ARRIAGA OU AS "HARMONIAS SOCIAIS"
Faz amanhã cem anos que foi eleito (eleito...) o primeiro titular da Presidência da República, o açoriano Manuel de Arriaga. Aquela República nada tem a ver com a de hoje. E o PR de hoje, desta constituição, nada tem a ver com lugar que, então, o infeliz do dr. Arriaga foi ocupar. A 1ª República não passou de uma tirania de cariz urbano centrada no PRP que, depois, com Afonso Costa, se chamou Partido Democrático e que de democrático nada tinha. Acabou tudo às mãos da tropa e de uma outra ditadura - militar - que adubou o caminho ao Doutor Salazar e à sua ditadura corporativa, mais conhecida por Estado Novo. Tudo visto e ponderado, não sobra motivo algum de especial alegria pela passagem do referido centenário. Como republicano, a 1ª República, de uma forma geral, não me convence a não ser pelo lado da rejeição não obstante aquela chalaça sempre comovente do Braga, de elétrico, a caminho de Belém. Vasco Pulido Valente, porventura o primeiro a "denunciar" cientificamente a ditadurazinha do PRP e do Partido Democrático - depois dele houve uns quantos "académicos" que se limitaram a copiá-lo - retratou adequadamente o dr. Arriaga e a sua impotência ornamental. «Em nenhum momento da sua longa vida excedera (ou haveria de exceder) uma mediocridade honesta. A seu favor contava-se apenas um passado de pioneiro, assaz diletante, e quase quatro décadas de fiel serviço ao Partido [Republicano]. Mas agora estava velho e cansado e a cada passo mostrava que não percebia nem se adaptava às duras realidades do mundo republicano. Sobrevivente de mais simples e tranquilos tempos, autor de um livro chamado Harmonias Sociais, entrou para a presidência em estado de inocência política e saiu para morrer, deixando atrás de si só desilusões e ruínas.» Comemorar o quê?
in portugal dos pequeninos - post de João Gonçalves
Cartaz comemorativo da eleição de Manuel de Arriaga
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (Horta, Matriz, 8 de julho de 1840 - Lisboa, Santos-o-Velho, 5 de março de 1917) foi um advogado, professor, escritor e político português. Grande orador e membro destacado da geração doutrinária do republicanismo português, foi dirigente e um dos principais ideólogos do Partido Republicano Português. A 24 de agosto de 1911 tornou-se no primeiro presidente eleito da República Portuguesa, sucedendo na chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Exerceu aquelas funções até 29 de maio de 1915,
data em que foi obrigado a demitir-se, sendo substituído no cargo pelo
mesmo Teófilo Braga, que como substituto completou o tempo restante do
mandato.
(...)
Perante um Partido Republicano Português
dividido em fações crescentemente radicalizadas, a 24 de agosto de
1911 foi eleito Presidente da República Portuguesa, por proposta de António José de Almeida. Sem o apoio da fação dos democráticos de Afonso Costa,
recolheu 121 votos em 217, tendo como apoiantes toda a ala moderada do
republicanismo português. Com 71 anos de idade, foi o primeiro Chefe do
Estado eleito do novo regime.
NOTA: é bonito ver um republicano, no primeiro texto, assumir o que foi a I república - uma ditadura, contra a opinião da maioria da população portuguesa. Eu, que sou favorável a um plebiscito sobre se queremos uma República ou uma Monarquia constitucional para o nosso país, sou de opinião que o modelo republicano (seja o da I, II ou III Repúblicas) fazem parte do problema (e não da solução) dos males que afligem o nosso país.
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