O seu trabalho foi traduzido e publicado extensamente no
Estados Unidos e
Europa. Borges era fluente em várias línguas.
A sua obra abrange o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". Os seus livros mais famosos,
Ficciones (1944) e
O Aleph (1949), são coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns:
sonhos,
labirintos,
bibliotecas,
escritores fictícios e
livros fictícios,
religião,
Deus. Os seus trabalhos têm contribuído significativamente para o género da
literatura fantástica. Estudiosos notaram que a progressiva
cegueira
de Borges ajudou-o a criar novos símbolos literários através da
imaginação, já que "os poetas, como os cegos, podem ver no escuro". Os
poemas de seu último período dialogam com vultos culturais como
Spinoza,
Luís de Camões e
Virgílio.
A sua fama internacional foi consolidada na década de 60, ajudado pelo "
boom latino-americano" e o sucesso de
Cem Anos de Solidão de
Gabriel García Márquez. Para homenagear Borges, em
O Nome da Rosa, um romance de
Umberto Eco, há o personagem
Jorge de Burgos,
que além da semelhança no nome é cego assim como Borges, foi ficando
ao longo da vida. Além da personagem, a biblioteca que serve como plano
de fundo do livro é inspirada no conto de Borges
A Biblioteca de Babel (Uma biblioteca universal e infinita que abrange todos os livros do mundo).
O escritor e ensaísta
John Maxwell Coetzee
disse sobre ele: "Ele, mais do que ninguém, renovou a linguagem de
ficção e, assim, abriu o caminho para uma geração notável de romancistas
hispano-americanos".
Jorge Luis Borges nasceu em uma família de classe média com boa
educação. A mãe de Borges, Leonor Acevedo Suárez, veio de uma
tradicional família
uruguaia. O seu livro de 1929
Cuaderno San Martín incluiu um poema, "Isidoro Acevedo", em homenagem ao seu avô materno, Isidoro de Acevedo Laprida, um soldado do exército de
Buenos Aires que era contra o ditador
Juan Manuel de Rosas. Um descendente do advogado e político argentino
Francisco Narciso de Laprida, Acevedo lutou nas batalhas de
Cepeda em 1859,
Pavón em 1861 e
Los Corrales em 1880. Isidoro de Acevedo Laprida morreu de congestão pulmonar na casa onde o seu neto Jorge Luis Borges nasceu.
Segundo um estudo de António Andrade, Jorge Luis Borges tinha
ascendência portuguesa: o bisavô de Borges, Francisco, teria nascido em Portugal em
1770 e vivido na localidade de
Torre de Moncorvo, localidade do
norte de Portugal, antes de emigrar para a
Argentina, onde teria casado com Cármen Lafinur.
Aos sete anos de idade, Borges já teria revelado ao pai que seria
escritor. Aos nove, escreve seu primeiro conto, "La visera fatal",
inspirado num episódio de
Dom Quixote. Em 1914, muda-se, com os
pais, para a Europa, morando inicialmente em Genebra, na Suíça, onde
conclui seus estudos, e depois na Espanha. Em 1921, retorna a Buenos
Aires, onde participa ativamente da efervescente vida cultural da
cidade. Em 1923, publica seu primeiro livro de poemas, "Fervor de Buenos
Aires". Iniciava-se, assim, uma das mais brilhantes carreiras
literárias do século XX. Borges morreu em Genebra, com um
cancro no fígado e um
enfisema, onde ficou sepultado, por opção pessoal.
LA LLUVIA
Bruscamente la tarde se ha aclarado
Porque ya cae la lluvia minuciosa.
Cae o cayó. La lluvia es una cosa
Que sin duda sucede en el pasado.
Quien la oye caer ha recobrado
El tiempo en que la suerte venturosa
Le reveló una flor llamada rosa
Y el curioso color del colorado.
Esta lluvia que ciega los cristales
Alegrará en perdidos arrabales
Las negras uvas de una parra en cierto
Patio que ya no existe. La mojada
Tarde me trae la voz, la voz deseada,
De mi padre que vuelve y que no ha muerto.