Astrónomos amadores descobrem dois novos mundos do tamanho de Júpiter

Impressão artística do exoplaneta Tau Boötis b
Uma série de descobertas excitantes do projeto internacional de
ciência cidadã Planet Hunters inclui dois possíveis exoplanetas do
tamanho de Júpiter.
O projeto Planet Hunters NGTS
(Next-Generation Transit Survey) foi criado em 2021 na esperança de
descobrir novos exoplanetas, envolvendo voluntários para examinar os
dados dos telescópios NGTS no Chile.
Os telescópios NGTS observam o céu noturno, monitorizando o brilho de
milhares de estrelas para procurar quaisquer quedas na sua luz que
possam ser causadas pela passagem de um exoplaneta em frente da estrela
hospedeira.
O primeiro exoplaneta foi descoberto em 1992. Atualmente, os astrónomos
encontraram quase 6000 mundos a orbitar estrelas distantes dentro da
nossa Galáxia, a Via Láctea. Cada novo exoplaneta fornece informações
valiosas sobre a forma como os planetas se formam e evoluem e sobre como
sistemas solares muito diferentes do nosso funcionam.
Um artigo científico publicado na revista The Astronomical Journal
descreve as descobertas mais promissoras do projeto Planet Hunters NGTS
até à data, com a ajuda de quase 15.000 voluntários de todo o mundo. O
artigo foi liderado por Sean O’Brien, estudante de doutoramento na
Escola de Matemática e Física da Queen’s University em Belfast, Irlanda
do Norte.
“Há muitas coisas no universo que podem imitar os sinais dos
exoplanetas que estamos a procurar. É preciso muito trabalho para passar
de candidato a planeta a planeta confirmado. Estamos a trabalhar
arduamente para confirmar e caracterizar estes candidatos a planeta”,
disse O’Brien.
“É muito emocionante porque estes achados não foram detetados
inicialmente pelos astrónomos da rede NGTS, mas foram salvos pelos
voluntários do Planet Hunters NGTS que ‘vasculharam’ pelos dados”.
Descoberta rara…
A descoberta mais importante até agora é a deteção de um candidato a
exoplaneta, com cerca do tamanho de Júpiter, em órbita de uma estrela
anã vermelha, uma estrela mais pequena do que o nosso Sol.
Trata-se de uma descoberta rara dos voluntários, uma vez que apenas
foram descobertos cerca de uma dúzia de planetas gigantes em órbita de
estrelas anãs M, e coloca questões interessantes sobre a forma como
estes sistemas se podem formar.
O’Brien e os colaboradores usaram o Observatório Gemini, também no Chile, e o seu instrumento Zorro
para obter uma visão mais clara das estrelas que hospedam os candidatos
a planeta. O instrumento Zorro utiliza uma técnica chamada “speckle imaging“,
que permite aos telescópios terrestres ultrapassar grande parte do
efeito de desfocagem da atmosfera da Terra e, assim, obter imagens de
muito maior resolução.
…e surpreendente
As observações do Zorro revelaram, no avistamento de um segundo
potencial exoplaneta, que o que inicialmente se pensava ser uma estrela
individual que albergava um candidato a exoplaneta era, de facto, duas estrelas.
A segunda estrela orbita a estrela primária à mesma distância que
Úrano orbita o Sol no nosso Sistema Solar. Isto sugere que podemos estar
a ver um exoplaneta a orbitar uma das duas estrelas deste sistema
binário — o que seria outra configuração rara.
A Dra. Meg Schwamb, coautora do artigo científico, também da mesma
universidade, disse que o Planet Hunters NGTS estava a dar resultados
“para além do que esperávamos”. E acrescentou:
“Este projeto foi uma aposta ao início. Não sabíamos se havia algo
escondido nos dados de arquivo do NGTS e acabámos por encontrar não
apenas um, mas dois potenciais exoplanetas interessantes que temos de
analisar mais de perto. Os resultados até agora são entusiasmantes”.
A equipa recebeu mais tempo de telescópio para estudar alguns destes
achados em maior detalhe, na esperança de confirmar a sua natureza
planetária.
“A quantidade de entusiasmo demonstrada pelos voluntários que fizeram
deste projeto o que ele é tem sido espantosa”, acrescentou O’Brien.
“Temos mais dados recentemente obtidos pelos telescópios para analisar
com o projeto e estou confiante de que, com a ajuda do público, podemos
fazer descobertas ainda mais notáveis de possíveis exoplanetas.”
Os voluntários podem ter qualquer idade, ser de qualquer parte do
mundo e não é necessária qualquer formação; tudo o que precisamos é de
um navegador web para começar a procurar exoplanetas.
in ZAP