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sexta-feira, setembro 04, 2009

Os Professores não esquecem

NoWayJosé

©Protestográfico

Quem não conhece ou não entende a história está condenado a repeti-la. Desde o ínicio do mandato deste governo que fiquei intrigado com a explícita animosidade demonstrada face aos professores. Pensei, ao princípio, que fosse uma questão de estilo, uma espécie de “falar grosso” para meter a casa em ordem. Mas não. Tratava-se de um plano de acção muito mais vasto. Estou hoje convencido que esta animosidade que o governo PS nem se deu ao trabalho de disfarçar é uma questão de regime. Os professores (e digo isto sem laivos corporativistas) são uma das classes profissionais mais cultas e, sobretudo, com uma maior consciência política e social. Por isso foram desde logo um alvo a abater. Todo o mandato foi caracterizado pela tentativa de proletarização e domesticação dos professores. A ideia era transformá-los em meros funcionários públicos submissos e executores das políticas educativas de base mercantilista emanadas deste governo cujo rótulo de “socialista” só pode ser uma piada e uma afronta ao conceito ideológico, político que é o verdadeiro socialismo.

Os professores foram diabolizados e desautorizados perante a opinião pública na tentativa de quebrar a sua resistência e cercear a autonomia intelectual que lhes permite denunciar e expor esta política funesta delineada para a educação do país.

Mas porquê então atacar desta maneira os professores e a escola pública? Quem lucra com isso?

Os alunos não são certamente. Medidas como as “novas oportunidades”, por exemplo, em que é dada a hipótese de obtenção de diplomas do ensino básico e secundário podem parecer boas mas não passam de uma fraude. Os candidatos ficam certificados pelos portfolios que elaboram mas permanecem ignorantes. Também o estatuto do aluno permite que este praticamente possa ficar aprovado no ano lectivo sem assistir às aulas, fazendo do acto de estar presente uma mera brincadeira que pode aceitar com o mais displicente dos ânimos.

A certificação tornou-se mais importante do que a formação, o certificado mais importante do que o conhecimento.

E porque não interessa a este poder que existam cidadãos cultos, intelectualmente autónomos e capazes de juízo crítico? Muito simples. Porque isso é uma ameaça àquilo que consideram mais importante: a sua perpetuação no poder. A permanência não só desta classe política mas de todos os poderosos interesses económicos que dela se servem e que por ela são servidos. O tipo de cidadãos que interessa “produzir” não é do tipo culto e autónomo mas sim do tipo obediente, ignorante e, acima de tudo, sem consciência política. É esse tipo de cidadão (que não o é), massificado, anestesiado com a televisão, com o futebol e com as ilusões da publicidade e do consumismo, que irá, sem questionar, ocupar os balcões das lojas e os bancos das fábricas, ganhando miseravelmente para servir uma elite de quem fatalmente depende.

Vocês, eu não sei… mas eu convivo muito mal com a ideia de ter de viver num país com esta perspectiva de futuro. Quero uma sociedade mais séria e justa. Não me venham dizer que é utopia. Bastariam uns pequenos “toques” de bom senso e bons exemplos da parte de quem governa. Só isso. Não são precisas grandes ideologias ou epopeias políticas.

Este sistema de alternância de poder em que temos vivido claramente não funciona. Temos trinta anos de percurso para o provar. Há que encarar esse problema de frente e procurar alternativas que se baseiem na verdade e na leitura das coisas como elas realmente são, sem artifícios. Entretanto cabe-nos preservar o sentido de memória e a autonomia intelectual para não esquecer e assim não repetir os erros cometidos.

Eu não me esqueço.

in Protesto Gráfico