Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (
Lisboa,
Encarnação,
16 de março de
1825 -
Vila Nova de Famalicão,
São Miguel de Seide,
1 de junho de
1890) foi um escritor
português,
romancista,
cronista,
crítico,
dramaturgo,
historiador,
poeta e
tradutor. Foi ainda o
1.º Visconde de Correia Botelho,
título concedido pelo
rei D. Luís.
(...)
Brasão dos Viscondes de Correia Botelho (daqui)
Camilo passa os últimos anos da vida ao lado dela, não encontrando a
estabilidade emocional por que ansiava. As dificuldades financeiras, a
doença e os filhos incapazes (considera Nuno um desatinado e Jorge um
louco) dão-lhe enormes preocupações.
Sífilis, cegueira e suicídio
Desde 1865 que Camilo começara a sofrer de graves problemas visuais (
diplopia e
cegueira nocturna). Era um dos sintomas da temida
neurosífilis, o estado terciário da
sífilis
("venéreo inveterado", como escreveu em 1866 a José Barbosa e Silva),
que além de outros problemas neurológicos lhe provocava uma
cegueira, aflitivamente progressiva e crescente, que lhe ia atrofiando o
nervo ótico, impedindo-o de ler e de trabalhar capazmente, mergulhando-o cada vez mais nas trevas e num desespero
suicidário.
Ao longo dos anos, Camilo consultou os melhores especialistas em busca
de uma cura, mas em vão. A 21 de maio de 1890, dita esta carta ao então
famoso
oftalmologista aveirense, Dr. Edmundo de Magalhães Machado:
Illmo. e Exmo. Sr.,
Sou o cadáver representante de um nome que teve alguma reputação
gloriosa n’este país durante 40 anos de trabalho. Chamo-me Camilo
Castelo Branco e estou cego. Ainda há quinze dias podia ver
cingir-se a um dedo das minhas mãos uma flâmula escarlate. Depois,
sobreveio uma forte oftalmia que me alastrou as córneas de tarjas
sanguíneas. Há poucas horas ouvi ler no Comércio do Porto o nome de V.
Exa. Senti na alma uma extraordinária vibração de esperança. Poderá V.
Exa. salvar-me? Se eu pudesse, se uma quase paralisia me não
tivesse acorrentado a uma cadeira, iria procurá-lo. Não posso. Mas
poderá V. Exa. dizer-me o que devo esperar d’esta irrupção sanguínea
n’uns olhos em que não havia até há pouco uma gota de sangue? Digne-se
V. Exa. perdoar à infelicidade estas perguntas feitas tão sem cerimónia
por um homem que não conhece.
Camilo Castelo Branco
A
1 de junho
desse ano, o Dr. Magalhães Machado visita o escritor em Seide. Depois
de lhe examinar os olhos condenados, o médico, com alguma diplomacia,
recomenda-lhe o descanso numas termas e depois, mais tarde, talvez se
poderia falar num eventual tratamento. Quando Ana Plácido acompanhava o
médico até à porta, eram três horas e um quarto da tarde, sentado na sua
cadeira de balanço, desenganado e completamente desalentado, Camilo
Castelo Branco disparou um tiro de revólver na têmpora direita. Mesmo
assim, sobreviveu, em coma agonizante, até às cinco da tarde. A
3 de junho,
às seis da tarde, o seu cadáver chegava de comboio ao Porto e no dia
seguinte, conforme o seu pedido, foi sepultado perpetuamente no jazigo
de um amigo, João António de Freitas Fortuna, no cemitério da
Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa.