Crónicas cine-espeleológicas
Fomos ver o Sanctum em 3D na semana passada.
O motivo do filme: um verdadeiro clássico da Espeleologia Mundial, as crescidas! A quem nunca lhe passou semelhante evento debaixo de terra é porque, com certeza, muita espeleo não fez até hoje, ou começou ontem no “ofício” (ou tem realmente sorte, que também os há).
Bem, a ansiedade era grande, pudera Hollywood deita mão às histórias da nossa vida, isto gera sempre ansiedade e o trailer prometia: mega dolinas, floresta tropical, equipamento standart de espeleo (que é uma raridade no grande ecrã), acampamentos, e uma equipa de espeleólogos lá no fundo a tentar arrancar mais metros à gruta quando se forma uma grande tempestade…
Compro o bilhete, coloco os óculos 3D, sento-me no alto da sala de cinema e está tudo a postos para ver SANCTUM! Publicidade, grandes efeitos especiais 3D, isto promete!
Começa o filme: tudo a desembarcar toneladas de equipamento num destino tão espeleo-atractivo, como é a Papua-Nova Guiné.
Um belo voo de helicóptero, chegada ao acampamento no meio da selva, mesmo ao lado de uma brutal mega dolina, ao estilo Mexicano do Sotano de las Golondrinas!
Enquanto uns colocam a corda no rack e se soltam em estilo escalador para dentro do buraco (não fossem eles americanos, quer pelo rack, quer pelos saltos e respectivos gritinhos), outro (aquele que já se supõe que será o mau da fita, sim, sim, as expedições de espeleo também têm maus da fita) lança-se em base jump para dentro da dolina.
Aqui abro um parêntesis para informar que notei a falta da habitual publicidade à Red Bull que patrocina estes malucos. Em contrapartida a PETZL, que não dá um tusto para expedições de espeleo, patrocinou em grande o filme, é tudo PETZL, e imaginem vocês, que o Duo da PETZl agora também serve para mergulhar a grandes profundidades, fantástico, não é?
Convém notar que estão na gruta mais profunda do mundo (na PGN!?), mais de 2000 metros de profundidade, num arquipélago onde a profundidade conhecida pouco ultrapassa os – 1000 e é noutra ilha… (vá, a geografia falhou um bocadinho, mas imaginem rodar isto no Cáucaso, o ‘calor da Rússia’ das grutas dificultaria bastante a rodagem!)
A história é básica, desenvolve-se explorando os laços emocionais entre um pai, espeleo-mergulhador e espeleólogo de ponta, ao que ridicularizam dizendo que não tem mais nada na vida e um filho, uma beleza jovial de louros cabelos e olhos azuis.
Ora este filho foi privado de toda a sua juventude ao ser obrigado pelo pai, de mau feitio como todo o bom espeleólogo, a ir a muitas expedições espeleológicas pelo mundo fora (é caso para dizer, coitadinho!).
A juntar a isto temos também mulheres, intrépidas exploradoras, que morrem todas. Pois só se safa o garoto, depois de fazer as pazes com o pai e o admirar para todo o sempre.
Moral da história: Nunca desistas e conseguirás safar-te!
Quer dizer, aparte da moral anterior também se pode ver no sentido real e a moral da história será: que todos os rios correm para o mar…
Entre tudo isto, há uma rocha que tampona a última sala da gruta, depois descobrem uma passagem em espeleomergulho, chegam a uma grande galeria (seca), encontram o caminho graças à presença de guano de morcego, (e claro, Hollywood sem maniqueísmo? Nem pensem!) o mau da fita ataca, o bonzinho safa-se para poder contar a história.
Está bem, no meio, uma das raparigas fica com o cabelo preso do rack, sim realmente isto podia estar baseado numa história verdadeira (Sanctum: The Real Story), e a casmurrice de não aceitar as sugestões de quem sabe, também a leva à hipotermia.
Há uma competição serôdia e infantilizada pelos records das explorações, lá nisso foram bastante fieis à realidade. No fundo, apresentam o espeleólogo como alguém tosco, ridicularizado por gostar de estar entre pedras que não interessam a mais ninguém e que compete casmurramente, com a sua própria vida, se isso lhe der a capa de uma National Geographic ou o reconhecimento entre os seus pares!
É o melhor filme de espeleo-ficção que vi, não está mal, gostei! Ainda assim fica muito aquém do que prometia o trailer. Os cenários, ainda que alguns sejam interessantes, ficam também muito aquém da realidade. No entanto, nota-se um grande esforço assessorial no que concerne a toda a realidade espeleológica.
Agora, não é nada que se compare com um The Cave ou outras versões de caça-monstros nas grutas. Desaconselho levar a família a ver o Sanctum, porque se corre realmente o risco de que não voltem a descansar sempre que estejam fora “de expedição” em algum lugar do planeta.
Quanto aos efeitos 3D, nada que mereça ver o filme nessa versão…
Vá, reconheço que qualquer espeleólogo que vá ver este filme de espeleo-ficção, esteja sempre a postos para detectar a mínima falha, aliás foi a única coisa que fiz todo o filme e é por isso, que o vamos ver…
De realidade espeleológica vivemos nós, inundados!
in Blog NALGA - post de M007
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