sexta-feira, junho 09, 2023

José Gomes Ferreira nasceu há 123 anos

(imagem daqui)

José Gomes Ferreira (Porto, 9 de junho de 1900 - Lisboa, 8 de fevereiro de 1985) foi um escritor e poeta português, filho do empresário e benemérito Alexandre Ferreira e pai do arquiteto Raul Hestnes Ferreira e do poeta Alexandre Vargas Ferreira.

Nasceu no Porto a 9 de junho de 1900. Com quatro anos de idade mudou-se para a capital. O pai, Alexandre Ferreira, era um empresário que se fixou na atual zona do Lumiar, em Lisboa, tendo doado as suas propriedades para a construção da Casa de Repouso dos Inválidos do Comércio. José estudou nos liceus de Camões e de Gil Vicente, com Leonardo Coimbra, onde teve o primeiro contacto com a poesia. Colaborou com Fernando Pessoa, ainda muito jovem, num soneto para a revista Ressurreição .
A sua consciência política começou a florescer também ela cedo, sobretudo por influência do pai (democrata republicano). Licencia-se em Direito em 1924, tendo trabalhado posteriormente como cônsul na Noruega. Paralelamente seguiu uma carreira como compositor, chegando a ter a sua obra "Suite Rústica" estreada pela orquestra de David de Sousa.
Regressa a Portugal em 1930 e dedica-se ao jornalismo. Fez colaborações importantes tais como nas publicações Presença, Seara Nova, Descobrimento, Imagem, Sr. Doutor, Gazeta Musical e de Todas as Artes e Ilustração (1926-1975). Também traduziu filmes sob o pseudónimo de Gomes, Álvaro.
Inicia-se na poesia com o poema Viver sempre também cansa em 1931, publicado na revista Presença. Apesar de já ter feito algumas publicações nomeadamente os livros Lírios do Monte e Longe, foi só em 1948 que começou a publicação séria do seu trabalho, com Poesia I e Homenagem Poética a António Gomes Leal (colaboração).
Ganhou em 1961 o Grande Prémio da Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, com Poesia III.
Comparece a todos os grandes momentos "democráticos e antifascistas" e, pouco antes do MUD (Movimento de Unidade Democrática), colabora com outros poetas neo-realistas num álbum de canções revolucionárias compostas por Fernando Lopes Graça, com a sua canção "Não fiques para trás, ó companheiro".
Em 1978 foi projetada em Lisboa pelo seu filho Raul Hestnes Ferreira a Escola Secundária de Benfica, que viria ser Escola Secundária de José Gomes Ferreira, em sua homenagem.
Tornou-se Sub-Presidente da Associação Portuguesa de Escritores em 1978 e foi candidato em 1979, da APU (Aliança Povo Unido), por Lisboa, nas eleições legislativas intercalares desse ano. Tornou-se militante do PCP (Partido Comunista Português) em fevereiro do ano seguinte. Foi condecorado pelo Presidente Ramalho Eanes como grande oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada, recebendo posteriormente o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade.
No ano em que foi homenageado pela Sociedade Portuguesa de Autores (1983), foi submetido a uma delicada intervenção cirúrgica. Veio a falecer dois anos depois, a 8 de fevereiro de 1985, vítima de doença prolongada. Em 1990, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Jorge Sampaio, descerrou uma lápide de homenagem ao escritor, na Avenida Rio de Janeiro, a sua última morada. Na ocasião discursou o escritor, pintor e amigo de José Gomes Ferreira, Mário Dionísio.
    

   

VI

  
Enchi de pedras e de cardos
os caminhos da vida para mim…
 
E aqui estou eu agora neste trono de solidão,
braços vazios sem mundo,
a mostrar com orgulho a minha dor
– tão pequena afinal
para justificar as estrelas.

   

   

in Poesia I (1948) - José Gomes Ferreira

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