Pequeno poema
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
*+*+*+*
Toada do Ladrão
A mim não me roubaram
Porque eu nada tinha.
Mas roubaram tudo
À minha vizinha.
Vejam os senhores:
Roubaram-lhe a ela
A filha mais grácil,
A filha mais bela.
Nem na sua casa,
Nem na freguesia,
Sequer no concelho,
Melhor não havia.
Prendada, bonita...
E depois... uns modos
De matar a gente,
De prender a todos.
Dizia a vizinha
Que era o seu tesoiro;
Que valia mais
Que a prata e que o oiro.
Que a não trocaria
Por coisa nenhuma;
Que filhas assim
Só havia uma.
Pois hoje um ladrão
Que há muito a mirava
Entrava-lhe em casa
Para sempre a levava.
É a minha vizinha
Dona de solares
E de longas terras
Com rios e pomares.
E de jóias raras
Que ninguém mais tinha,
Ei-la num instante
Pobrinha... pobrinha...
(Tem pomares ainda,
Tem jóias, tem oiro...
Mas de que lhe servem
Sem o seu tesoiro?)
- Vizinha e senhora,
Não me queira mal!
Se há ladrões felizes
Sou o mais feliz
Que há em Portugal.
Sebastião da Gama
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