sábado, fevereiro 05, 2011

Pelo direito à eutanásia política

(imagem daqui)

O estertor do socratismo?

por NUNO SARAIVA

A ruptura manifesta entre o ministro dos Assuntos Parlamentares - que integra o núcleo duro de José Sócrates -, os seus colegas de Governo e a bancada do PS é mais uma cena de um guião que parece apontar para o progressivo desnorte e para a agonia da governação socialista. Aliás, nos últimos tempos, não têm faltado os episódios típicos de "fim de ciclo" ou, como ficou conhecida a fase final do cavaquismo, de "estertor" do socratismo.

Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros, não hesitou há uns meses em colidir publicamente com o primeiro-ministro quando defendeu que o défice público devia ser limitado pela Constituição ou advogou um governo de salvação nacional para resolver os problemas do País. Mais recentemente, no Qatar, foi pronto a contradizer o "chefe", a propósito da venda de dívida soberana portuguesa no Médio Oriente.

No Diário de Notícias, em três semanas consecutivas, Mário Soares fez duras críticas ao PS e ao primeiro-ministro e dois elogios ao líder do PSD. O histórico que nos últimos anos foi aliado de José Sócrates não o poupou pelo apoio a Manuel Alegre, o "candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda". Foi "um erro de Sócrates, grave, sobretudo, para o futuro do PS", escreveu o fundador do partido. Isto quando no mesmo artigo elogiou o discurso de Passos Coelho na noite das eleições, dizendo que foi "politicamente responsável, muito equilibrado e inteligente". Uma semana depois, Soares voltou à carga: "Para o PS (...) é o momento (...) para dar um novo impulso à sua participação na vida política, com mais idealismo socialista e menos apparatchik, mais debate político e menos marketing, mais culto pelos valores éticos e menos boys que só pensam em ganhar dinheiro e promover- -se." Elucidativo.

José Sócrates, no auge do desgaste desde que chegou ao poder, tem pois que dirimir conflitos com e entre ministros, que resultam, naturalmente, da actual falta de articulação e autoridade no interior do Governo. Para além, claro, dos críticos do costume, como Carrilho. Ao PSD, dirão alguns, bastará fazer de morto e esperar que o Governo caia sozinho daqui a uns meses.

Há, porém, uma contabilidade que vale a pena equacionar. Se, por mero acaso, os juros da dívida continuarem a tendência de descida manifestada nos últimos leilões; se, por esta razão, a pressão dos mercados diminuir; se a execução orçamental se revelar imaculada, o que acontecerá? 

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