terça-feira, fevereiro 26, 2019

O poeta Fernando Echevarría nasceu há noventa anos

(imagem daqui)
 
Fernando Echevarría (Cabezón de la Sal, Santander, Espanha, 26 de fevereiro de 1929) é um poeta português. Nascido na Cantábria, filho de pai português e mãe espanhola, veio com dois anos para Portugal, para Vila Nova de Gaia, onde fez os seus estudos de ensino secundário e cursou Humanidades. Aos dezassete anos voltou para Espanha, onde estudou Filosofia e Teologia, sem concluir qualquer curso. Optou pela carreira docente, primeiro no Porto e depois, já exilado em Paris, para onde parte em 1961 e onde passou novamente a residir desde 1966, após ter estado em Argel, entre 1963 e 1966, residindo desde então na cidade-luz. Embora sendo fluente noutras línguas, escreveu sempre em português e só ocasionalmente nas línguas castelhana e francesa (parte da sua obra está traduzida em francês, castelhano, inglês e romeno). Colaborou em várias revistas literárias portuguesas como Anto, Graal, Cavalo Azul, Eros, Colóquio/Letras, A Phala, Hífen e Limiar. A sua poesia, com um barroquismo intenso, que lhe caldeia o estilo, faz adivinhar o seu fascínio pela poesia de Gôngora e pelas “analogias truncadas” de Mallarmé. Já a busca de um lirismo abstracto e essencial aproximava-o de dois grupos de poetas espanhóis: a Geração de 98, com poetas como António Machado e Juan Ramón Jiménez, e da Geração de 27, com Jorge Guillén e Pedro Salinas como exemplos. Pode dizer-se que a poesia de Echevarría se se insere na corrente antirrealista dos anos 50 do século XX, marcada sobretudo pela sensibilidade metafísica e artística e pelo "imaginismo". Já com uma idade avançada, continua escrever com uma pujança que não se esperava, como o prova o seu último livro, Categorias e Outras Paisagens, livro de poesia lançado em outubro de 2013, com 511 páginas.
Obras
  • Entre Dois Anjos (1956)
  • Tréguas para o Amor (1958)
  • Sobre as Horas (1963)
  • Ritmo real (1971)
  • A Base e o Timbre (1974)
  • Media Vita (1979)
  • Introdução à Filosofia (1981)
  • Fenomenologia (1984)
  • Figuras (1987)
  • Poesia (1956-1979) (1989)
  • Livro (1991)
  • Sobre os Mortos (1991)
  • Poesia (1980-1984) (1993)
  • Uso da penumbra (1995)
  • Geórgicas (1998)
  • Poesia (1987-1991) (2001)
  • Introdução à Poesia (2001)
  • Corpo Intenso (2003)
  • Epifanías (2006)
  • Obra Inacabada [Poesia Completa 1956-2006] (2006)
  • Lugar de Estudo (2009)
  • Antologia (2010)
  • In Terra Viventium (2011)
  • Categorias e Outras Paisagens (2013)
  • Obra Inacabada (2 vols, 2016).
Prémios
  • Grande Prémio de Poesia do Pen Club (1981 e 1998), por Introdução à Filosofia
  • Grande Prémio de Poesia Inasset (1987), por Figuras
  • Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1991), por Sobre os Mortos
  • Prémio de Eça de Queiroz (1995)
  • Prémio de Poesia António Ramos Rosa (1998)
  • Prémio Luís Miguel Nava (1999)
  • Prémio Teixeira de Pascoaes (2002)
  • Prémio Padre Manuel Antunes (2005), pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
  • Prémio D. Dinis (2007), pela Casa de Mateus
  • Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen (2008) por toda sua trajetória poética compilada em 'Obra Inacabada'
Condecorado, pelo Presidente de República Portuguesa, com a Ordem do Infante D. Henrique, Grande Oficial, em 8 de junho de 2007.

Escrevemos Docemente

Escrevemos docemente. Se a figura
sobe de estar tão funda a essa mesa
é que escrever se lembra. E só da altura
de se lembrar percorre a linha acesa

a ponta de escrever, que traça a pura
forma de rosto que abre na tristeza.
E a tristeza ilumina de escultura
penumbras de volumes com que pesa.

Por isso é docemente que da linha
de estar ali aonde sempre esteve
aparece figura de rainha

que sempre foi e agora só se escreve.
E escrevermos é como se na vinha
o sol se iluminasse. E fosse breve.

 

in Figuras (1987) - Fernando Echevarría

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