Decidi efectuar esta análise a esta exposição após uma visita informal durante a qual constatei variados erros/omissões/incorrecções científicas.
A análise e revisão feitas estão sistematizadas em seguida.
A exposição é constituída por diversos painéis com breve descrição de criaturas marinhas – a maioria extinta – de grande tamanho: o principal critério unificador.
Não existem fósseis ou réplicas dos exemplares apresentados, apesar de estes serem, na sua maioria, unicamente conhecidos pelo registo fóssil.
Uma das ideias mais promissoras e com “valor de mercado” é a intitulada Cultura Pop – Percepções Culturais e a sua relação com conceitos científicos, neste caso num contexto de criaturas marinhas.
Este conceito, apesar de promissor, não foi suficientemente aproveitado, sendo a sua abordagem limitada a um painel em que é referida, introdutoriamente, a influência daquelas criaturas no imaginário colectivo.
De realçar a
excelente qualidade gráfica das ilustrações, sempre com escala humana, que muito contribuem para o aspecto geral, agradável e apelativo.
Revisão/Análise científicaDescrevo seguidamente, de forma que não pretende ser exaustiva, algumas das várias incorrecções/omissões/falhas científicas detectadas, documentadas por fotos.
-
Critérios pouco uniformes na designação científica dos exemplares, por exemplo: nomes de grupos genéricos (“Notossauro”, “Ictiossauro”) misturados com espécies, uma vezes identificadas (
Thalassomedon haningtoni) outras vezes não, apenas pelo género (
Dakosaurus,
Henodus,
Platypterigius).
- Na parte final (em termos do movimento do público) é apresentada num painel representativo, de forma resumida e cronológica, a história, quer geológica, quer biológica, da Terra. Este painel poderia explorar os intervalos temporais relativos de cada uma das fases da História da Terra, ou seja, cada um dos sub-painéis poderia ter um tamanho proporcional à sua amplitude temporal.
- Estando os períodos temporalmente mais próximos do presente antropomorficamente sobreavaliados, poderia ter-se feito um destaque, com painel isolado, revelando pormenores biológicos/geológicos destes períodos.
-
“primeiros tetrapódios” – deveria ser primeiros tetrápodes ou Tetrapoda
-
“Pangea” e
“Pangeia” – utilizados de forma não coerente: deveria ter-se utilizado Pangeia.
- Thalassomedon haningtoni, assim designada em inglês, surge como Thalassomedon hanington em português, o que dá a sensação de que o nome da espécie se altera do português para inglês.
-
"Plioceno" em vez de
Pliocénico – todas as referências deveriam ser Pliocénico (período geológico entre os 5.3 e 1.8 milhões de anos).
-
"Paleoceno" em vez de
Paleocénico - todas as referências deveriam ser Paleocénico (período geológico entre os 65 e 55 milhões de anos).
-
"Triássico" em vez de
Triásico – todas as referências deveriam ser Triásico (período geológico entre os 251 e 200 milhões de anos).
-
"Carbonífero" em vez de
Carbónico – todas as referências deveriam ser Carbónico (período geológico entre os 359 e 299 milhões de anos).
-
Dunkleosteus, mencionado como
primeiro animal com reprodução sexuada e com
comportamento canibal.
Em relação ao facto de ser canibal, faltaria acrescentar a informação de que este comportamento foi
inferido a partir de marcas de mandíbulas encontradas num crâneo de Dunkleosteus. Uma vez que este animal seria o maior predador da época, os paleontólogos deduziram que só outro elemento daquela espécie poderia ter infligido tal marca – faltaria adicionar, de forma breve, esta inferência paleontológica.
No que diz respeito à afirmação de que seria o
primeiro animal com reprodução sexuada, qualquer pessoa com um mínimo de formação biológica sabe que esta afirmação carece de qualquer sentido. Quereriam os autores referir-se a primeiros animais com
dimorfismo sexual?
Uma das ilustrações
Dunkleosteus tem como texto de suporte
“…comia tudo o que via.” Esta afirmação, apesar de talvez apelativa, parece-me exagerada do ponto de vista biológico, podendo cair facilmente na especulação não-científica.
-
“Eric leptocleidus” – esta espécie não existe, tendo sido confundido o nome informal “Eric” dado a um exemplar do género
Leptocleidus, descoberto na Austrália.
“Período Câmbrico”-
“…maioritariamente organismos marinhos” – toda a vida existente neste período da Terra era exclusivamente marinha, uma vez que a “invasão” terrestre só aconteceu muito mais tarde.
- A frase, geradora de confusão, é contradita pelo cartaz “Ordovícico”, onde se afirma “vida apenas nos mares…” (ver comentários a esta afirmação em “Período Ordovícico”)
-
“Trilobites – fósseis indicadores” – é verdade, mas falta referir de que é que são indicadores – de idade geológica, de ambiente ou de que outro tipo de informação.
-
“Myllokunmingia” – faltaria acrescentar o nome completo (
Myllokunmingia fengjiaoa, a sua idade (530 milhões de anos) e a proveniência (China, província de Kunming)
“Período Ordovícico”-
“…começa com clima não muito intenso e alta humidade” – a aparente falta de sentido desta frase somente pode ser justificada pela má tradução de “milder” para “não muito intenso”.
-
“vida apenas nos mares com, inicialmente, níveis muito altos” – níveis muito altos de quê?
- É representada uma trilobite designada por
“Trilobite Gigante”, enquanto um escorpião-marinho já é apresentado como
Megalograptus – faltaria a designação científica desta espécie.
“Período Triásico”-
“…anfíbios labirintóides” – os anfíbios pertencentes ao grupo
Labyrinthodontia têm como designação em português Labirintodontes. Para além disto, é referido que este grupo de anfíbios se extingue no final do Triásico: esta
afirmação é incorrecta, uma vez que se conhece pelo menos uma espécie deste grupo – o
Koolasuchus cleelandi, do Cretácico inferior da Austrália, prolongando-se, assim, o registo paleontológico dos Labirintodontes (
cerca de 55 milhões de anos mais tarde do que referido).
-
“dinossauros dominam depois da extinção” – até ao final do Triásico, as faunas dominantes eram outros grupos, que não os dinossauros – por exemplo, os grupos
Rhynchosauria, répteis herbívoros, os
Aetosauria, também herbívoros, e os carnívoros
Phytosauria, entre outra fauna.
- traduziu-se
“ferns” por abetos, quando deveria ser fetos.
- é referido, no painel deste período, que teria surgido o
primeiro tubarão, quando o primeiro representante conhecido do grupo dos tubarões,
Doliodus problematicus, data do Devónico inferior (
cerca de 200 milhões de anos mais cedo do que referido).
ConclusãoEsta exposição tem como
ponto mais positivo apresentar o tema (raramente abordado no contexto de exposições em Portugal) do registo de vertebrados marinhos mesozóicos - leia-se fauna contemporânea dos dinossáurios mas mas não pertencendo a este grupo.