domingo, setembro 03, 2023

O poeta Raul de Carvalho deixou-nos há 39 anos...


(imagem daqui)

 
Nome: Raul Maria Penedo de Carvalho
Nascimento: 04-09-1920, Alvito
Morte: 03-09-1984, Porto

Poeta português, nasceu a 4 de setembro de 1920, no Alvito, Alentejo, e morreu a 3 de setembro de 1984, no Porto. Colaborou, nos anos 40, em Cadernos de Poesia, revelando-se com a publicação de As Sombras e as Vozes, ainda próximo de uma poesia tradicional a que não é alheio o influxo neo-realista. Co-dirigiu, com os poetas António Luís Moita, António Ramos Rosa, José Terra e Luís Amaro, entre 1951 e 1953, a revista Árvore, subscrevendo, no n.° 1, em "A Necessidade da Poesia", como imperativos da escrita poética, a liberdade e a isenção ("Não pode haver razões de ordem social que limitem a altitude ou a profundidade dum universo poético, que se oponham à liberdade de pesquisa e apropriação dum conteúdo cuja complexidade exige novas formas, o ir-até-ao-fim das possibilidades criadoras e expressivas."). É durante esta década que Raul de Carvalho escreve ou publica alguns dos seus títulos mais significativos, recebendo, como reconhecimento da sua atividade, em 1956, o Prémio Simon Bolivar no Concurso Internacional de Poesia de Siena. Colaboraria ainda em Cadernos do Meio-Dia, num itinerário poético de cerca de quarenta anos, permeável por vezes a um imediatismo, herdado de Campos ou Whitman, e onde ecoam "os sinais de um doloroso percurso pessoal" (cf. FERREIRA, Serafim - "Nos Oitenta Anos do Nascimento de Raul de Carvalho", in A Página da Educação, n.° 94, Setembro de 2000). Para Eduardo Lourenço, "a outra metade da inesgotável imagem de Campos, recriação e aprofundamento original de uma similar sensibilidade, revive na obra de Raul de Carvalho, um dos mais autênticos e puros poetas do seu e nosso tempo. A torrente admirável do seu lirismo encobre um pouco o secreto gesto que nela está empurrando sem cessar a solidão do Homem para um ponto que fica algures no universo. Na sua poesia se unificam e resgatam até os bocados que havia a mais na jarra definitivamente partida de Pessoa." (LOURENÇO, Eduardo - Tempo e Poesia, Ed. Inova, Porto, 1974, p. 219).
   

 

Coração sem imagens



Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

 

2 comentários:

Manuel M Pinto disse...

António Sérgio de Sousa
(n.1883/09/03 – m.1969/01/24)
"Foi dos pensadores mais marcantes do Portugal contemporâneo, com uma vasta obra que se estende da teoria do conhecimento, à filosofia política e à filosofia da educação, passando pela filosofia da história. Escritor, pensador e pedagogo português, nascido em Damão, Índia, a sua vida foi dedicada à reforma educacional em Portugal.
"Defendeu que é no indivíduo, em cada indivíduo, que a unidade da consciência se manifesta: «caminhe-se para a liberdade através da liberdade»! Neste contexto formulou a sua doutrina sobre o socialismo cooperativista, surgindo-lhe o cooperativismo como a forma de organização social mais consentânea com a sua concepção do homem como ser activo e criador. Com a proclamação da República (1910/10/05), passou a trabalhar a favor da reforma da educação no nosso país. Assim, foi um dos fundadores do movimento denominado Renascença Portuguesa, fundamentalmente voltado para as questões educacionais. Criou e dirigiu também várias revistas e jornais que tratavam do assunto, como a revista Pela Grei (1918). Titular da pasta de Instrução Pública (1923), no ministério reformista de Álvaro de Castro. Com a ascensão de Salazar ao poder, foi obrigado a exilar-se em Paris, depois em Madrid, de onde regressou a Portugal depois de ter sido abrangido por uma amnistia."

Fernando Martins disse...

Obrigado pela sugestão - publicámos um post a recordar os 140 anos do seu nascimento...