quarta-feira, junho 20, 2007

Tristes tempos estes

Um dos Blogues que leio regularmente - Do Portugal Profundo - ou, mais exactamente, o seu Administrador (António Balbino Caldeira, um docente da Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Santarém) foi constituído arguido num processo com contornos políticos e, aparentemente, com o objectivo de o silenciar (um arguido passa a não poder divulgar muita coisa, por causa de outra coisa chamada Segredo de Justiça). A ele dedicamos o seguinte Poema:


Variações sobre
O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
de Alexandre O'Neill

Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.

Canto na toca. E sou um homem.
Os ratos não tiveram tempo de roer-me
os ratos não podem roer um homem
que grita não aos ratos.
Encho a toca de sol.
(Cá fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(Cá fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(Cá fora os ratos roeram o amor).

Na toca que já foi dos ratos cantam
os homens que não chiam. E cantando
a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos não roeram).

Manuel Alegre

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Não conheço o caso para poder-me pronunciar sobre o mesmo... mas a frequência com que se começa a ouvir do abafamento da livre expressão; quer porque um bufo denuncia uma anedota, quer porque alguém sabe de mais, quer porque o medo da instabilidade laborar a isso recomenda; está a tornar-se demasiado elevado para ser considerado a sério e para vir ao cimo o poema da Trova do Vento que passa "Há sempre alguém que resiste, Há sempre alguém que diz não" e talvez seja a altura de alguém dizer basta!

Fernando Martins disse...

Infelizmente é verdade, isto está ficar muito parecido com a II República...