A solidão é a única certeza
A solidão é a única certeza.
Escutai: os pássaros gritam
nas azinhagas.
O relógio ausente,
a memória rachada.
Um porto de espera,
O odor vívido de mar.
já nem a tribo é refúgio
e a travessia do deserto
deixou um sabor amargo
na promessa nómada.
As ilhas são só origem
as cidades expulsam
o poeta.
Só a brancura da folha
estendida na mesa
coma sua ânsia de tinta
e o seu desejo de palavras
só essa virtualidade
nos é destino.
«A lâmpada funde-se
entre os dedos,
o silêncio apodrece.
Há flores por toda a parte,
definhando.»
a solidão é-nos destino.
Dela damo-nos conta
quando o encontro se desfaz,
entre gafes,
balbuciamentos.
Respiro, é tarde.
O teu retrato exude
a melancolia
de todas as distâncias.
Suspiro, cismo.
Um corvo crocita
de árvore em árvore.
No passado que se aproxima
terei sido esquecido.
Rui Diniz
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