Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão esquerda benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
in Teatro do Mundo, António Gedeão, 1958
Manuel Freire - Poema da malta das naus
quinta-feira, junho 12, 2008
Gedeão e Portugal
Açores: Investigadores fazem expedição a Santa Maria
O encontro científico, organizado pelo Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, realiza-se pelo quinto ano consecutivo em Santa Maria, por ser a «única ilha do arquipélago conhecida por ter fósseis à vista» explicou Sérgio Ávila, da organização do evento.
«Santa Maria é a ilha mais antiga do arquipélago e a única que possui sedimentos marinhos fossilíferos expostos, intercalados nas suas rochas vulcânicas», disse Sérgio Ávila, acrescentando que a par da exploração de jazidas fossilíferas em Santa Maria, está também programada a deslocação ao ilhéu das Formigas.
Segundo disse, durante a maré baixa serão explorados em detalhe os níveis fossilíferos das formigas e, caso seja possível, serão recolhidas amostras.
Denominado «Paleontologia nas ilhas atlânticas», esta expedição científica vai dar primazia às jazidas Mio-Pliocénicas, que ronda os 5 milhões de anos, da «Pedra-que-Pica», Cré, Malbusca e Ponta do Castelo, indicou Sérgio Ávila.
O autor responsável pelo estudo sistemático dos moluscos marinhos fósseis marienses adiantou que prossegue, em Ponta Delgada, a inventariação e catalogação das amostras recolhidas em Santa Maria o ano passado, durante a quarta edição destas expedições.
in IOL Diário - ler notícia
Poesia de Daniel Filipe
Canto e Lamentação na Cidade Ocupada: Poema 8
O que menos importa é o fato surrado
Afinal cada qual tem o seu próprio fado
Comer um vez por dia não tem importância
É até um bom preceito de elegância
Recear a prisão.....a pancada....as torturas
ora.....quem os manda meter-se em aventuras
Não chegar o dinheiro para pagar o aluguer
nem para ir ao cinema.....nem para ter mulher
Disparates....doutra forma o poder cai na rua
e....lembrem-se senhores....a revolução continua
in a invenção do amor e outros poemas, Daniel Filipe
Stephen Jay Gould: uma lição de vida
O Carlos já nos revelou que «Sagan e Feynman que me perdoem (ambos já falecidos, tal como Gould, de cancro), Hawking, Watson e Reeves (muito vivos os três) que não fiquem ofendidos, mas Stephen Jay Gould é, de todos eles, quem melhor prosa de divulgação escreveu». A mestria do grande comunicador em transformar qualquer assunto banal numa «lição» de ciência, que permite a quem o escute ou leia integrá-la nas suas vidas, pode ser apreciada na série de entrevistas que concedeu em 1984 (disponível no Youtube).
A actualidade e relevância do pensamento de Gould, que esta série com quasi um quarto de século demonstra claramente, foram ainda evidenciadas recentemente na Science News. Patrick Barry inicia a discussão do artigo «Historical contingency and the evolution of a key innovation in an experimental population of Escherichia coli», publicado online há uma semana nos «Proceedings of the National Academy of Sciences», afirmando que «Se Stephen Jay Gould fosse vivo, estaria a sorrir. Talvez até um sorriso de regozijo (gloating no original) .
O artigo do PNAS sugere, embora não de forma conclusiva, que Gould tinha razão no aceso debate que manteve, nomeadamente com Simon Conway Morris, em relação à sua convicção de que a vida da Terra evoluiu como evoluiu devido a contingências circunstanciais e de que se estes acasos tivessem sido outros a evolução teria sido diferente.
Este é o tema do livro «Vida maravilhosa — O acaso na evolução e a natureza da história», em que Gould compara a evolução a uma fita de vídeo que, depois de visualizada e rebobinada, quando posta a funcionar de novo teria um final diferente: «Existiriam tantas contingências, que não ocorreram da primeira vez, que o curso da história seria outro. Isso é verdade também para a história e a cultura humana; e na evolução é muito frequente».
Embora Gould não seja o «pai» do conceito de contingência histórica do processo evolucionário, certamente foi um de seus mais importantes entusiastas e divulgadores. Um dos exemplos que utilizou para explicar a sua perspectiva, o desaparecimento dos dinossáurios há cerca de 65 milhões de anos, entre o Cretáceo e o Terciário (transição K-T), é desenvolvido com muita clareza no último livro que publicou ainda em vida.
«Dinossáurios e mamíferos partilharam a Terra por 130 milhões de anos, o dobro do período de sucesso dos mamíferos que se seguiu e que levou à emergência do Homo sapiens entre as outras 4.000 outras espécies vivas da nossa classe Mammalia. [...] podemos conjecturar que, na ausência deste acidente cósmico, os dinossáurios ainda dominariam os habitats de grandes animais terrestres e os mamíferos ainda seriam criaturas das dimensões de ratos, vivendo nos interstícios ecológicos do mundo reptiliano. Neste episódio, mais vitalmente pessoal que qualquer outro, deveríamos literalmente agradecer à nossa estrela da sorte [...] que na vigência das novas regras do impacto K-T certas marcas da nossa incompetência ancestral – persistência de um pequeno tamanho no mundo dos dinossáurios, por exemplo – subitamente se tenham transformado em vantagens cruciais e fortuitas enquanto a fonte prévia de triunfo para os dinossauros [o seu grande tamanho] levou à sua tragédia.
Demócrito, um dos «pais» do atomismo juntamente com Epicuro, o filósofo que inspirou o «De Rerum Natura» de Lucrécio, dizia que «tudo no universo é fruto do acaso e da necessidade». Este artigo no PNAS parece indicar que as memórias de Gould e de Demócrito se regozijariam com a notícia.
quarta-feira, junho 11, 2008
Amália e Camões
Amália Rodrigues - Com que voz
Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura prisão me sepultou,
que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado?
Mas chorar não se estima neste estado,
onde suspirar nunca aproveitou;
triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.
Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima o pé que o sofre e sente!
De tanto mal a causa é amor puro,
devido a quem de mi tenho ausente
por quem a vida, e bens dela, aventuro.
terça-feira, junho 10, 2008
Vamos homenagear Fernando Pessoa?
Fernando Pessoa, um dos ícones mais populares do século XX, viveu praticamente no anonimato. Publicou apenas um livro em português, "Mensagem", em 1934, um ano antes de morrer. Mas deixou cerca de 27 mil escritos que, desde os anos 40, vêm sendo revelados a um público cada vez maior e mais diversificado. O jornalista e poeta Claufe Rodrigues foi a Lisboa para contar a história do maior escritor português desde Camões. Visitou os lugares que ele frequentava, entrevistou diversos especialistas e conversou com as duas únicas pessoas ainda vivas que conviveram com o poeta. A fascinante história do homem que escolheu viver uma vida pequena para construir uma grande obra será exibida na Globo News por ocasião dos 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa (comemorados no dia 13 de junho deste ano).Neste site podem ver os programas na íntegra (com a participação de uma cara minha conhecida...), ler poesia, testar conhecimentos, ver caricaturas e muitas mais coisas.
Já que o nosso país o olvida, ao menos os nossos irmãos brasileiros para recordar um dos dois maiores poetas portugueses:
Torga e Camões III
Torga e Camões II
Coimbra, 11 de Janeiro de 1980
Lápide
Luís Vaz de Camões.
Poeta infortunado e tutelar.
Fez o milagre de ressuscitar
A Pátria em que nasceu.
Quando, vidente, a viu
A caminho da negra sepultura,
Num poema de amor e de aventura
Deu-lhe a vida
Perdida.
E agora,
Nesta segunda hora
De vil tristeza,
Imortal,
É ele ainda a única certeza
De Portugal.
Miguel Torga in Diário XIII
Torga e Camões
Nem tenho versos, cedro desmedido
Da pequena floresta portuguesa!
Nem tenho versos, de tão comovido
Que fico a olhar de longe tal grandeza.
Quem te pode cantar, depois do Canto
Que deste à pátria, que to não merece?
O sol da inspiração que acendo e que levanto
Chega aos teus pés e como que arrefece.
Chamar-te génio é justo, mas é pouco.
Chamar-te herói, é dar-te um só poder.
Poeta dum império que era louco,
Foste louco a cantar e louco a combater.
Sirva, pois, de poema este respeito
Que te devo e professo,
Única nau de sonho insatisfeito
Que não teve regresso!
Miguel Torga in Poemas Ibéricos, 1965
Bocage e Camões
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co' o sacrílego gigante;
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
Post de Pedro Luna in Blog Em defesa da Escola Pública e da Dignidade da Docência
Sextina camoniana
Foge-me pouco a pouco a curta vida,
– se por caso é verdade que inda vivo – ;
vai-se-me o breve tempo d’ante os olhos;
choro pelo passado em quanto falo,
se me passam os dias passo a passo,
vai-se-me enfim a idade, e fica a pena.
Que maneira tão áspera de pena!
Que nunca uma hora viu tão longa vida
em que possa do mal mover-se um passo!
Que mais me monta ser morto que vivo?
Para que choro, enfim? Para que falo,
se lograr-me não pude de meus olhos?
Ó fermosos, gentis e claros olhos,
cuja ausência me move a tanta pena,
quanta se não compreende em quanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
de vós m’inda inflamasse o raio vivo,
por bem teria tudo quanto passo.
Mas bem sei que primeiro o extremo passo
me há-de vir a cerrar os tristes olhos
que Amor me mostre aqueles por que vivo.
Testemunhas serão a tinta e pena,
que escreveram de tão molesta vida
o menos que passei, e o mais que falo.
Oh! Que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento noutro passo,
vejo tão triste género de vida
que, se lhe não valerem tanto os olhos,
não posso imaginar qual seja a pena
que traslade esta pena com que vivo.
Na alma tenho contino um fogo vivo,
que, se não respirasse no que falo,
estaria já feita cinza a pena;
mas, sobre a maior dor que sofro e passo
me temperam as lágrimas dos olhos,
com que, fugindo, não se acaba a vida.
Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
vejo sem olhos e sem língua falo;
e juntamente passo glória e pena.
Amor é um fogo que arde sem se ver
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter, com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Música alusiva à data...
Já chegou o dez de Junho, o dia da minha raça
Tocam cornetas na rua, brilham medalhas na praça
Rolam já as merendas, na toalha da parada
Para depois das comendas, e Ordens de Torre e Espada
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha
REFRÃO
Encosta o teu peito ao meu, sente a comoção e chora
Ergue o olhar para o céu, que a gente não se vai embora
Quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos
Já chegou o dez de Junho, há cerimónia na praça
Há colchas nos varandins, é a Guarda d'Honra que passa
Desfilam entre grinaldas, velhos heróis d'alfinete
Trazem debaixo das fraldas, mais Índias de gabinete
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha
Dia de Portugal - outra poesia
O Meu Pior Poema
...
Tá, tátátáaa! Tátátá, tátátáaaa!
Trrrrum! Trrrrum!
Trrrrum! Trrrrum!
Prrrpum! Prrrpum!
Tá, tátátá! Tarari, tátátáaaa!
Tá! Tátá! Tátá, tátá, tátá!
Trrrrrrum!!
Trrrrrr... rum! Trrrrrrr... rum!
Trrrr... rum! Trrrrr... rum!
Trrr... rum! Trrr... rum!
Trrrr... pum!!
...
Click! Click! Click!
Foooogo!!
BUUUUUMM!!!
(Chegaram.
Viram.
Mataram.
Ah! Valorosos!
A Pátria vos saúda!)
in Sonhos Salgados, Adelino, 1997
Dia de Portugal - António Gedeão
Poema da Alfarrobeira
Era Maio, e havia flores vermelhas e amarelas
nos campos de Alfarrobeira.
O homem,
de burel grosso e barba de seis dias,
arrastava os tamancos e o cansaço.
Ao lado iam seguindo os bois puxando o carro,
naquele morosíssimo compasso
que engole o tempo ruminando o espaço.
Era um velho mas tinha a voz sonora
e com ela incitava os bois em andamento,
voz cantada que os ecos prolongavam
indefinidamente.
Era um deus soberano e maltrapilho
a cuja imperiosa voz aquelas massas
de carne musculada
maciça, rude, bruta, inamovível,
obedeciam mansas e seguiam
no sulco aberto
como se um pulso alado as dirigisse,
mornas e sonolentas.
A voz era a de um deus que os mundos cria,
que do nada faz tudo,
que vence a inércia e anula a gravidade,
que levita o que pesa e o trata como leve.
Potência aliciadora alonga-se e prolonga-se
nos plainos da paisagem,
enquanto os animais prosseguem no caminho
do seu quotidiano,
pensativos e absortos.
Lá em baixo, na margem do ribeiro,
estendido sobre a erva,
jaz o infante.
Do seu coração ergue-se a haste de um virote
erecta como um junco,
e já nenhuma voz o acordará.
in Novos Poemas Póstumos – António Gedeão
Dia de Portugal - Pablo Neruda III
II La Cítara Olvidada
Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emergesen la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.
Pablo Neruda
Dia de Portugal - Pablo Neruda II
V La Lámpara Marina
Portugal, vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevoa la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.
La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?
Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?
Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos,
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.
Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.
Pablo Neruda
Dia de Portugal - Pablo Neruda
SAUDADE
Saudade —¿Qué será?... yo no sé... lo he buscado
en unos diccionarios empolvados y antiguos
y en otros libros que no me han dado el significado
de esta dulce palabra de perfiles ambiguos.
Dicen que azules son las montañas como ella,
que en ella se oscurecen los amores lejanos,
y un noble y buen amigo mío (y de las estrellas)
la nombra en un temblor de trenzas y de manos.
Y hoy en Eça de Queiroz sin mirar la adivino,
su secreto se evade, su dulzura me obsede
como una mariposa de cuerpo extraño y fino
siempre lejos —¡tan lejos!— de mis tranquilas redes.
Saudade... Oiga, vecino, ¿sabe el significado
de esta palabra blanca que como un pez se evade?
No... Y me tiembla en la boca su temblor delicado...
Saudade...
in Crepusculario - LOS CREPÚSCULOS DE MARURI - Pablo Neruda
segunda-feira, junho 09, 2008
Zeca canta Fernando Pessoa
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão
Fernando Pessoa
A Galiza canta Camões em homenagem a Zeca Afonso
Uxia - Verdes São Os Campos
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.