Gomes Freire de Andrade e Castro (Viena, 27 de janeiro de 1757 - Forte de São Julião da Barra, 18 de outubro de 1817) foi um general português.
Biografia
Era filho de António Ambrósio Pereira Freire de Andrade e Castro, embaixador de Portugal na corte austríaca, e de Elisabeth, Condessa Schaffgotsch genannt Semperfrei von und zu Kynast und Greiffenstein, vinda de uma antiga e ilustre família nobre da Boémia.
Teve a educação que na época se costumava dar aos filhos da nobreza.
Seu pai, António Ambrósio Pereira Freire de Andrade e Castro, fora um
ótimo colaborador do marquês de Pombal na campanha contra a Companhia de Jesus, sendo o filho Gomes Freire enviado para Portugal com 24 anos de idade, em Fevereiro de 1781, já com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Destinado à carreira militar, assentou praça de cadete no regimento de Peniche, sendo em 1782 promovido a alferes. Passou à Armada Real, embarcando em 1784 na esquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas de Carlos III de Espanha no bombardeamento de Argel.
Regressou a Lisboa em setembro, promovido a tenente do mar da Armada Real, e, em abril de 1788, voltou ao antigo regimento no posto de sargento-mor.
Tendo alcançado licença para servir no exército de Catarina II, em guerra contra a Turquia, partiu para a Rússia. Em São Petersburgo terá conquistado as maiores simpatias na corte e da própria imperatriz. Na campanha de 1788-1789, comandada pelo príncipe Potemkin, ter-se-á distinguido nas planícies do rio Danúbio, na Guerra da Crimeia e sobretudo no cerco de Oczakow, alegadamente o primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em 17 de outubro de 1788 depois de cerco prolongado. Na hora das condecorações esqueceram-se dele, negando-lhe a Comenda de São Jorge. Mas ele protesta, pede atestados de heroísmo ao coronel Markoff, e a imperatriz condescende atribuindo-lhe o posto de coronel do seu exército, que em 1790 lhe foi confirmado no exército português, mesmo ausente.
Foi iniciado na Maçonaria antes de 1785, provavelmente em Viena na Loja Zur gekrönten Hoffnung (À Esperança Coroada), a cujo quadro pertencia, juntamente com Wolfgang Amadeus Mozart, em 1790. Tinha então o grau de Mestre. Ocupa o cargo de Venerável da Loja Regeneração.
Depois, na esquadra do príncipe de Nassau, salva-se milagrosamente durante a batalha naval de Schwensk,
quando os canhões suecos fazem ir a pique a "bateria flutuante" que
ele comandava. Perdeu-se toda a tripulação, mas Gomes Freire conseguiu
salvar-se, acabando por receber o hábito de São Jorge, uma das Ordens mais importantes da Rússia, não das mãos da imperatriz, como se tem dito, mas sim das do príncipe de Nassau,
em nome da imperatriz. Houve rumores de simpatia e entusiasmo da
imperatriz por Freire de Andrade, aparentemente confirmado pelas
desinteligências entre ele e o príncipe de Potemkin, favorito conhecido.
Voltou a Lisboa, nomeado coronel do regimento do marquês das Minas, prestes a embarcar para a Catalunha, na divisão que Portugal enviava auxiliar a Espanha contra a República francesa e a que chegou em 11 de novembro de 1793, seguindo por terra. Nesta expedição iam estrangeiros no Estado-Maior: o duque de Northumberland, general e par de Inglaterra, o príncipe de Luxemburgo Montmorency, o conde de Chalons, o conde de Liautaud. O regimento de Freire de Andrade e o de Cascais ocuparam a povoação de Rebós, na sua linha de batalha, correndo logo às trincheiras da ponte de Ceret,
onde o exército espanhol estava a ponto de capitular. A acção do
regimento terá sido brilhante, apesar do mau desempenho de Gomes Freire
de Andrade, carregando os franceses com brio em combate a 26 de novembro de 1793. Em Arles, acampou em quartéis de inverno o seu regimento e o de Cascais, que constituíam a 2° Brigada, comandada por ele. Segundo Latino Coelho, começa aí a evidenciar-se o espírito indisciplinado e irrequieto de Gomes Freire; desordeiro e intrigante, "o animo altivo do coronel, avesso, como era a toda a sujeição, difundia na divisão auxiliar o fermento da indisciplina".
Mas apesar das vitórias do exército hispano-português sobre os
republicanos da Convenção, a guerra do Roussillon ia-se tornar
armadilha, os espanhóis tinham 18 mil feridos em hospitais e os
portugueses mil homens fora de combate, enquanto os franceses recebiam
constantes reforços. Em 29 de abril de 1794
o general Dugommier atacou a esquerda do exército espanhol, composta
de corpos da divisão portuguesa, que sustentou o fogo do romper da
manhã às catorze horas, salvando o exército espanhol.
Em 1801 reúne-se em sua casa a assembleia que levou à organização definitiva da Maçonaria Portuguesa, com a posterior criação do Grande Oriente Lusitano em 1802, sendo eleito como um dos seus principais dignitários.
Regressado a Portugal, veio a integrar a "Legião Portuguesa" criada por Jean-Andoche Junot e que, sob o comando do marquês de Alorna, partiu para França em Abril de 1808, onde vem a ser recebida por Napoleão Bonaparte no dia 1 de junho. Participou na campanha da Rússia.
Entretanto, fez parte da Loja Militar Portuguesa Chevaliers de la Croix (Cavaleiros da Cruz), em Grenoble, entre 1808 e 1813. onde vem a ser o 5.º Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, de 1815 ou 1816 a 1817.
Acusação e execução
Libertado Portugal da ocupação das tropas francesas, e após a derrota
de Napoleão, Freire de Andrade ao regressar a Portugal, veio a ser
implicado e acusado de liderar uma conspiração em 1817 contra a monarquia de Dom João VI, em Portugal continental representada pela Regência, então sob o governo militar britânico do marechal William Carr Beresford. Foi detido, preso, condenado à morte e enforcado (embora tenha pedido para ser fuzilado) junto do Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, por crime de traição à Pátria, juntamente com outras onze pessoas: o coronel Manuel Monteiro de Carvalho, os majores José Campelo de Miranda e José da Fonseca Neves
e mais oito oficiais do Exército. Essa data, 18 de outubro, foi,
durante mais de um século, dia de luto na Maçonaria Portuguesa. Ainda
hoje o seu nome é venerado como um dos grandes maçons e mártires da
Liberdade de todos os tempos, tendo sido numerosas as lojas crismadas
com o seu nome e abundantes os iniciados que o escolheram como nome
simbólico.
Após o julgamento e execução do tenente-general e outros, Beresford
deslocou-se ao Brasil para pedir mais poderes. Havia pretendido
suspender a execução da sentença até que fosse confirmada pelo soberano
mas a Regência, "melindrando-se de semelhante insinuação como se
sentisse intuito de diminuir-se-lhe a autoridade, imperiosa e arrogante
ordena que se proceda à execução imediatamente".
Este procedimento da Regência e de Lord Beresford, comandante em chefe britânico do Exército português e regente de facto do reino de Portugal, levou a protestos e intensificou a tendência anti-britânica, o que conduziu o país à Revolução do Porto
e à queda de Beresford (1820), impedido de desembarcar em Lisboa ao
retornar do Brasil, onde conseguira de D. João VI maiores poderes.
(imagem daqui)
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