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domingo, junho 23, 2013
A propósito da greve que os Professores vão (continuar a) fazer na 2ª-feira
Professores, uma referência contra o medo
São José Almeida - 22.06.2013
Na semana em que se assinalam os dois anos
da posse do Governo de coligação PSD-CDS, chefiado por Pedro Passos
Coelho, o executivo sofreu uma derrota política com a greve dos
professores. O dia 17 de Junho pode vir a ficar na história deste
Governo como o dia marcante no que tem sido a investida autofágica ao
próprio Estado, que o Governo tem consumado no ataque aos funcionários
públicos.
A greve dos professores no dia de exame nacional de
Português - na continuação da greve às avaliações, que já estava a ser
um sucesso - foi uma importante derrota política de todo o Governo e em
especial do primeiro-ministro, que deu cobertura à forma como o ministro
da Educação geriu este assunto e o transformou num braço-de-ferro com
os sindicatos dos professores e com os professores em geral. A derrota
foi tal que os exames previstos para o dia da greve geral já foram
antecipados para a véspera.
O primeiro-ministro autorizou e apoiou
a forma autoritária e no limite do poder democrático e do Estado de
direito como o ministro da Educação procurou forçar os professores a
irem vigiar exames. Quebrando todas as noções de bom senso e de
tentativa de conciliação social que competem ao poder executivo em
democracia, o ministro da Educação insistiu na recusa em adiar o exame
para 20 de Junho, como foi sensatamente proposto pelo colégio arbitral a
que o próprio ministro recorreu e que se recusou a decretar serviços
mínimos. Se o tivesse feito, Nuno Crato tinha de uma penada saído como
um governante que sabe dialogar e reconhecer o direito democrático à
greve, mas que pôs em primeiro lugar o interesse dos alunos. Seria visto
como um vencedor e teria esvaziado a greve dos professores, deixando os
sindicatos sem espaço político e social para remarcar a greve para
outro dia de exames.
Mas o primeiro-ministro, com o respaldo e o
veemente apoio político que deu a Nuno Crato nesta cruzada, decidiu que
mais uma vez os professores iam servir de exemplo. E adoptando a
arrogância do autoritarismo neoliberal perante o trabalho e prosseguindo
a mesma linha ideológica de que tem governado com o intuito de baixar o
valor do trabalho, o Governo seguiu em relação à greve dos professores
as regras de um manual de thatcherismo de trazer por casa. Convenceu-se
que também ele ia "quebrar a espinha" aos sindicatos. Enganou-se.
O
que o Governo conseguiu foi lançar a confusão nos exames de Português,
que ou não se realizaram ou realizaram em muitos casos atabalhoadamente.
Se não, vejamos os dados que resultam de um dia de greve. Segundo o
próprio Ministério da Educação, apenas 76% dos 75 mil alunos inscritos a
exame conseguiram realizar a provas, ou seja, cerca de 20 mil alunos
ficaram sem exame de Português, pelo que o ministério foi obrigado a
anunciar logo no mesmo dia que se realiza novo exame dia 2 de Julho.
Mas
a imagem da seriedade e do rigor de Estado, que é necessária à execução
de exames, ficou comprometida. Mesmo antes do dia, o facto de o
ministério convocar para vigiarem exames dez vezes mais professores do
que os dez mil que normalmente estariam envolvidos, mostra o desespero e
a falta de racionalidade com que o Governo agiu perante o problema. Já
em relação ao dia, os dados conhecidos falam por si.
Conclusão: o
exercício de autoritarismo protagonizado por Nuno Crato redundou em
descrédito da autoridade de Estado e na mácula do currículo dos alunos. A
greve teve assim apenas um aspecto positivo - a vitória que ela foi
para os professores. E neste sentido, ou seja, num sentido social mais
amplo, pode dizer-se que esta greve foi uma mais-valia para a sociedade
portuguesa e para a democracia.
Isto porque, se o Governo pensou
que ia fazer dos professores um exemplo e que ia "quebrar a espinha" ao
movimento sindical, a união dos sindicatos e a união com que todos os
professores agiram deu uma lição ao Governo sobre como nem tudo é
permitido e como há pessoas que não se deixam intimidar pelo medo. A
maioria da classe docente, ao mostrar que não se deixava acobardar pela
intimidação do Governo, deu uma lição de dignidade e serviu de exemplo a
toda a função pública, a todos os trabalhadores, à sociedade portuguesa
e à democracia portuguesa. Os professores estão assim de parabéns, pois
voltaram a ser uma referência para a sociedade, uma referência contra o
autoritarismo e contra o medo.
Postado por Fernando Martins às 15:30 0 bocas
Marcadores: dignidade, Escola Pública, greve, Greve dos Professores, medo, professores
sábado, junho 22, 2013
Porque continua a Greve dos Professores...
Da mobilidade especial às 40 horas semanais na Educação
Paulo Guinote, 19.06.2013
Começa a ser tempo para ver para além da forte poeira levantada nas
últimas semanas em torno do conflito entre o Governo e os professores,
ultrapassando as adjectivações e fulanizações tão úteis para o
exacerbamento das falsas paixões e posições e à sua redução a
caricaturas da situação real.
O que está em causa é
demasiado importante para deixarmos o campo livre para aqueles que
apenas pretendem mascarar os factos com argumentos não fundamentados mas
apresentados com tamanha certeza discursiva que até quase nos fazem
esquecer que estamos perante simples pre(con)ceitos ideológicos. Seja
repetir até à exaustão a “Defesa da Escola Pública” como se explicasse
tudo, seja usar até à náusea as fórmulas do “Vivemos acima das nossas
possibilidades” e “Não há dinheiro” para justificar os cortes em
sectores básicos das funções sociais do Estado enquanto permanecem os
sorvedouros financeiros de contratos com interesses privados.
Tem interesse regressar a duas questões nucleares que estão na base da escalada de insatisfação – há muito latente – dos professores, mesmo se estão longe de esgotar todos os aspectos que explicam o clima de crispação que se vive. Trata-se da questão da mobilidade especial e da relativa às 40 horas de trabalho semanal.
Mas antes gostava de colocar duas questões preliminares mais amplas, mas essenciais para se compreender tudo o que enquadra o conflito em presença. Antes de mais, gostava de sublinhar o meu desacordo em relação a todas as formulações que, a coberto do princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei, optam por soluções legislativas concretas de cariz autoritário e quase totalitário, atropelando de forma cega as diferenças e tratando de forma igual aquilo que o não é. Para além disso, existe a afirmação de todas estas medidas resultarem do chumbo das normas do Orçamento de Estado pelo Tribunal Constitucional, o que é falso pois muito do que agora se apresenta já estava contido no discurso de diversos elementos ligados ao Governo, em particular a partir da divulgação no início deste ano do estudo encomendado pelo Governo ao FMI.
Mas passemos às duas questões centrais da nova investida governamental e das razões que levam os professores a resistir-lhes:
A mobilidade especial – a profissão docente é, no quadro da administração pública e mesmo num plano mais amplo, a carreira que apresenta um nível mais elevado de mobilidade geográfica, pois a larga maioria dos docentes, mesmo depois de pertencerem aos quadros, andam com enorme regularidade de escola em escola, de terra em terra. Essa é uma realidade que quase define o exercício da docência e que os concursos plurianuais não eliminaram, pois quase tudo permaneceu na mesma. Mais grave.
Oculta-se que o novo modelo de gigantescas unidades de gestão, em conjunto com a transformação dos quadros de escola em quadros de agrupamento, levou a que cada vez mais professores de carreira deixaram de ter um local de trabalho, passando a uma itinerância diária entre estabelecimentos de ensino do mesmo agrupamento, deslocando-se sem quaisquer ajudas de custo e com intervalos de tempo diminutos para percorrer, pelo seus meios, trajectos sem transportes públicos. Essa é uma realidade presente que quase ninguém destaca com clareza. Neste contexto, a mobilidade especial, tal como agora é apresentada, significa uma ainda maior pulverização da estabilidade do trabalho docente, em particular se cruzarmos essa medida com outras destinadas a reforçar a alegada autonomia da gestão escolar.
As 40 horas semanais de trabalho – já quase todos admitiram, de forma sincera ou hipócrita, que os professores trabalham efectivamente muitos mais de 40 horas por semana, não sendo esse referencial (na linguagem de alguns governantes) o que mais choca. O que está em causa é a falta de confiança acerca do que no futuro possa acontecer com a chamada componente lectiva, ou seja, do que é considerado trabalho efectivo com os alunos ou com as horas que os professores venham a ser obrigados a permanecer no espaço escolar. O MEC alega que no despacho de organização do próximo ano lectivo se mantiveram os 22 tempos lectivos (mais exactamente os 1100 minutos) e que os professores não têm razão para protestar, querendo fazer esquecer que esse total não poderia ser alterado sem revisão do Estatuto da Carreira Docente (o que não ocorreu) e que dessa componente lectiva foram retirados os tempos relativos à direcção de turma, que é o cargo mais importante que os professores podem desempenhar na ligação entre a escola e as famílias. Os governantes na área da Educação - e todos aqueles a quem tem apetecido falar sobre o assunto com escasso ou nulo conhecimento de causa – ocultam ainda que o tempo de permanência na escola pode ser aumentado, bastando considerar como não lectivas diversas tarefas realizadas com os alunos. Algo que tem acontecido com regularidade no passado recente, de forma transversal aos governos.
É impossível não recordar que Nuno Crato iniciou o seu mandato com a declaração de que era necessário os professores fazerem mais com menos. O problema é que os professores já fazem isso há muito, têm continuado a fazê-lo e cada vez se sentem os únicos pressionados para fazer mais com menos condições de trabalho. Um economista de formação deveria conhecer a clássica teoria dos rendimentos decrescentes, segundo a qual a pressão para o aumento da produção, em condições cada vez mais adversas, leva a uma diminuição gradual da produtividade. Esse ponto, no caso dos professores, já foi atingido e ultrapassado.
O autor é professor do ensino básico e autor do blogue A Educação do meu Umbigo.
Tem interesse regressar a duas questões nucleares que estão na base da escalada de insatisfação – há muito latente – dos professores, mesmo se estão longe de esgotar todos os aspectos que explicam o clima de crispação que se vive. Trata-se da questão da mobilidade especial e da relativa às 40 horas de trabalho semanal.
Mas antes gostava de colocar duas questões preliminares mais amplas, mas essenciais para se compreender tudo o que enquadra o conflito em presença. Antes de mais, gostava de sublinhar o meu desacordo em relação a todas as formulações que, a coberto do princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei, optam por soluções legislativas concretas de cariz autoritário e quase totalitário, atropelando de forma cega as diferenças e tratando de forma igual aquilo que o não é. Para além disso, existe a afirmação de todas estas medidas resultarem do chumbo das normas do Orçamento de Estado pelo Tribunal Constitucional, o que é falso pois muito do que agora se apresenta já estava contido no discurso de diversos elementos ligados ao Governo, em particular a partir da divulgação no início deste ano do estudo encomendado pelo Governo ao FMI.
Mas passemos às duas questões centrais da nova investida governamental e das razões que levam os professores a resistir-lhes:
A mobilidade especial – a profissão docente é, no quadro da administração pública e mesmo num plano mais amplo, a carreira que apresenta um nível mais elevado de mobilidade geográfica, pois a larga maioria dos docentes, mesmo depois de pertencerem aos quadros, andam com enorme regularidade de escola em escola, de terra em terra. Essa é uma realidade que quase define o exercício da docência e que os concursos plurianuais não eliminaram, pois quase tudo permaneceu na mesma. Mais grave.
Oculta-se que o novo modelo de gigantescas unidades de gestão, em conjunto com a transformação dos quadros de escola em quadros de agrupamento, levou a que cada vez mais professores de carreira deixaram de ter um local de trabalho, passando a uma itinerância diária entre estabelecimentos de ensino do mesmo agrupamento, deslocando-se sem quaisquer ajudas de custo e com intervalos de tempo diminutos para percorrer, pelo seus meios, trajectos sem transportes públicos. Essa é uma realidade presente que quase ninguém destaca com clareza. Neste contexto, a mobilidade especial, tal como agora é apresentada, significa uma ainda maior pulverização da estabilidade do trabalho docente, em particular se cruzarmos essa medida com outras destinadas a reforçar a alegada autonomia da gestão escolar.
As 40 horas semanais de trabalho – já quase todos admitiram, de forma sincera ou hipócrita, que os professores trabalham efectivamente muitos mais de 40 horas por semana, não sendo esse referencial (na linguagem de alguns governantes) o que mais choca. O que está em causa é a falta de confiança acerca do que no futuro possa acontecer com a chamada componente lectiva, ou seja, do que é considerado trabalho efectivo com os alunos ou com as horas que os professores venham a ser obrigados a permanecer no espaço escolar. O MEC alega que no despacho de organização do próximo ano lectivo se mantiveram os 22 tempos lectivos (mais exactamente os 1100 minutos) e que os professores não têm razão para protestar, querendo fazer esquecer que esse total não poderia ser alterado sem revisão do Estatuto da Carreira Docente (o que não ocorreu) e que dessa componente lectiva foram retirados os tempos relativos à direcção de turma, que é o cargo mais importante que os professores podem desempenhar na ligação entre a escola e as famílias. Os governantes na área da Educação - e todos aqueles a quem tem apetecido falar sobre o assunto com escasso ou nulo conhecimento de causa – ocultam ainda que o tempo de permanência na escola pode ser aumentado, bastando considerar como não lectivas diversas tarefas realizadas com os alunos. Algo que tem acontecido com regularidade no passado recente, de forma transversal aos governos.
É impossível não recordar que Nuno Crato iniciou o seu mandato com a declaração de que era necessário os professores fazerem mais com menos. O problema é que os professores já fazem isso há muito, têm continuado a fazê-lo e cada vez se sentem os únicos pressionados para fazer mais com menos condições de trabalho. Um economista de formação deveria conhecer a clássica teoria dos rendimentos decrescentes, segundo a qual a pressão para o aumento da produção, em condições cada vez mais adversas, leva a uma diminuição gradual da produtividade. Esse ponto, no caso dos professores, já foi atingido e ultrapassado.
O autor é professor do ensino básico e autor do blogue A Educação do meu Umbigo.
in Público - ler artigo de opinião
Postado por Pedro Luna às 00:02 0 bocas
Marcadores: 40 horas, A Educação do meu Umbigo, dignidade, Escola Pública, greve, Greve dos Professores, mobilidade especial, Paulo Guinote, professores
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