República de Coimbra fecha portas depois de renda ter aumentado 6.000%
As repúblicas de Coimbra integram a zona classificada como Património Mundial pela UNESCO
República 5 de Outubro fecha no fim do mês e outras sete podem ir pelo mesmo caminho. Estudantes culpam nova lei do arrendamento.
O Conselho de Repúblicas acusa a lei do arrendamento de ter forçado o
fecho de portas da República 5 de Outubro, em Coimbra, estando mais
sete outras repúblicas da cidade em risco de fechar devido à
actualização das rendas.
A República 5 de Outubro,
com mais de 40 anos de existência, encerra no final deste mês, depois de
a renda ter sido aumentada de 12,5 euros para 764 euros, a 1 de agosto –
um aumento de 6.012% –, tendo-se tornado “impossível” aos quatro
estudantes da república pagarem a renda, saindo ao final de três meses
de incumprimento.
“Não houve sequer um tempo de reacção”, afirmou à
agência Lusa Micaela Silva, que esteve três anos na República 5 de
Outubro, relembrando que a senhoria estipulou como renda o valor máximo
permitido durante os cinco anos de adaptação da nova lei de arrendamento
– um quinze avos do valor do imóvel.
Micaela considerou que
muitas outras repúblicas poderão seguir o mesmo caminho “nos próximos
tempos” e que o futuro das mesmas “está em risco”.
As repúblicas
de Coimbra estão “a sofrer a asfixia de uma lei cega e injusta”, não
conseguindo fazer face a “aumentos de até 6.300%” nas rendas, afirmou o
Conselho de Repúblicas num comunicado.
Rafael Marques, da
República Rás-te-Parta, e que esteve presente no Conselho de Repúblicas
que se realizou a 14 de Outubro, disse à agência Lusa que há pelo menos
mais sete repúblicas, das 26 existentes, em risco de fechar portas
devido à actualização do valor das rendas, entre elas a República do
Palácio da Loucura e o Solar Residência dos Açorianos.
O futuro
das repúblicas de Coimbra, que são parte integrante da zona classificada
como Património Mundial pela UNESCO, “está minado”, considerou Rafael
Marques, explicando que apenas as repúblicas que são proprietárias do
imóvel ou em que o proprietário é a universidade ou a Câmara de Coimbra
poderão ter o seu futuro salvaguardado.
O estudante referiu ainda
que, apesar de as rendas anteriores serem muito diminutas, as casas eram
“mantidas pelos repúblicos”, estando eles responsáveis pelas obras
estruturais, não havendo qualquer investimento por parte do senhorio.
A
actualização das rendas, segundo a visão de Rafael Marques, promoveu
também “a especulação imobiliária”, com imóveis a terem o seu valor
aumentado, apesar de a casa estar “em risco de ruir”.
O estudante
manteve também reservas face ao futuro e ao fim dos cinco anos de
adaptação da lei que entrou em vigor em 2012: “Aí, [em 2017] o senhorio
poderá pedir o que quiser”.
Diogo Barbosa, da República dos Inkas,
referiu à agência Lusa que, com o aumentar das rendas, “o carácter de
acção social que as repúblicas tinham vai deixar de existir”,
acreditando que se está “a preparar o fim das repúblicas”.
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