O REGICÍDIO
Carruagem descoberta.
Ei-la, a Família Real.
Soa um tiro. A bala acerta
No Rei, traidora e mortal.
E outra, no mesmo instante,
Vara o Príncipe, que cai,
A sangrar, agonizante,
Depois de vingar o Pai.
Outra, ainda, fere o Infante.
Vulto de tragédia antiga,
A Rainha, em desatino,
Com flores de um ramo, fustiga
Este segundo assassino...
Foge o povo, apavorado,
Enquanto a polícia acorre
E o regicida, alvejado,
Morre.
Quadro horrendo, tal horror!
A Pátria a esvair-se, exangue!
Não pode vencer a dor
O português d'alma e sangue.
Traja luto Portugal
Cem anos que a sina traça,
Julgando ver, espectral,
Toda a Família Real
Sã e salva da desgraça.
Num novo tempo feliz,
Seja o sonho realidade!
E reverdeça a raiz!
E, inútil, murche a saudade!
António Manuel Couto Viana
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