Mostrar mensagens com a etiqueta José Matias Alves. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Matias Alves. Mostrar todas as mensagens

sábado, outubro 04, 2008

Como se escreve (por linhas tortas) o fracasso escolar de uma criança

No primeiro dia de aulas, o professor profetiza: "Esses vão ter sucesso; aqueles não". Começa aí uma das mais perigosas práticas educacionais que se desenvolvem na escola. Conheça-a de perto.

Basta um olhar, um terrível e conclusivo olhar. Com ele, o professor abarca a sua turma logo no primeiro dia de aulas e profetiza: "Esses alunos vão ter sucesso; aqueles não". E, como se estivesse munido de uma bola de cristal, determina, quase sempre sem errar, o futuro escolar daquelas crianças.

Aparentemente, a adivinhação do professor poderia não passar de um jogo de previsões baseado na sua experiência profissional. Afinal, como diz Adélia, 50 anos, vinte como professora de escola pública: "Depois de um tempo de Magistério, é fácil, olhando a turma, saber quem vai ser aplicado e quem não vai. É uma espécie de sexto sentido que a gente vai desenvolvendo". Parece normal.

Mas, na verdade, por detrás do inocente palpite do professor esconde-se uma das práticas mais perigosas - e mais comuns - exercidas na escola: a da chamada profecia auto-realizadora. Através dela, o destino do aluno é selado de forma implacável e, na maioria das vezes, irreversível.

Ao contrário do palpite, que pode dar certo ou não, a profecia tem como característica principal o facto de que, na imensa maioria dos casos, ela se realizará. Pior: ela realizar-se-á sem que a criança tenha qualquer possibilidade de mudar o prognóstico do professor. Por uma simples e terrível razão: porque o professor quer que ela se realize. A partir desse desejo, ele pautará o seu relacionamento com os alunos de maneira que o seu julgamento inicial se concretize no final do ano. Aqueles para quem ele previu um destino de fracasso fracassarão. Aqueles a quem ele profetizou sucesso serão bem sucedidos. Tem que acontecer. E acontece.

(Continua AQUI...)


Publicado no Correio Pedagógico nº 16, Março 1988; exclusivo Nova Escola/Correio Pedagógico

in Blog terrear - post de José Matias Alves

Dos Testes de Diagnóstico...

Começo por dizer que não conheço a dimensão do que vou relatar. Adianto ainda que é prática tradicional da generalidade dos professores realizarem provas de diagnóstico no início de um percurso de aprendizagem para ajustarem a planificação aos pontos de partida dos alunos. Provas de diferentes feitios, formatos e durações... e que não tinham qualquer expressão quantitativa.

Mas este ano, muito por efeito da necessidade de se medir os 'progressos' nos resultados dos alunos, parece ter-se generalizado a realização formal de UMA prova de diagnóstico para depois, no final do ano, se compararem os resultados e se "medir" o valor acrescentado que cada professor conseguiu.

Ora (e sublinho que não sei a dimensão deste caso) a verificar-se esta prática de transformar um dispositivo compósito ao serviço da avaliação formativa e reguladora do ensino e das aprendizagens, numa prova escrita sumativa para medir conhecimentos para depois os contrastar no final do ano, estamos perante uma aberração e um descalabro. Com graves riscos de falta validade e fiabilidade. Uma má maneira de se começar a equacionar a "questão dos resultados na avaliação do professor" e que pode aniquilar uma prática teoricamente defensável, se reunidas certas condições organizacionais.

in Blog terrear - post de José Matias Alves