Valongo - Quadros de ardósia «dão lições» no estrangeiro
Sara Pelicano - sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Os grandes quadros negros, ainda há poucas décadas comuns nas paredes das salas de aula, são produzidos a partir da ardósia, uma rocha. Por cá, estes quadros, inseparáveis do giz, caíram em desuso. No estrangeiro continuam a fazer sucesso. Uma empresa de Valongo exporta 100% da sua produção e já pensa em novas aplicações para este produto integralmente nacional.
O quadro
negro e o giz branco pertencem hoje às memórias escolares. Nas escolas
nacionais, há cerca de três décadas, a esquematização das lições dos
professores eram traçadas no quadro de ardósia, uma presença que foi
substituída por quadros brancos plásticos e canetas de tinta. Uma
mudança recente que não pôs fim ao fabrico de quadros de ardósia, de
maior ou menor dimensão.
Em Valongo uma empresa familiar continua a construir os quadros de
ardósia. Por ano são perto de um milhão de quadros produzidos, todos com
destino ao estrangeiro. França, Itália, Alemanha Suíça, Reino Unido,
Holanda, Estados Unidos da América e Canadá são alguns dos países que
recebem este produto nacional «100% natural», sublinha Joaquim Tavares,
filho do fundador da empresa
Manuel Carvalho da Silva, Lda.
Os quadros, além de naturais porque a ardósia e a madeira utilizadas são
matérias-primas não transformadas, são integralmente produto nacional.
Joaquim Tavares explica que «a madeira de pinho chega de Celorico de
Basto e a ardósia de Valongo».
Constituída
em 1975, a empresa de Valongo emprega 14 pessoas, mas admite que
poderiam ser muitas mais se, em Portugal, não tivesse caído em desuso o
quadro de ardósia. «Um aumento de produção representava, sem dúvida,
aumento do número de funcionários», afirma Joaquim.
A ardósia, também designada por lousa, é uma rocha metamórfica de
composição fina e homogénea, composta por argila ou cinzas vulcânicas
que foram sendo formadas, dispondo-se em camadas. Esta rocha, abundante
no concelho de Valongo, chega à fábrica Manuel Carvalho da Silva, Lda em
«blocos de grandes dimensões que são cortados em blocos mais pequenos
de acordo com a dimensão da ardósia pretendida».
O nosso interlocutor pormenoriza ainda que, após o corte, «segue-se o
processo de lascagem dos blocos em lâminas de aproximadamente 5 mm.
Seguidamente entra numa linha de desbaste e polimento, onde a lousa em
bruto de 5 mm sai com uma espessura de 2 mm, já polida das duas faces».
A madeira que emoldura a ardósia chega em tábuas e na fábrica é serrada
em ripas. «Estas ripas entram numa máquina onde é feita a moldura final.
Depois de cortadas nas medidas pretendidas, estas são encaixadas na
lousa e coladas. Depois de secarem passam por uma máquina, onde são lixadas para o acabamento final da madeira», adianta Joaquim Tavares.
Nova vida para ardósia
A rocha que serve de auxílio a professores de todo o mundo começa a
ganhar novas aplicações. A empresa de Manuel Carvalho da Silva, que era
empregado de uma fábrica de lousas e se estabeleceu por conta própria na
década de 70 do século XX, está a preparar uma colecção de peças para
decoração e utilização na cozinha, tais como marcadores para pratos,
bandejas para petiscos, porta guardanapos, velas e outras ideias.
Escrever com giz em peças de louça foi uma ideia que também ocorreu a Sandra Correia há um ano. A designer
recorre a uma tinta especial para «imprimir» em porcelana o imaginário
da ardósia. Pinta bules, pratos, canecas, jarros de porcelana e vidro.
Começou por oferecer os artigos que fazia a familiares e amigos. Os
presentes foram tão bem acolhidos que Sandra, de 26 anos, decidiu criar a
marca
Chalk Loves You (que se pode traduzir por o Giz Gosta de Ti).
«Adapto objectos existentes e incorporo uma camada de ardósia não a
pedra em si, mas uma tinta especial que tem o mesmo efeito», explica a
jovem empreendedora.
Além da porcelana, Sandra pinta também artigos de madeira e prepara-se
para começar a usar a rocha. Os artigos podem ser encontrados em algumas
lojas e também ser encomendados através da Internet. No futuro,
«gostava de alargar o leque de artigos e de conseguir produzir em
grandes quantidades», conclui Sandra Correia.