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domingo, março 31, 2024

Porque hoje é a Páscoa da Ressurreição do Senhor...

Ressurreição de Jesus - 1619–20 (Francesco Buoneri)

 

De barro, como os outros

Nasceste, Jesus Cristo, entre as ovelhas
e as palhas de um curral,
mas, mal nasceste, o povo da Judeia
viu no céu um sinal.

Nasceste como o filho de um pastor
mas o Mundo, suspenso,
viu a estrela, o cortejo dos reis magos,
o ouro, a mirra, o incenso.

Nasceste como nascem os mortais
mas eras imortal,
e entre todas as noites só à tua
chamamos de Natal.

Foste preso, insultado, torturado
e pregado numa Cruz.
Mas do teu corpo não saía sangue,
saía sangue e luz.

Morreste como o bom e o mau ladrão,
cortou-te Deus a haste;
mas de todos os mortos, pelos séculos,
só tu ressuscitaste.

Ah, bem sabes, Senhor, que o barro é pouco
sem o sopro divino,
e que sem Deus só poderão salvar-se
o tonto e menino.

Por isso espero a morte sem terror,
sem temer o castigo.
Por que há-de recear-se a paz, o amor?
Receia-se o inimigo.

Bem sabes que o pecado original
nos roubou a inocência,
e que em nós e combatem Bem e Mal
ao longo da existência.

É difícil ao barro ser eterno.
Difícil, sobrehumano,
o longo drama que é o céu e o inferno
em cada ser humano.

Por isso eis-me a teus pés serena e calma.
Nem melhor, nem pior:
de barro, como os outros...corpo e alma
- mas a alma maior.





Fernanda de Castro

sexta-feira, julho 14, 2023

António Quadros nasceu há um século...

(imagem daqui)


António Gabriel de Castro e Quadros Ferro, conhecido como António Quadros (Lisboa, 14 de julho de 1923 - Lisboa, 21 de março de 1993), foi um filósofo, historiador, escritor, fundador e diretor do IADE, professor universitário e tradutor português

 

Vida

António Quadros licenciou-se em Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Pensador, crítico e professor, também poeta e ficcionista, foi um dos fundadores da extinta Sociedade Portuguesa de Escritores. Fundou a atual Associação Portuguesa de Escritores e o IADE - Instituto de Arte, Decoração e Design. Foi diretor das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, dirigiu a coleção Biblioteca Breve, (ICALP) e foi um dos fundadores e diretores das revistas de cultura Acto, 57 (1957-1962), e da Espiral. Pertenceu ao Grupo da Filosofia Portuguesa com Álvaro Ribeiro, José Marinho, Orlando Vitorino, Afonso Botelho, Francisco da Cunha Leão, Pinharanda Gomes, António Telmo, Dalila Pereira da Costa, António Braz Teixeira, e outros pensadores que se inspiraram em Leonardo Coimbra, Sampaio Bruno, Delfim Santos, Teixeira de Pascoaes, entre outros filósofos e autores. Fundando, com alguns dos primeiros, em julho de 1992, o Instituto de Filosofia Luso-Brasileira.

António Quadros foi ainda membro-correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filosofia, membro da INSEA (International Society for Education through Art), órgão consultivo da UNESCO, de que foi delegado em Portugal até 1981, membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social, etc.

Recebeu diversos prémios pela sua atividade literária e colaborou em diversos jornais, como o Diário de Notícias, Diário Popular, Jornal de Letras, bem como nas revistas Ler, Rumo, Persona, Colóquio, Contravento, Litoral, Atlântico, Ensaio, Leonardo.

Traduziu Albert Camus, André Maurois, Jean Cocteau e Georges Duhamel.

Em sua homenagem foi dado o seu nome a diversas Ruas António Quadros, como em São Domingos de Benfica, em Cascais.

António Quadros era filho de António Ferro e de Fernanda de Castro, ambos escritores, pai de António Roquette Ferro, Diretor-Geral do IADE; de Mafalda Ferro, fundadora e presidente da Fundação António Quadros; e de Rita Ferro, escritora.

 

in Wikipédia

Vem noite

 

Vem, noite,

Vem docemente afagar a minha alma…

Que todo este horror desapareça!

Lágrimas, soluços, tristes e longos beijos,

A tua máscara fria,

Os teus olhos fixos de quem viu a morte.

Vem noite.

 

A minha filha morreu e eu quero dormir,

Quero sonhar com esses dias em que ignorava a morte.

Não chores, meu amor!

Espera pela noite!

Iremos os dois de mão dada pela estrada fora.

Lá ao fim, a nossa filha sorri…

Vem, noite,

Vem docemente afagar a nossa alma…



in Além da Noite (1949) - António Quadros

domingo, abril 09, 2023

Porque hoje foi a Páscoa da Ressurreição do Senhor...

 

As mulheres no túmulo (1440-42 - Fra Angelico)

 

De barro, como os outros

Nasceste, Jesus Cristo, entre as ovelhas
e as palhas de um curral,
mas, mal nasceste, o povo da Judeia
viu no céu um sinal.

Nasceste como o filho de um pastor
mas o Mundo, suspenso,
viu a estrela, o cortejo dos reis magos,
o ouro, a mirra, o incenso.

Nasceste como nascem os mortais
mas eras imortal,
e entre todas as noites só à tua
chamamos de Natal.

Foste preso, insultado, torturado
e pregado numa Cruz.
Mas do teu corpo não saía sangue,
saía sangue e luz.

Morreste como o bom e o mau ladrão,
cortou-te Deus a haste;
mas de todos os mortos, pelos séculos,
só tu ressuscitaste.

Ah, bem sabes, Senhor, que o barro é pouco
sem o sopro divino,
e que sem Deus só poderão salvar-se
o tonto e menino.

Por isso espero a morte sem terror,
sem temer o castigo.
Por que há-de recear-se a paz, o amor?
Receia-se o inimigo.

Bem sabes que o pecado original
nos roubou a inocência,
e que em nós e combatem Bem e Mal
ao longo da existência.

É difícil ao barro ser eterno.
Difícil, sobrehumano,
o longo drama que é o céu e o inferno
em cada ser humano.

Por isso eis-me a teus pés serena e calma.
Nem melhor, nem pior:
de barro, como os outros...corpo e alma
- mas a alma maior.





Fernanda de Castro

quinta-feira, março 04, 2021

Poema alusivo à data...

(imagem daqui)

  
Os anos são degraus

Os anos são degraus, a Vida a escada.
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,
só Deus pode fechá-la,
pode abri-la.

São vários os degraus; alguns sombrios,
outros ao sol, na plena luz dos astros,
com asas de anjos, harpas celestiais.
Alguns, quilhas e mastros
nas mãos dos vendavais.

Mas tudo são degraus; tudo é fugir
à humana condição.
Degrau após degrau,
tudo é lenta ascensão.

Senhor, como é possível a descrença,
imaginar, sequer, que ao fim da Estrada,
se encontre após esta ansiedade imensa
uma porta fechada
e mais nada?


in Asa no Espaço (1955) - Fernanda de Castro

domingo, abril 08, 2012

Três poemas para celebrar este maravilhoso dia de Páscoa

(imagem daqui)


Páscoa

Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.


in
Diário XVI (1993) - Miguel Torga

-.-.-.-.-.


A paz sem vencedor e sem vencidos

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos


in
Dual (1972) - Sophia de Mello Breyner Andresen

-.-.-.-.-.-


De barro, como os outros

Nasceste, Jesus Cristo, entre as ovelhas
e as palhas de um curral,
mas, mal nasceste, o povo da Judeia
viu no céu um sinal.

Nasceste como o filho de um pastor
mas o Mundo, suspenso,
viu a estrela, o cortejo dos reis magos,
o ouro, a mirra, o incenso.

Nasceste como nascem os mortais
mas eras imortal,
e entre todas as noites só à tua
chamamos de Natal.

Foste preso, insultado, torturado
e pregado numa Cruz.
Mas do teu corpo não saía sangue,
saía sangue e luz.

Morreste como o bom e o mau ladrão,
cortou-te Deus a haste;
mas de todos os mortos, pelos séculos,
só tu ressuscitaste.

Ah, bem sabes, Senhor, que o barro é pouco
sem o sopro divino,
e que sem Deus só poderão salvar-se
o tonto e menino.

Por isso espero a morte sem terror,
sem temer o castigo.
Por que há-de recear-se a paz, o amor?
Receia-se o inimigo.

Bem sabes que o pecado original
nos roubou a inocência,
e que em nós e combatem Bem e Mal
ao longo da existência.

É difícil ao barro ser eterno.
Difícil, sobrehumano,
o longo drama que é o céu e o inferno
em cada ser humano.

Por isso eis-me a teus pés serena e calma.
Nem melhor, nem pior:
de barro, como os outros...corpo e alma
- mas a alma maior.





Fernanda de Castro