. Guimarães
Passos fez seus estudos primários e os preparatórios em Alagoas. Aos 19
anos foi para o
Rio de Janeiro, onde se juntou aos jovens boémios da época. Era a idade de ouro da
boémia
dos cafés, e não poderia haver melhor ambiente para o espírito do
poeta. Entrou para a redação dos jornais, fazendo parte do grupo de
Paula Ney,
Olavo Bilac,
Coelho Neto,
José do Patrocínio,
Luís Murat e
Artur Azevedo. Colaborou com a
Gazeta da Tarde, a
Gazeta de Notícias e
A Semana.
Nas suas colunas ia publicando cronicas e versos. Nos vários lugares
em que trabalhou, escrevia também sob pseudónimos: Filadelfo, Gill,
Floreal, Puff, Tim e Fortúnio.
Foi também
arquivista da Secretaria da Mordomia da Casa Imperial. Com a proclamação da
República,
e extinta essa repartição, Guimarães Passos perdeu o lugar e passou a
viver unicamente de seus trabalhos jornalísticos. Com a declaração da
revolta de 6 de setembro de 1893, aderiu ao movimento. Fez parte do governo revolucionário instalado no
Paraná, e lutou contra
Floriano Peixoto. Vencida a revolta, conseguiu fugir. Exilou-se em
Buenos Aires durante 18 meses. Lá colaborou nos jornais
La Nación e
La Prensa e fez conferências sobre temas literários relacionados ao
Brasil.
Em 1896, de volta do exílio, foi um dos primeiros poetas chamados para
formar a Academia Brasileira de Letras. Escolheu para seu patrono outro
boémio, o poeta Laurindo Rabelo. Encontrou, no
Rio de Janeiro,
a sua geração inteiramente transformada. Alguns dos antigos
companheiros encontravam-se agora em postos bem remunerados, eram
reconhecidos, enquanto ele permanecia como o último boémio. Ficou doente
de
tuberculose e, não conseguindo melhoras no Brasil, partiu para a
ilha da Madeira
e, daí, para Paris, onde veio a falecer, em 1909. Só em 1921 a
Academia Brasileira conseguiu fazer trasladar os restos mortais para o
Brasil. Para aqui vieram acompanhados dos de Raimundo Correia, falecido
em Paris em 1911.
Poeta parnasiano, lírico e, às vezes, um pouco pessimista, Guimarães Passos foi também humorista na sua colaboração para
O Filhote, reunida depois no livro
Pimentões, que publicou de parceria com Olavo Bilac. Ao tratar de
Versos de um simples,
José Veríssimo
viu nele o "poeta delicado, de emoção ligeira e superficial, risonho,
de inspiração comum, mas de estro fácil, como o seu verso, natural e
espontâneo, poeta despretensioso, poeta no sentido popular da palavra".
NIHIL
Sem aos outros mentir, vivi meus dias
desditosos por dias bons tomando,
das pessoas alegres me afastando
e rindo às outras mais do que eu sombrias.
Enganava-me assim, não me enganando;
fiz dos passados males alegrias
do meu presente e das melancolias
sempre gozos futuros fui tirando.
Sem ser amado, fui feliz amante;
imaginei-me bom, culpado sendo;
e se chorava, ria ao mesmo instante.
E tanto tempo fui assim vivendo,
de enganar-me tornei-me tão constante,
que hoje nem creio no que estou dizendo.
Guimarães Passos