Sítio arqueológico teve novas escavações
Há uma nova interpretação sobre os concheiros de Muge
A região onde está o sítio arqueológico dos concheiros de Muge, em Salvaterra de Magos, terá sido há 8000 anos um estuário semelhante ao de Lisboa, e as conchas terão sido colocados em algumas décadas para sinalizar e proteger o local que foi descoberto há 150 anos.
A convicção é de Nuno Bicho, responsável científico das escavações que
decorrem há quatro anos no Cabeço da Amoreira, numa área equivalente a
meio campo de futebol.
Os meios científicos actuais e o pormenor com que têm decorrido os trabalhos permitem novas interpretações sobre a ocupação do local e a comunidade que o habitou há cerca de 8000 anos, disse o arqueólogo à Lusa.
Além de contrariar a ideia de que os montes de conchas (resultantes de uma componente importante da alimentação daquela comunidade) foram sendo depositados ao longo de milénios, a equipa entende ainda que a comunidade de caçadores recolectores que ali se instalou era socialmente mais complexa do que se pensava.
Como exemplo, Nuno Bicho aponta o esqueleto encontrado no final de Julho - uma mulher jovem enterrada há cerca de 7500 anos - e que só o detalhe da escavação permitiu “ler” o conjunto de cuidados colocados no enterramento, revelando uma complexidade de rituais nunca antes registada, apesar dos mais de 300 esqueletos encontrados nas escavações anteriores neste sítio arqueológico.
“Agora poderíamos replicar o enterramento”, disse, referindo o processo de enterramento e pormenores, como a posição lateral do corpo com joelhos flectidos, uma mão sobre um joelho e outra sobre o peito, e a colocação criteriosa de conchas de berbigão e de lambujinha, três escápulas de veado, um fragmento de crânio de cão e alguns pequenos artefactos em pedra.
Para o arqueólogo, estes detalhes permitem vislumbrar a presença de uma sociedade mais complexa do ponto de vista social do que inicialmente se supunha, “com alguma hierarquização do ponto de vista etário e de género, com uns elementos mais importantes que outros, com funções específicas e umas mais dignificadas que outras”.
Por outro lado, Nuno Bicho refere que a informação trazida à luz pelas escavações mais recentes permite concluir que houve um interregno “talvez de 300 anos entre a ocupação e a deposição de conchas”, o que o leva a admitir que os descendentes da comunidade original, “por qualquer razão”, regressaram ao local para o proteger.
“Puseram as conchas num período muito rápido - não temos possibilidade de saber quão rápido, mas sabemos que essa tarefa não durou mais de 100 anos – e depois de outro interregno, talvez de 200 anos, foi colocado um manto pedregoso que protegeu e selou definitivamente o local”, deixando uma “marca territorial”, disse.
As escavações permitiram ainda concluir que, já depois da cobertura com conchas (que atinge uma altura de 2,5 metros) e depois da cobertura com pedras, houve enterramentos, acrescentou.
A escavação em curso, envolvendo investigadores e arqueólogos das universidades do Algarve, de Coimbra, de Lisboa, do Porto e universidades do Canadá e de Inglaterra, teve um financiamento para três anos da Fundação para a Ciência e Tecnologia, renovado em 2009 por mais três anos, contando com o apoio da Casa Cadaval, em cujos terrenos se situam os concheiros.
Nuno Bicho espera culminar esta fase com a realização, em 2013, de uma reunião internacional para celebrar os 150 anos dos primeiros achados feitos no local.
Os meios científicos actuais e o pormenor com que têm decorrido os trabalhos permitem novas interpretações sobre a ocupação do local e a comunidade que o habitou há cerca de 8000 anos, disse o arqueólogo à Lusa.
Além de contrariar a ideia de que os montes de conchas (resultantes de uma componente importante da alimentação daquela comunidade) foram sendo depositados ao longo de milénios, a equipa entende ainda que a comunidade de caçadores recolectores que ali se instalou era socialmente mais complexa do que se pensava.
Como exemplo, Nuno Bicho aponta o esqueleto encontrado no final de Julho - uma mulher jovem enterrada há cerca de 7500 anos - e que só o detalhe da escavação permitiu “ler” o conjunto de cuidados colocados no enterramento, revelando uma complexidade de rituais nunca antes registada, apesar dos mais de 300 esqueletos encontrados nas escavações anteriores neste sítio arqueológico.
“Agora poderíamos replicar o enterramento”, disse, referindo o processo de enterramento e pormenores, como a posição lateral do corpo com joelhos flectidos, uma mão sobre um joelho e outra sobre o peito, e a colocação criteriosa de conchas de berbigão e de lambujinha, três escápulas de veado, um fragmento de crânio de cão e alguns pequenos artefactos em pedra.
Para o arqueólogo, estes detalhes permitem vislumbrar a presença de uma sociedade mais complexa do ponto de vista social do que inicialmente se supunha, “com alguma hierarquização do ponto de vista etário e de género, com uns elementos mais importantes que outros, com funções específicas e umas mais dignificadas que outras”.
Por outro lado, Nuno Bicho refere que a informação trazida à luz pelas escavações mais recentes permite concluir que houve um interregno “talvez de 300 anos entre a ocupação e a deposição de conchas”, o que o leva a admitir que os descendentes da comunidade original, “por qualquer razão”, regressaram ao local para o proteger.
“Puseram as conchas num período muito rápido - não temos possibilidade de saber quão rápido, mas sabemos que essa tarefa não durou mais de 100 anos – e depois de outro interregno, talvez de 200 anos, foi colocado um manto pedregoso que protegeu e selou definitivamente o local”, deixando uma “marca territorial”, disse.
As escavações permitiram ainda concluir que, já depois da cobertura com conchas (que atinge uma altura de 2,5 metros) e depois da cobertura com pedras, houve enterramentos, acrescentou.
A escavação em curso, envolvendo investigadores e arqueólogos das universidades do Algarve, de Coimbra, de Lisboa, do Porto e universidades do Canadá e de Inglaterra, teve um financiamento para três anos da Fundação para a Ciência e Tecnologia, renovado em 2009 por mais três anos, contando com o apoio da Casa Cadaval, em cujos terrenos se situam os concheiros.
Nuno Bicho espera culminar esta fase com a realização, em 2013, de uma reunião internacional para celebrar os 150 anos dos primeiros achados feitos no local.
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