Não há mecanismo que permita avisar rapidamente
Estação de alerta de tsunamis vai ser colocada ao largo do Algarve
17.08.2007 - 11h39 Teresa Firmino
Se sentir um sismo forte e estiver numa praia do Algarve, deve continuar descontraído a apanhar sol e tomar banho? Ou deve sair da praia e refugiar-se numa zona alta, para o caso de virem ondas gigantes causadas pelo sismo?
Um sistema de alerta precoce de tsunamis daria uma resposta aos banhistas em poucos minutos, o problema é não existir nenhum nesta zona do Atlântico. Mas estão a dar-se os primeiros passos nesse sentido: uma equipa de cientistas parte de Faro, hoje ou amanhã, no navio italiano Urania, para colocar, pela primeira vez, uma estação de alerta de tsunamis a 100 quilómetros a sudoeste de Sagres.
A estação vai ficar numa zona conhecida por gerar grandes sismos e tsunamis, que atingem a Península Ibérica e o Norte de Marrocos. "É uma das zonas da Europa com mais potencial de geração de tsunamis", diz Maria Ana Baptista, do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa, que participa neste projecto.
O terramoto de 1755 nasceu ali. Com uma magnitude estimada de 8,7 e 8,8 na escala de Richter, foi um dos mais fortes de que há memória e provocou um tsunami que se abateu sobre o Algarve, o golfo de Cádis, o Norte de Marrocos e Lisboa.
A sudoeste de Portugal foi também a origem do sismo 1969, com magnitude de 7,3 a 7,8. Ou de Fevereiro deste ano, o maior em Portugal continental dos últimos 37 anos (com 5,8 a 6,1 de magnitude). "Se o sismo de 2007 fosse em Agosto, as pessoas teriam de saber o que fazer. A protecção civil teria de ter informação suficiente para dizer se seria preciso evacuar as praias", diz a geofísica. "Mesmo que a maior parte dos sismos possa não ser tsunamigénico, os turistas têm de se sentir num sítio vigiado."
Evitar muitas mortes
A equipa de Nevio Zitellini, do Instituto de Ciência Marinha, em Itália, já anda de olho na região do sismo de 1755 desde os anos 90, quando identificou a localização provável da sua origem, uma falha a 100 quilómetros a oeste do Cabo de São Vicente.
O tsunami no Sudoeste asiático, a 26 de Dezembro de 2004, tornou evidente como um sistema de alerta, então inexistente no Índico, pode evitar muitas mortes. Terão morrido 226 mil pessoas.
Depois desta catástrofe, a União Europeia financiou vários projectos dedicados aos tsunamis. Um deles é o Nearest, coordenado por Zitellini, que pretende fazer observações de fontes de tsunamis perto da costa, para se desenvolver um sistema de alerta. Além de italianos e portugueses (da Universidade de Lisboa e do Instituto de Meteorologia), participam cientistas espanhóis, alemães, franceses e marroquinos.
Eficácia ainda em teste
Uma parte do projecto é a colocação da estação a sudoeste de Sagres. Ficará no fundo do mar durante um ano, numa estrutura metálica que funciona como um observatório de grande profundidade - o Geostar, onde podem instalar-se diversos tipos de instrumentos.
No caso da estação de alerta de tsunamis, vai colocar-se sismómetros e sensores de pressão, para determinar variações de altura na coluna de água e assim detectar a ocorrência de uma onda.
Mas esta estação é um protótipo, por isso ainda é preciso testá-la. Os cientistas têm de demonstrar que é possível mantê-la no mar, detectar tsunamis e tratar os dados. A ideia é ver se tudo funciona. A probabilidade de ocorrer um sismo com um tsunami durante a experiência é pequena, mas a estação não deixará de ser testada por isso. Tem de ser capaz, igualmente, de dizer aos cientistas que um pequeno sismo não provocou uma onda destruidora, para evitar falsos alertas.
Só depois de passar neste teste a estação poderá fazer parte de um futuro sistema de alerta de tsunamis. A UNESCO já tem em marcha um sistema para o Atlântico Nordeste e o Mediterrâneo, pelo que esta estação poderá vir a integrá-lo daqui a quatro anos. Até lá, só se manterá no mar, se houver vontade política e interesse dos vários Estados em torno desta zona do Atlântico, diz Maria Ana Baptista. O dinheiro comunitário, acrescenta, só dá para o funcionamento da estação durante um ano, que custa 50 mil euros.
Até tudo ficar operacional, se estiver na praia durante um sismo, sem saber se o epicentro foi em terra ou no mar, os cientistas deixam-lhe um conselho: vá-se embora.
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