sábado, julho 02, 2011

Um lúcido texto sobre o novo Ministro da Educação


UMA INADIÁVEL DIFERENÇA


Artigo de opinião publicado hoje no "Jornal das Letras" por Guilherme Valente, editor da Gradiva:

“Se fizermos as mesmas coisas não poderemos esperar resultados diferentes.”
(Albert Einstein)

Um Primeiro-ministro novo venceu o «amiguismo», esse cancro da vida política portuguesa. Uma primeira e decisiva diferença.

Nuno Crato, homem livre, uma inteligência analítica brilhante e um grande carácter, era para mim a melhor escolha para o desafio que é inadiável assumir na educação: serena e sustentadamente, fazer uma escola para a reconstrução do País. Dum País mais igual, mais justo e realizado, que, para isso, não poderá continuar a prescindir todos os anos de 40% da sua inteligência, atirada, pela anti-escola que temos tido, para a desqualificação e a ignorância, a exclusão e a miséria.

Perda essa numa pequeníssima parte atraída para o que é, na sua documentadíssima generalidade, a ilusão das «novas oportunidades», que são um expediente, em vez de serem a solução de recurso temporária que poderiam ter sido. Solução que poderão, de facto, vir a ser se forem a sério e se for travada a tragédia do sistema educativo que, não oferecendo as vias de formação com a qualidade e a dignidade que devia oferecer, todos os anos as alimenta.

Libertar o sistema de ensino da irracionalidade e da brutalidade, do obscurantismo que o afoga, refundando-o no conhecimento e na qualificação, na inteligência e na cultura -- que são a fonte da verdadeira liberdade -- na exigência, na responsabilidade e solidariedade. É este o desafio, tão gigantesco quanto empolgante, que Nuno Crato deverá ajudar o Primeiro-Ministro a vencer.

Com os professores -- como em muitas circunstâncias dissemos e escrevemos. Com os professores que é absolutamente imperativo reerguer, libertando-os da pressão burocrática, da desautorização e das humilhações com que – apesar da estatura e dos propósitos de dois ou três Ministros - a ideologia que dominou todos estes anos o Ministério da Educação quis apagar e foi apagando a sua função inestimável. Porque sem os professores no lugar que é o seu, sem o seu trabalho e empenho, sem a auto-exigência que certamente assumirão, sem a auto-confiança e o reconhecimento que os fará superarem-se, sem a sua dignidade justamente recuperada, não haverá escola, nem ensino. Eles são o plantel fechado com que Nuno Crato terá de alcançar vitórias.

Se assim se fizer, os pais, os portugueses livres e lúcidos, não deixarão de o apoiar.

Guilherme Valente (in De Rerum Natura - post de 29.06.2011)

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