Mistérios da vida sexual dos Lourinhanosaurus revelados por paleontólogos portugueses
Um “ninho” com mais de 80 ovos de dinossauro permite perceber como os grandes carnívoros do Jurássico construíam os seus ninhos e como as catástrofes naturais os destruíam.
Um grupo multidisciplinar da Universidade Nova de Lisboa, em colaboração com as universidades de Aveiro e Saragoça, estudou um dos fósseis mais emblemáticos de Portugal, revelando como os dinossauros nidificavam há 152 milhões de anos.
O “ninho de Paimogo” é uma acumulação de quase uma centena de ovos de dinossauros terópodes allosauroideos, provavelmente pertencentes à espécie Lourinhanosaurus.
Alguns destes ovos contêm exemplares dos embriões de dinossauro terópode mais antigos do mundo.
Descoberto na Lourinhã e descrito nos anos 90 do século passado pelo casal de paleontólogos amadores Isabel e Horácio Mateus, trata-se de um dos fósseis mais emblemáticos de Portugal, tendo recentemente sido cunhada uma moeda comemorativa de 5 euros dedicada a este exemplar.
O estudo liderada por Lope Ezquerro e dirigida por Miguel Moreno Azanza, investigadores da Universidade de Saragoça e ex-membros da NOVA FCT, pretende responder à pergunta se uma única fêmea poderia ter dado origem a uma acumulação de quase uma centena de ovos.
Os resultados do estudo foram apresentados num artigo publicado na revista Geoscience Frontiers.
Dadas as características do exemplar, formado por uma acumulação desordenada e sem estruturas de nidificação aparentes, a equipa abordou o estudo de forma marcadamente multidisciplinar, realizando estudos sedimentológicos, paleontológicos, geoquímicos e de paleomagnetismo, com o objetivo de aprofundar os processos que levaram à formação deste fóssil singular.
A evidência paleontológica e geoquímica sugere que a acumulação inclui ovos de, pelo menos, duas fêmeas diferentes, embora tenha sido impossível determinar se os ovos foram postos ao mesmo tempo ou em temporadas de nidação sucessivas.
Por outro lado, os estudos sedimentológicos e paleomagnéticos concluíram que os ovos foram arrastados e acumulados por uma inundação causada pelo transbordo de um rio próximo, que destruiu várias posturas de diferentes origens e as transportou, acumulando-as numa área próxima, onde os ovos ficaram presos entre a vegetação.
Este processo acarretou a morte de várias das crias ainda dentro do ovo, que resultaram nos fósseis de embriões, únicos no mundo.
O trabalho tem implicações sobre as estratégias de nidificação deste grupo de dinossauros carnívoros, entre os quais se encontra o famoso Allosaurus.
A reconstrução desta acumulação sugere que os allosauroideos nidificavam em montículos de terra ou plantas, construídos sobre o solo, como fazem algumas aves e outros terópodes mais modernos, e não em buracos escavados como outros dinossauros.
A principal contribuição desta colaboração luso-espanhola é que estabelece um precedente de como devem ser analisados os possíveis ninhos de dinossauro para confirmar a sua identidade.
É a primeira vez que paleontólogos, sedimentólogos, geoquímicos e geofísicos trabalham em conjunto para entender melhor uma possível estrutura de nidificação, abrindo a porta para reinterpretar acumulações de ovos de dinossauro de todo o mundo.
Os ovos de Paimogo podem ser visitados na exposição do Museu da Lourinhã, incluída no Parque dos Dinossauros da Lourinhã, o maior parque de atrações sobre fauna extinta da Península Ibérica.
Além disso, uma pequena exposição dedicada aos resultados desta investigação pode ser visitada na sede do novo Geoparque Oeste, no município português de Bombarral.
O estudo confirma que a Península Ibérica é um dos locais mais ricos em ovos de dinossauro do mundo, contando com jazidas únicas como as do Jurássico português, que se juntam a megajazidas de ovos de dinossauro do final do Cretácico recuperados na Catalunha, Castela-Mancha e Aragão.