Stanley Kubrick (
Nova Iorque,
26 de julho de
1928 -
St Albans,
7 de março de
1999) foi um
cineasta,
roteirista,
produtor de cinema e
fotógrafo americano. Considerado um dos mais importantes cineastas de todos os tempos, foi autor de grandes clássicos do cinema, como
Spartacus (1960),
Dr. Stangelove (1964),
2001 - Odisseia no Espaço (1968),
Laranja Mecânica (1971) e
Shining (1980), entre outros.
Infância e adolescência
Em sua infância, o jovem do
Bronx não era o que se podia chamar de "aluno exemplar". Raramente fazia os trabalhos de casa e as suas notas não eram das melhores. Mas apesar disso, tinha reconhecimento do pai em sua mente criativa. Foi este quem o encorajou a aprender
xadrez (tornou-se um especialista no desporto) e deu-lhe a sua primeira máquina fotográfica. Ainda na adolescência, visando a carreira como fotógrafo, conseguiu emprego na conceituada revista
Look, mas logo Kubrick descobriu que o seu futuro estava ligado a outro tipo de câmara.
Auto retrato na década de 50 para a revista Look
Primeiros trabalhos
Estreou como cineasta de curta-metragens aos 22 anos. Aos 25, obteve uma grande ajuda financeira do pai, que penhorou a casa para a produção de
Fear and Desire, de 1953, sua primeira longa-metragem. Considerou o trabalho amador e, mesmo com algumas boas críticas, logo tratou de retirá-lo de circulação. Até hoje, o filme permanece fora de catálogo, tendo sido exibido poucas vezes em festivais ou distribuído ilegalmente. Logo após, Kubrick realizaria outro longa,
Killer's Kiss, de 1955, outro filme pouco divulgado e de difícil acesso. Mas é a partir de
The Killing, de 1956, que a sua carreira começa a funcionar. O trama sobre um plano de assalto ganhou a atenção de alguns produtores. Apesar disso, teve dificuldades com a adaptação da novela
Paths of Glory. O filme homónimo foi estrelado pelo astro
Kirk Douglas, que ajudou a levantar o projeto após ele ter sido rejeitado pelos estúdios. Kubrick fez um dos filmes antiguerra mais poderosos que o mundo do cinema já viu. Focado não em heróis, mas sim em cobardes. Apesar das excelentes críticas,
Paths of Glory (
Horizontes de Glória), de 1957, foi proibido em alguns países, incluindo a
França.
Reconhecimento e clássicos
Kirk Douglas gostou de trabalhar com Kubrick. Foi ele quem o chamou para dirigir o épico
Spartacus (1960), após a tensa demissão do veterano diretor
Anthony Mann. Mann já havia filmado boa parte da produção quando Kubrick, com apenas 29 anos, assumiu o seu lugar. A boa relação com Douglas viria por água a baixo quando as diferenças criativas os fizeram confrontar. Kubrick perdeu a batalha e viu obrigado-se a filmar sem poder colocar algumas das suas ideias em prática. Mesmo com o sucesso do filme, ele decidiu que dali por diante só iria aceitar projetos que pudesse ter total liberdade criativa. E foi com esse pensamento que se muda para a Inglaterra em 1962. No mesmo ano começa as filmagens de
Lolita (1962), clássico da
literatura escrita por
Vladimir Nabokov. A curiosidade sobre a adaptação da obra de Nabokov dá grande visibilidade ao filme, que mesmo imerso em polémicas (a relação entre um homem de meia-idade e uma adolescente era a principal delas) se torna outro grande sucesso de crítica. Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto:
Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (1964) (
Doutor Fantástico no Brasil;
Doutor Estranhoamor em Portugal). Tendo como tema a ameaça nuclear, o filme é uma
comédia de
humor negro com atuações e roteiro primorosos. Para atuar, Kubrick chamou o comediante inglês
Peter Sellers, que se desdobra em três papéis, incluindo o de presidente dos
Estados Unidos e
George C. Scott (que alguns anos mais tarde se destacaria em
Patton, Rebelde ou Herói?). Entre os vários momentos clássicos, está o final, com direito a um
major cowboy montado sobre uma
bomba atómica no ar. Esse trabalho rendeu a Kubrick a sua primeira nomeação para o
Óscar de melhor diretor.
Cinco anos de produção foram necessários para o desenvolvimento de
2001: A Space Odyssey (
2001: Odisseia no Espaço), de 1968, para muitos a melhor
ficção científica já filmada. Foi escrito ao mesmo tempo em que o livro homónimo de
Arthur C. Clarke estava a se escrito. Clarke, inclusive, deu assistência na criação do roteiro. 2001 teve uma recepção fria da crítica, mas obteve um enorme sucesso junto do público. Até hoje, possui na sua força maior, as músicas de
Richard Strauss,
Assim falou Zaratustra e
Johann Strauss II,
Danúbio Azul. Os
efeitos especiais, inovadores para a época, garantiram ao filme um
Óscar da categoria.
Novamente indicado para melhor diretor, Kubrick vê o seu prémio escapar. Logo após, chateado com o cancelamento do filme sobre
Napoleão Bonaparte, ele segue para mais uma adaptação. Dessa vez o livro é
A Clockwork Orange (
Laranja Mecânica), de 1971, de
Anthony Burgess, focado na violência humana e, principalmente, na da juventude. Causou grande polémica na época de seu lançamento e foi acusado de incitar a barbárie. Na história, quatro jovens de classe trabalhadoras passam as noites cometendo as maiores atrocidades: lutar, roubar, violar… são apenas algumas delas. A vida de um deles, Alex, (
Malcolm McDowell) toma um rumo diferente quando o mesmo vai para a cadeia. Disparado o trabalho mais controverso do diretor, que deu-lhe outra nomeação para o prémio da Academia e outra derrota.
Nos anos seguintes, três filmes totalmente diferentes: um longuíssimo filme de época, um terror de gelar a espinha e a sua visão da
Guerra do Vietname. O primeiro é
Barry Lyndon (1975). Linda obra saída de uma novela de
William Makepeace Thackeray. Apesar de ser pouco conhecido, o filme é considerado por muito dos fãs de Kubrick, entre eles
Martin Scorsese, como seu melhor trabalho. Pois nele é perfeitamente visível o seu perfecionismo, característica marcante em sua carreira. Barry Lyndon, interpretado magistralmente por
Ryan O'Neal, é uma espécie de "talentosa fraude" que inevitavelmente é expulso de onde quer que se meta. A
fotografia do filme, dirigida por
John Alcott - trabalhando sob a orientação técnica de Kubrick - e vencedora do
Óscar, é outro momento inesquecível. Kubrick usou lentes criadas pela
NASA para poder filmar alguns interiores. Detalhe: iluminados apenas com velas. Mesmo com todo o cuidado da produção, Barry Lyndon fracassou nos Estados Unidos, mas fez relativo sucesso na
Europa. Levou quatro estatuetas douradas, mas de novo o admirável trabalho de Stanley como diretor não foi reconhecido pela maioria votante. Ele voltaria a ter um novo sucesso mundial com o clássico
Shining (
1980) (
The Shining), adaptação da obra de
Stephen King. A história de uma família que passa uma época num hotel nas montanhas até hoje faz sucesso onde quer que seja exibida. Quase no final dos anos 1980, Kubrick resurgiria dando ênfase a guerra. Dessa vez a do Vietname. Saída do livro de
Gustav Hasford,
Full Metal Jacket (
Nascido Para Matar), de 1987, quase que uma versão "kubrickiana" de
Apocalypse Now. O filme é praticamente dividido em duas partes: a preparação para a guerra e o ambiente de combate. Kubrick disse que ficou frustrado com o facto de que antes da estreia do filme dois outros longas sobre o tema já tinham sido lançados com sucesso:
The Killing Fields (
Terra sangrenta), de 1984, e
Platoon (
Platoon - Os Bravos do Pelotão), de 1986. Ainda como destaque da produção está o imenso
set erguido em
Londres, para a batalha final.
Final de carreira
Do seu último longa-metragem até
Eyes Wide Shut (
De Olhos Bem Fechados), de 1999, passou-se um longo período sem nada assinado por Stanley. Lançado em 1999, o filme protagonizado pelo (até então) casal número um dos Estados Unidos, causou uma grande comoção entre os amantes da sétima arte.
Tom Cruise e
Nicole Kidman interpretam um casal em crise e foi adaptada de romance escrito por
Arthur Schnitzler, chamado
Traumnovelle. Dois anos foi o período de filmagem, tempo que o perfecionismo de Kubrick achou necessário para a conclusão do filme, mas não o necessário para agradar à crítica e público. Kubrick faleceu enquanto dormia, devido a um
ataque cardíaco, no dia
7 de março de 1999, não testemunhando a fria recepção que seu último trabalho obteve. O último projeto cinematográfico em que esteve envolvido, mas que por questões de saúde não dirigiu, foi
AI: Inteligência Artificial, de
Steven Spielberg. Encontra-se sepultado em
Childwickbury Manor,
Hertfordshire na
Inglaterra.