sábado, abril 27, 2019

Vasco Graça Moura morreu há cinco anos

(imagem daqui)
  
Vasco Navarro da Graça Moura (Foz do Douro, 3 de janeiro de 1942 - Lisboa, 27 de abril 2014) foi um escritor, tradutor e político português
  
Biografia
Vasco Graça Moura nasceu a 3 de janeiro de 1942, na freguesia de Foz do Douro, no Porto.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde colaborou na publicação académica Quadrante (1958-1962) publicada pela Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa.
Passou 39 meses na tropa, numa altura em que era já casado e pai de dois filhos.
Foi advogado entre 1966 e 1983.
Após o 25 de Abril de 1974, aderiu ao Partido Social Democrata, tendo sido chamado a exercer os cargos de Secretário de Estado da Segurança Social (IV Governo Provisório, do independente pró-Comunista Vasco Gonçalves, porém com participação de elementos ligados ao Grupo dos Nove) e dos Retornados (VI Governo Provisório, José Pinheiro de Azevedo).
Na década de 80 enveredou definitivamente pela carreira literária, que o havia de confirmar como um nome central da literatura portuguesa da segunda metade século XX e um dos maiores defensores da língua portuguesa contra o denominado "Acordo Ortográfico" que tem sido alvo de grande polémica e resistência, não só em Portugal como em todos os países faladores de português, devido à sua introdução e implementação forçada e conta-vontade da generalidade dos povos.
Divorciou-se da sua primeira mulher, Maria Fernanda de Sá Dantas, no início dos anos 80, e voltou a casar-se mais duas vezes. Primeiro com a ensaísta Clara Crabbé Rocha, filha de Miguel Torga e de Andrée Crabbé Rocha, em 1985, e depois com Maria do Rosário Sousa Machado, em 1987, com quem teve mais duas filhas, enternecidamente referidas em vários poemas dos seus últimos livros. A sua última companheira foi Maria Bochicchio (italiana), que o acompanhou até perto da sua morte e com quem publicou O Binómio de Newton & A Vénus de Milo.
Foi director da RTP2 (1978), administrador da Imprensa Nacional - Casa da Moeda (1979-1989), presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa (1988) e da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-1995), director da revista Oceanos (1988-1995), director da Fundação Casa de Mateus, comissário-geral de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha (1988-1992) e director do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian (1996-1999).
Juntamente com António Mega Ferreira, foi o autor da proposta de realização da Exposição Mundial de 1998 em Lisboa, que mais tarde seria considerada pelo Bureau International de Expositions uma das melhores exposições internacionais de sempre.
De novo pelo PSD foi durante dez anos consecutivos deputado ao Parlamento Europeu, integrando o Grupo do Partido Popular Europeu, desde 1999 até 2009.
Em janeiro de 2012, o Secretário de Estado da Cultura do governo de Passos Coelho, Francisco José Viegas, nomeou Vasco Graça Moura para a presidência da Fundação Centro Cultural de Belém, substituindo assim António Mega Ferreira, mantendo-se no cargo mesmo quando procurava curar-se do cancro que lhe provocou a morte, a 27 de abril de 2014. No mesmo dia, Pedro Passos Coelho, então primeiro-ministro de Portugal, destacou o percurso político de Graça Moura e a sua actividade como "divulgador das letras portuguesas", afirmando que o escritor deixou um "vasto legado literário, marcado pela inspiração e pela dedicação à língua portuguesa, que enriqueceu como poucos, uma constante procura da identidade nacional e um clarividente pensamento sobre as raízes, a herança política e filosófica e o futuro da Europa", concluindo: "Portugal perdeu hoje um dos seus maiores cidadãos".
Graça Moura foi uma das vozes mais críticas do Acordo Ortográfico, que considerava que apenas "serve interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo".
  
Obras publicadas
Poesia
  • Modo Mudando (1963);
  • Semana Inglesa (1965);
  • O Mês de Dezembro e Outros Poemas (1976);
  • A Sombra das Figuras (1985);
  • O Concerto Campestre (1993);
  • Sonetos Familiares (1994);
  • Uma Carta no Inverno (1997);
  • Nó cego, o Regresso (2000);
  • Testamento de VGM (2001);
  • Letras do Fado Vulgar (2001);
  • Antologia dos Sessenta Anos (2002);
  • Variações Metálicas (2004);
  • Mais Fados & Companhia (2004);
  • Os nossos tristes assuntos (2006);
  • O Caderno da Casa das Nuvens (2010);
  • Poesia Reunida, vol. 1 (2012);
  • Poesia Reunida, vol. 2 (2012);
  • A Puxar ao Sentimento - 31 Fadinhos de Autor (2018, póstumo).
  
Ensaio
  • Luís de Camões: Alguns Desafios (1980);
  • Caderno de Olhares (1983);
  • Camões e a Divina Proporção (1985);
  • Os Penhascos e a Serpente (1987);
  • Várias Vozes (1987);
  • Fernão Gomes e o Retrato de Camões (1987);
  • Cristóvão Colombo e a floresta das asneiras (1991);
  • Sobre Camões, Gândavo e Outras Personagens (2000);
  • Adamastor, Nomen Gigantis (2000);
  • Páginas do Porto (2001);
  • Fantasia e Objectividade nos Descobrimentos Portugueses (2006);
  • Acordo Ortográfico: A Perspectiva do Desastre (2008);
  • Diálogo com (algumas) imagens (2009);
  • Amália Rodrigues: dos poetas populares aos poetas cultivados (2010);
  • Miguel Veiga - Cinco Esboços para um Retrato (2011);
  • Os Lusíadas para Gente Nova (2012);
  • A Identidade Cultural Europeia (2013);
  • Discursos Vários Poéticos (2013);
  • Retratos de Camões (2014).
 
Novela
  • O pequeno-almoço do Sargento Beauchamp: (uma novela) (2008)
  • Os Desmandos de Violante (2011)
   
Romance
  • Quatro Últimas Canções (1987);
  • Naufrágio de Sepúlveda (1988);
  • Partida de Sofonisba às seis e doze da manhã (1993);
  • A Morte de Ninguém (1998);
  • Meu Amor, Era de Noite (2001);
  • Enigma de Zulmira (2002);
  • Por detrás da magnólia (2008);
  • Alfreda ou a Quimera (2008);
  • Morte no Retrovisor (2008);
  • O Mestre de Música (2015) (continuação da novela O pequeno-almoço do Sargento Beauchamp);
  • As botas do Sargento.
 
Diário e Crónica
  • Circunstâncias Vividas (1995);
  • Contra Bernardo Soares e Outras Observações (1999).
 
Traduções (resumo)
  • Fedra, de Racine
  • Andromaca, de Racine
  • Berenice, de Racine
  • O Cid, de Corneille
  • A Divina Comédia, de Dante
  • Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand
  • O misantropo, de Molière
  • Sonetos, de Shakespeare
  • Testamento de François Villon e algumas baladas mais (1997)
  • A Vita Nuova, de Dante Alighieri
  • Alguns amores, de Ronsard
  • Elegias de Duino e Os Sonetos a Orfeu, de Rainer Maria Rilke
  • Os triunfos, de Petrarca
  • As Rimas, de Petrarca
  • O Poema sobre o Desastre de Lisboa, de Voltaire
Antologias
  • As mais belas Histórias Portuguesas de Natal;
  • 366 Poemas que Falam de Amor;
  • Visto da Margem Sul do Rio o Porto
  • O Binómio de Newton e a Vénus de Milo.
   
   
Prémios e distinções
Prémios
  
Obras premiadas
  • Prémio Literário Município de Lisboa (1984) por Os rostos comunicantes
  • Prémio Literário Município de Lisboa (1987) por A furiosa paixão pelo tangível
  • Prémio de Poesia do P.E.N. Clube Português (1994) por O concerto campestre
  • Prémio Municipal Eça de Queiroz (1995) por Sonetos familiares
  • Grande Prémio de Tradução Literária (1996) por Vita Nuova de Dante
  • Grande Prémio de Poesia APE/CTT (1997) por Uma carta no Inverno
  • Prémio Internacional Diego Valeri (2004) por Rimas de Petrarca
  • Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (2004) por Por detrás da magnólia
  • Prémio de Tradução Paulo Quintela, da Universidade de Coimbra (2006) por Rimas de Petrarca
    
Condecorações nacionais
   
Condecorações estrangeiras



soneto do amor e da morte
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.  
Vasco Graça Moura

Sem comentários: