Yuri Gagarin nasceu numa
fazenda coletiva na localidade de
Kluchino, distrito de Gjatski (mais tarde batizada de Gagárin, em sua homenagem) - numa
região a
oeste de
Moscovo,
Rússia, parte da então
União Soviética. Os seus pais,
Aleksei Ivanovitch Gagarin e
Anna Timofeievna Gagarina, trabalhavam numa
kolkhoz (fazenda coletiva). Os trabalhadores manuais eram descritos nos relatórios oficiais como "camponeses", o que indica que isto pode ser uma simplificação no caso de seus pais - a mãe dele teria sido uma leitora voraz, e seu pai um hábil
carpinteiro. Gagarin foi o terceiro de quatro filhos e sua irmã mais velha ajudou a criá-lo, enquanto os seus pais trabalhavam. Como milhões de pessoas na
União Soviética, a família Gagarin sofreu durante a ocupação nazi na
Segunda Guerra Mundial. Os seus dois irmãos mais velhos foram deportados para a
Alemanha Nazista em
1943, onde foram empregados como OST-Arbeiter's (
escravos) e não voltaram até depois da
guerra. Quando jovem, Gagarin passou a interessar-se pelo
espaço e
planetas, e começou a sonhar com uma viagem no espaço que um dia se tornaria uma realidade. Gagarin foi descrito pelos seus
professores em
Liubertsi,
cidade-satélite de
Moscovo, como inteligente e trabalhador, e por vezes malicioso. O seu professor de
matemática e
ciência tinha servido na
Força Aérea Soviética durante a
Segunda Guerra Mundial, o que provavelmente foi uma substancial influência para o jovem Gagarin.
Carreira no Programa Espacial Soviético
Em
1960, Gagarin foi um dos 20 pilotos selecionados, após difíceis processos de selecção física e psicológica, para o
programa espacial soviético, e acabou por ser escolhido para ser o primeiro a ir ao espaço, pela sua excelente performance nos treinos, a sua origem camponesa – que contava pontos no sistema
comunista - a sua personalidade magnética e esfuziante, e principalmente devido às suas características físicas – ele tinha 1,57 m de altura e 69kg – já que a
nave programada para a viagem pioneira em
órbita, a
nave Vostok (que em russo significa "Oriente"), tinha um espaço mínimo para o piloto.
Minutos antes do embarque na nave
Vostok 1, Gagarin disse o seguinte:
“ | Queridos amigos, conhecidos e estranhos, meus conterrâneos queridos e toda a humanidade, em poucos minutos, possivelmente uma nave espacial irá me levar para o espaço sideral. | ” |
“ | Toda a minha vida parece-me neste momento único e belo. Tudo que eu fiz e vivi foi para isso! | ” |
Primeiro Homem no Espaço
| A Terra é azul. Como é maravilhosa. Ela é incrível! 10 |
— Iuri Gagarin
|
Com apenas 27 anos, Iuri Gagarin tornou-se o primeiro
ser humano a ir ao espaço, a bordo da
nave Vostok 1, na qual deu uma volta completa em
órbita ao redor do
planeta. Esteve em órbita durante 108 minutos, a uma altura de 315 km, num vôo totalmente automatizado, com uma velocidade aproximada de 28
.000 km/h. Pela proeza, recebeu a medalha da
Ordem de Lenin.
Órbita da Vostok 1 - um erro de cálculo fez com que a aterragem ocorresse a mais de 300 km do local da descolagem
A Viagem
“ | A nave espacial entrou em órbita, e o foguete separou-se, a gravidade desapareceu. | ” |
“ | No início, a sensação era de algo incomum, mas eu logo me adaptei... | ” |
“ | Eu mantive contato com a Terra em diferentes canais por telefone e telégrafo. | ” |
Às nove horas e sete minutos da manhã (horário de
Moscovo) do dia
12 de Abril de
1961, a cápsula com o foguete “
Soyuz-R-7″ foi lançada de uma plataforma em
Baikonur, no
Cazaquistão. Neste voo ele disse as famosas frases:
“ | Olhei para todos os lados, mas não vi Deus. | ” |
.
O Coronel
Valentin Petrov afirmou em
2006 que o
cosmonauta nunca disse tais palavras, e que a citação originou-se do discurso de
Nikita Khrushchev, no plenário do Comité Central do PCUS sobre a campanha
anti-religião do Estado, dizendo que "Gagarin voou para o espaço, mas não viu qualquer deus lá." Como Gagarin era um membro da
Igreja Ortodoxa Russa, é bem provável que ele realmente não tenha dito tais palavras.
Os cientistas russos calcularam erradamente (por duas vezes) a trajetória de aterragem da nave, (como pode ser percebido na imagem que mostra a órbita da naveespacial). Este erro fez com que a cápsula espacial de Gagarin aterrasse no
Cazaquistão, a mais de 320 quilómetros do local inicialmente previsto (que era o local de descolagem). Isto fez com que no momento da aterragem não estivesse ninguém à sua espera.
Os soviéticos declararam que Gagarin aterrou no interior da cápsula espacial, quando na realidade o astronauta utilizou-se de um
pára-quedas na sua aterragem. A União Soviética negou esse facto durante anos, com medo de o voo não ser reconhecido pelas entidades internacionais, já que o piloto não acompanhou a nave até ao final.
Promovido de
tenente a
major enquanto ainda estava em
órbita, foi com esta patente que a Agência
Tass soviética anunciou este espetacular feito ao
mundo, que assim tomava conhecimento de que entrava numa nova era, a
Era Espacial, a partir daquele momento.
Após o feito, Gagarin tornou-se instantaneamente uma
celebridade soviética e mundial e passou a viajar pelo
mundo promovendo a
tecnologia espacial do seu
país, sendo recebido como
herói por
reis,
rainhas,
presidentes e multidões por onde passava.
Na
América, ele passou por
Cuba e pelo
Brasil, onde esteve no
Rio de Janeiro, em
São Paulo e em
Brasília. Em terras
brasileiras, foi recebido e condecorado pelo então
presidente Jânio Quadros com a
Ordem do Cruzeiro do Sul (concedida a estrangeiros) e chamado de “Embaixador da Paz”. Nas entrevista aos jornais brasileiros, Gagarin declarou que “
Os brasileiros são muito efusivos nas suas formas de extravasar a alegria.”
Por ter se tornado uma celebridade, foi proibido de voltar ao espaço em agosto de
1967, uma vez que se tornou uma peça importante para a propaganda do seu país e da ideologia socialista. Não podendo voltar ao espaço, participou ativamente no treino de outros cosmonautas.
Porém, a fama e a popularidade começaram a afetar a
personalidade de Gagarin, que se viu bastante afeito à fama, e passou a beber constantemente, tendo o seu
casamento afetado por causa disso, chegando a se ferir num acidente causado pela bebida na
Crimeia, em companhia de uma jovem enfermeira, em outubro de
1961. A partir de
1962, ocupou o cargo de
deputado no
Soviete Supremo da
União Soviética até voltar à
Cidade das Estrelas, o centro espacial
soviético, para trabalhar no
design de novos
foguetões.
Depois de vários anos afastado, dedicado apenas ao programa espacial,
Gagarin voltou ao curso de treino de pilotos, para uma requalificação como piloto de caça nos novos caças
MiG da
Força Aérea.
Morte e legado
Após ser retirado do programa espacial, Gagarin fora transferido para um centro de testes de aeronaves. Em
27 de março de
1968, durante um voo de treino de rotina num caça
MIG-15 sobre a localidade de
Kirzhach, ele e o instrutor de voo
Vladimir Seryogin morreram na queda do jato, num acidente nunca devidamente explicado.
Um
inquérito de
1986 sugeria que a turbulência de um
avião interceptador Sukhoi Su-11 pode ter feito o avião de Gagarin sair do controle. Gagarin e Seryogin receberam honras de Estado e foram enterrados na muralha do Kremlin.
Documentos secretos russos, tornados públicos em
março de
2003, mostraram que a
KGB tinha conduzido a sua própria investigação do acidente, além de uma investigação governamental e de dois inquéritos militares. O relatório da KGB desmente várias
teorias da conspiração, indicando que as ações do pessoal da base aérea contribuíram para o acidente. O relatório afirma que um
controlador de tráfego aéreo forneceu a Gagarin informações desatualizadas sobre o tempo, e que no momento de seu voo, as condições deterioraram-se significativamente. A equipa de terra deixou também tanques de combustível externo ligados à aeronave. As atividades planeadas para o voo de Gagarin necessitavam tempo claro e nenhum tanque de popa. O inquérito concluiu que a aeronave de Gagarin entrou em
parafuso, ou devido a uma colisão de pássaro, ou por causa de um movimento repentino para evitar outra aeronave. Por causa do boletim meteorológico desatualizado, a tripulação acreditava que a sua altitude tinha que ser maior do que realmente era, e não puderam reagir adequadamente para trazer o MiG-15 para fora do seu movimento de rotação.
Em
abril de
2011, entretanto, 50 anos após e no meio das comemorações na Rússia do histórico voo de Gagarin, as autoridades trouxeram a público documentos classificados como 'segredo de Estado' da época. Em entrevista à imprensa, o chefe dos arquivos do Kremlin,
Alekandr Stepanov, colocou um ponto final na especulações e teorias sobre a morte do herói nacional russo, lendo o seguinte comunicado, extraído de um dos documentos até então secretos:
“ | Conclusões da comissão: segundo as análises das circunstâncias do acidente aéreo e os elementos da inquérito, a causa mais provável da catástrofe seja uma manobra brusca (do piloto) para evitar uma sonda atmosférica. | ” |
De acordo com o documento até então desconhecido, a brusca manobra feita por Gagarin a bordo do jato para desviar do que seria uma sonda, fez com que a aeronave ficasse em condições críticas de estabilidade e caísse. Como sinal da importância do facto, estas conclusões foram inscritas num decreto do
Comité Central do Partido Comunista da URSS, com data de 28 de novembro de 1968, e sob o selo de "segredo de Estado".
No entanto, em
2013, foi revelado o motivo do real acidente de Gagarin, o que até então era tratado oficialmente como um pássaro, descobriu-se que tratava-se de um jato
SU-15, que estava sendo testado, e desobedeceu ao plano de voo. O SU-15 passou perigosamente perto do avião de Gagarin, fazendo-o desestabilizar e cair em espiral.