Foi, em Portugal,
Marquês de Campo Maior (título recebido por decreto de 17 de dezembro de 1812 de
D. Maria I),
Conde de Trancoso e, eventualmente, Duque de Elvas, e Visconde de
Beresford na
Grã-Bretanha.
Era de grande estatura e corpulento, sendo a presença realçada por um
rosto muito irregular e de aparência algo sinistra, pois tinha o olho
esquerdo vazado por um tiro, o que surpreendia os interlocutores.
Nomeado Marechal do Exército em março de 1809 pelo Conselho de Regência,
Beresford aproveitou a reorganização das forças militares criada por
D.
Miguel Pereira Forjaz, para a adaptar ao serviço de campanha do exército britânico.
Encontrando o exército desfalcado pela ausência dos comandos no Brasil e na
Legião Portuguesa,
e pela relativa velhice e ineficácia de muitos dos oficiais recorreu à
atribuição de comandos a oficiais britânicos, tendo plenos poderes
para nomear e demitir (
hire and fire) os subordinados. Como outras medidas, Beresford criou os depósitos de recrutamento em
Peniche,
Mafra e
Salvaterra; presidiu à distribuição das novas armas e equipamentos; levou um exército treinado
à prussiana a manobrar
à inglesa; introduziu
Ordens do Dia
para informar o exército e apurar a disciplina: tanto se lhe conhecem
mandatos de prisão e de execução sumária, sem julgamento em
tribunal militar, como louvores e promoções por mérito.
João Pedro Ribeiro chamou-lhe
moderador e animador do exército.
Foi um enérgico administrador. Sendo o
melhor dos segundos,
Wellington
preferia-o como seu lugar-tenente, estatuto que provocava
ressentimento nos generais britânicos seniores. Era pessoalmente muito
bravo, destacando-se em
Albuera, onde teve de combater a corpo a corpo com um lanceiro polaco, sendo depois auxiliado por um
cavaleiro português. Em
Salamanca comandou pessoalmente o ataque da 3ª Brigada portuguesa, que imobilizou o contra-ataque francês, ficando gravemente ferido.
Era adulado até 1815 pela população que reconhecia nele o artífice da
vitória. Contudo, a sua carreira de “protector” de Portugal após o fim
da
guerra apagou muito do que lhe deve o país.
Após o julgamento e execução do Tenente-General
Gomes Freire de Andrade,
em 1817, e outros, deslocou-se ao Brasil para pedir maiores poderes.
Havia pretendido suspender a execução da sentença até que fosse
confirmada pelo soberano, mas a Regência, "melindrando-se de semelhante
insinuação como se sentisse intuito de diminuir-se-lhe a autoridade,
imperiosa e arrogante, ordena que se proceda à execução imediatamente"
(Rocha Pombo, "
História do Brasil", volume IV,
pp. 12).
Diz o mesmo autor: "Não pequeno susto causou no Rio a vinda inesperada
de Beresford. Convocou imediatamente D. João o seu conselho." Achada a
fórmula para a solução do momento, "reformou-se a constituição da
Regência, reduzindo-lhe as funções ao meramente administrativo e
concentrando a autoridade política nas mãos de um delegado imediato do
soberano, com o título de marechal-general junto à sua real pessoa.
Fizeram então voltar para Lisboa o marechal Beresford investido de tão
alto posto, como se respondessem assim aos clamores do povo português -
entregando-o à tutela humilhante, ao arbítrio e às truculências daquele
estrangeiro."
Mas, afastando para a América o inglês inconveniente, os absolutistas
facilitavam a execução do plano dos liberais: assim que em 2 de maio de
1820 o marechal partiu, trataram os governadores do reino de
estabelecer o mais cauteloso sistema de polícia e repressão. Fechou
Portugal ao mundo, e deixou-se a Regência ficar desapercebida dos riscos
que sobrevinham. A cidade do Porto levantou-se então contra o obscuro
regalismo da Regência. Ali se fundara o
Sinédrio,
ali Fernandes Tomaz e Silva Carvalho reuniam ao redor de si outros
chefes de prestígio. Tudo se preparou para o rompimento, e pela
madrugada de
24 de agosto rompeu a revolução.
No regresso do
Rio de Janeiro pela nau
Vengeur, fundeada no Tejo em 10 de outubro, Beresford foi impedido pela Junta de desembarcar em
Lisboa e regressou à Grã-Bretanha.
Ainda esteve em Portugal em 1823, procurando vergar
D. João VI às tentativas absolutistas de
D. Miguel.
Contribuiu para as obras
Strictures on Napier’s History e
Further Strictures, escritas por
Benjamin D'Urban, refutações da
História da Guerra Peninsular de
William Napier, que confirmam o respeito pelo exército português, que comandou durante onze anos.
Brasão do Marechal Beresford