O mítico Tiktaalik revelou mais um segredo: em terra, as costelas são essenciais
O mítico Tiktaalik roseae, o peixe de quatro patas que deu o primeiro passo em direção a terra, foi descoberto há 20 anos, no Canadá.
Popularizado na Internet graças aos memes do peixe que chega a terra e volta para trás, o Tiktaalik é um “fishapod” — um elo perdido entre os peixes e os primeiros tetrápodes de quatro patas que andaram na Terra.
Uma nova análise da estrutura do esqueleto do Tiktaalik, publicada a semana passada na Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou agora novos pormenores que podem explicar como os vertebrados evoluíram para andar em terra, há cerca de 400 milhões de anos.
“O Tiktaalik foi descoberto em 2004, mas partes importantes do seu esqueleto eram desconhecidas”, afirma Tom Stewart, investigador da Universidade Estatal da Pensilvânia e primeiro autor do artigo, citado pela Cosmos.
“Novos exames de micro-CT de alta resolução mostram-nos as vértebras e as costelas do Tiktaalik e permitem-nos fazer uma reconstrução completa do seu esqueleto, o que é vital para compreender como se deslocava pelo mundo“, diz Stewart.
A reconstrução mostra que as costelas do Tiktaalik estavam provavelmente ligadas à sua pélvis. Esta configuração, consideram os autores do estudo, ajudou o peixe a suportar o seu corpo em terra, o que teria sido crucial para a eventual evolução da marcha.
Este facto permitiu funções especializadas em diferentes partes do tronco, incluindo uma ligação mecânica entre as costelas e a pélvis e os membros posteriores que suportam o corpo.
As barbatanas pélvicas dos peixes estão evolutivamente relacionadas com os membros posteriores dos tetrápodes. Os autores do estudo descobriram que a marcha se desenvolveu com a ajuda de uma pélvis maior, que fazia parte da coluna vertebral, para apoiar o corpo das novas forças resultantes da marcha em terra.
“O Tiktaalik é notável porque nos dá um vislumbre desta grande transição evolutiva”, explica Stewart. “Em todo o seu esqueleto, vemos uma combinação de traços típicos dos peixes e da vida na água, bem como traços que são vistos em animais terrestres”.
“A partir de estudos anteriores, sabíamos que a pélvis era grande e tínhamos a sensação de que as barbatanas posteriores também eram grandes, mas até agora não podíamos dizer se ou como a pélvis interagia com o esqueleto axial”, acrescenta Stewart.
“Esta reconstrução mostra, pela primeira vez, como tudo se encaixa - e dá-nos pistas sobre como o andar pode ter evoluído”, conclui o investigador.
Andamos então cá todos graças ao Tiktaalik - que, ao contrário do seu primo que espreitou terra firme e decidiu mesmo voltar para trás, se atreveu a dar os primeiros passos fora de água. Graças às suas boas costelas.
in ZAP