Há 50 anos, estava por horas o
assalto e desvio do paquete 'Santa Maria'. Começa na madrugada de 22,
com a entrada de vários membros na ponte de comando do navio, e durante
vários dias vai concentrar as atenções de todo o mundo para a primeira
ação política deste género. Inicia-se um acontecimento que vai marcar o
tom da contestação a Salazar, ao regime e à política colonial.
"Em todo o país o ato de
pirataria causou indignação e repulsa", era um dos muitos títulos que
ocupavam a primeira página do Diário de Notícias de há 50 anos. Durante
os dias seguintes, variantes sem fim desse título continuaram a ser
destaque na capa do jornal, para explicar o assalto e o desvio do
paquete Santa Maria por um comando liderado por Henrique Galvão.
Era o primeiro acontecimento
radical, dos muitos que desafiariam Salazar em 1961, ano de sucessivos
contratempos políticos para com um regime que se perpetuava e com o qual
a maior parte dos portugueses convivia adormecido.
Se foi notícia em Portugal o
assalto ao Santa Liberdade, nome com que o comando o rebatizou após a
tomada do navio, a repercussão mundial foi enorme e centenas de
jornalistas de todo o planeta viajaram para o Brasil e cobriram o
acontecimento. Houve até um que, no desespero de ser o primeiro a
contactar os revoltosos, alugou uma avioneta e atirou-se de pára-quedas.
Falhou o convés e quase ia sendo devorado pelos tubarões.
Enquanto o desvio prosseguia
erraticamente até ser decidido atracar no Recife, a contra-informação em
Portugal era gigantesca, mas não suficiente para retirar a dimensão de
herói ao capitão que desafiara o ditador português e de o ato ser
notícia com interesse planetário.
Camilo Mortágua foi um dos
membros do comando de Henrique Galvão, que, aos 29 anos, participou numa
das mais extraordinárias aventuras duma vida bastante repleta de atos
de rebelião. Poucos meses depois, em outubro, entraria num avião da TAP e
executaria, com Palma Inácio, outro desvio, para sobrevoar Lisboa e
outras cidades portuguesas numa distribuição de panfletos contra o
regime.
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