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terça-feira, outubro 10, 2017

Thelonious Monk nasceu há 100 anos!

Thelonious Monk foi um pianista único, e considerado um dos mais importantes músicos do Jazz. Monk tinha um estilo único de improvisar e tocar. Era famoso pelos seus improvisos, de poucas e boas notas. Preciso, fazia com duas ou três notas o que outros pianistas faziam com nove ou dez. Cada nota entrava perfeitamente no contexto da música, numa mistura melódica e rítmica. Somente notas necessárias e muito bem trabalhadas. Sentado ao piano, tocava-o encurvado, com uma má postura, além do seu dedilhado ruim, com os dedos rígidos, que ficavam perfeitamente eretos e batiam nas teclas tal qual uma baqueta faria em um tambor. Excêntrico, Thelonious não era muito bem visto pela crítica da época, porém era unanimemente reconhecido entre os jazzistas. Compunha melodias e criava ritmos nada usuais. Compôs vários temas que hoje são considerados standards, como "Epistrophy", "'Round Midnight", "Blue Monk", "Straight No Chaser" e "Well, You Needn't".
Apesar de ser lembrado como um dos fundadores do bebop, o seu estilo, com o passar do tempo, evoluiu para algo único, próprio, de composições com harmonias dissonantes e guinadas melódicas combinadas a linhas de percussão desenvolvidas com abruptos ataques ao piano e uso de silêncios e hesitações.

Infância e adolescência
Filho de Thelonious e Barbara Monk, Thelonious Sphere Monk nasceu no dia 10 de outubro de 1917, em Rocky Mount, Carolina do Norte, EUA. A sua irmã, Marian, nasceu dois anos antes. Um irmão, Thomas, nasceu alguns anos depois. Em 1922, a sua família mudou para Manhattan, Nova Iorque. Monk começou a tocar piano aos nove anos de idade. Apesar de ter tido aulas formais e ter ouvido as lições de piano de sua irmã, Thelonious Monk era, essencialmente, um autodidata. Monk frequentou a prestigiosa Stuyvesant High School, mas não chegou a se formar.

Início da carreira musical
Acredita-se que Monk trabalhou em gravações de Jerry Newman, feitas em 1941 a partir de apresentações no Minton's Playhouse, lendário club de Manhattan onde ele trabalhava como pianista. O estilo de Monk era descrito como um "hard-swing" "viciado" em "frases" rápidas ao estilo de Art Tatum. Monk dizia ser influenciado por Duke Ellington, James P. Johnson, e outros pianistas, muito à frente do seu tempo. A sua técnica desenvolveu-se muito no Minton's, quando participava de competições que reuniam os grandes solistas de jazz da época. A cena musical desenvolvida no Minton's foi essencial para a criação do bebop e aproximou Monk de outros grandes nomes desse estilo, como Dizzy Gillespie, Charlie Christian, Kenny Clarke, Charlie Parker e, mais tarde, Miles Davis.

Primeiras gravações
Em 1944, fez a sua primeira gravação de estúdio com o quarteto de Coleman Hawkins. Hawkins foi um dos primeiros músicos a confiar no talento de Monk, tendo Monk retribuído o "favor" anos depois, ao convidar Hawkins para uma sessão em 1957 com John Coltrane. As suas primeiras gravações como bandleader saíram pela Blue Note em 1947 (mais tarde, essas gravações sairiam na antologia Genius of Modern Music, Vol. 1) e mostrariam a sua capacidade de improvisação e composição de melodias. Nesse mesmo ano, Monk casou com Nellie Smith e, dois anos depois, nasceu quem mais tarde tornar-se-ia conhecido como o baterista de jazz T. S. Monk.
Por anos esteve apagado, desaparecido dos bares de jazz, e isso deve-se a um acontecimento muito infeliz. Em agosto de 1951, a Polícia de Nova Iorque revistou um carro estacionado onde estavam Monk e seu amigo Bud Powell. Os policiais encontraram no carro narcóticos diversos, pertencentes a Powell. Monk recusou-se a testemunhar contra seu amigo, o que levou a Polícia a confiscar seu New York City Cabaret Card, documento então necessário para trabalhar em casas noturnas, bares e cafés. Sem a sua importantíssima licença, Monk estava impedido de trabalhar, o que abalou a sua capacidade de se apresentar em público durante alguns anos. Monk passou a maior parte dos anos 50 compondo, gravando e apresentando-se em teatros e sessões de jazz fora da cidade.
Após um período de sessões irregulares pela Blue Note, entre 1947 e 1952, Monk assina contrato com a Prestige Records para os próximos dois anos. Pela Prestige lança trabalhos sem reconhecimento, mas muito importantes, incluindo sessões com o saxofonista Sonny Rollins e o baterista Art Blakey. Em 1953, nasce a sua filha, Barbara Monk. Em 1954, Monk participou das sesões Christmas Eve, das retiraram-se os álbuns Bags' Groove e Miles Davis and the Modern Jazz Giants, ambos de Miles Davis. Davis achava que o estilo idiossincrático de acompanhamento de Monk dificultava improvisos e lhe pediu para sair do trabalho. Isto quase os levou às vias de facto. Na sua autobiografia, entretanto, Davis diz que a raiva e a tensão entre ele e Monk nunca foram coisas sérias e não passam de "boatos" e "mal-entendidos".
Ainda em 1954, Monk fez a sua primeira viagem à Europa, apresentando-se e gravando em Paris. Em Paris, conheceu a baronesa Pannonica de Koenigswarter, membro da tradicional família inglesa de Rothschild e patrocinadora de vários jazzistas nova-iorquinos. Ela seria uma amiga muito próxima pelo resto da vida de Monk.

Contrato com a Riverside Records
Durante o período da assinatura do contrato com a Riverside, Monk era bem-visto pela crítica e por outros músicos, mas as suas vendas não eram boas e sua música era considerada "difícil" para o público-massa. De facto, a Riverside comprou, com aprovação de Monk, o seu contrato Prestige por meros US$ 108,24. A viragem veio de um compromisso firmado entre Monk e a empresa, no qual ficou acertado que seriam gravados dois álbuns de standards do jazz (ainda assim, com a interpretação de Monk).

Monk e as obras de Ellington
A sua estreia pela Riverside foi uma "temida" gravação com o inovador baixista Oscar Pettiford e construída em volta de versões de Monk para músicas de Duke Ellington. O LP resultante, Thelonious Monk Plays Duke Ellington, foi preparado para levar Monk a um público maior e, assim, aplanar o caminho para a aceitação do seu estilo único. De acordo com o produtor Orrin Keepnews, Monk não se sentia confortável com as melodias de Ellington e gastou muito tempo lendo as partituras e tocando as melodias em diferentes escalas no piano, parecia que não conhecia a música de Ellington. Dada a grande história de Monk como instrumentista, imaginou-se então que a aparente ignorância do material era, na verdade, o seu típico humor perverso combinado a uma não-declarada relutância em provar sua competência tocando músicas de outros compositores (ainda aí, alguns duvidavam da competência técnica de Monk, dizendo que ele "não conseguia tocar").

Liberdade musical e auge de carreira
Finalmente, no álbum de 1956 Brilliant Corners, Monk foi autorizado a fazer a sua música na sua totalidade. A complexa música-título (que trazia o lendário saxofonista tenor Sonny Rollins) foi tão difícil de executar que a versão final foi feita a partir de três takes diferentes. O álbum, entretanto, é lembrado como o primeiro sucesso de Monk e também a sua obra-prima.
Depois de recuperar seu Cabaret Card, Monk relançou a sua carreira em Nova Iorque marcando presença durante seis meses no Five Spot Café, em Nova Iorque. Essas apresentações históricas começaram em junho de 1957, com Monk liderando um quarteto formado por John Coltrane no sax tenor, Wilbur Ware no baixo e Shadow Wilson na bateria. Infelizmente, quase nada da música deste grupo foi documentada, aparentemente por razões burocráticas (Coltrane tinha contrato com a Prestige Records). Uma sessão de estúdio foi feita pela Riverside, mas sendo lançada somente depois pela Jazzland; uma fita amadora de uma apresentação foi descoberta nos anos 90 e lançada pela Blue Note. Em 29 de novembro daquele ano, o quarteto apresentou-se no Carnegie Hall e o show foi gravado em hi-fi pela Voz da América. A gravação do concerto, dada como perdida, foi redescoberta na coleção da Biblioteca do Congresso em janeiro de 2005. Em 1958, Johnny Griffin tomou o lugar de Coltrane como saxofonista tenor na banda de Monk.

Fama, queda e morte
Monk agora assinava com a Columbia Records, uma major, e teve uma grande presença nos media, muito maior que antes. Monk, agora um jazz-star, tinha um grupo fixo, que era formado pelo saxofonista tenor Charlie Rouse, Larry Gales (baixo) e Ben Riley (bateria). Gravou um alguns de álbum muito bem-recebidos, em particular, Monk's Dream (1962) e Underground (1968). No fim de 1963, Monk apresentou-se no Lincoln Center. Fazia turnês pelo Japão e pela Europa. O seu sucesso era tal que, em 28 de fevereiro de 1964, Monk apareceu na capa da revista Time. O seu período na Columbia depois disso seria marcado pela baixa produção. Somente o seu último trabalho pela Columbia, Underground, continha um bom número de novas peças. Lançou pela Columbia Records vários discos ao vivo, todos eles somente com músicas antigas, nenhuma inédita. A Columbia, tendo em vista a baixa produção de Monk, não renovou seu contrato. O seu quarteto desfez-se e Monk desapareceu no meio dos anos 70, fazendo pouquíssimas apresentações na sua última década de vida. A sua última gravação de estúdio foi feita perto do fim de sua turnê com "The Giants of Jazz", que incluía Dizzy Gillespie, Sonny Stitt, Art Blakey, Kai Winding e Al McKibbon.
Com sinais de depressão e péssimo estado de saúde, Monk, então, passou os seus últimos seis anos de vida na casa de sua velha patrocinadora, a Baronesa Nica de Koenigswarter, que cuidara também de Charlie Parker durante a sua última doença. Monk não tocou piano nesse período, apesar de haver um em seu quarto, e falou com poucas pessoas. Monk sofreu um AVC e morreu a 17 de fevereiro de 1982. O seu corpo foi enterrado no Ferncliff Cemetery, Hartsdale, Nova Iorque. Desde a sua morte, a sua música vem sendo descoberta por um público maior e é sempre posto ao lado de grandes nomes do jazz, como Miles Davis, John Coltrane e Bill Evans.

Thelonious Monk, o excêntrico
Monk sempre é descrito como um homem excêntrico, peculiar. Era conhecido pelo seu característico estilo hipster (na verdade, ele Dizzy Gillespie são imagens emblemáticas da cultura hipster dos anos 40 e 50) e por ter desenvolvido um estilo único, muito sincopado e percusivo para tocar piano. Monk era também famoso por emitir aforismos impenetráveis e por permanecer em longos períodos de muda abstração, para diversão e perplexidade dos que o rodeiam. Há uma gravação famosa de "The Man I Love" em que Miles Davis perde a paciência com um longo intervalo silencioso num solo de Monk e entra no meio, como se quisesse acordar o pianista. Não é improvável que Monk estivesse mesmo dormindo. O baixista Al McKibbon, que conheceu Monk vinte anos antes de sua morte e tocou em sua última turnê, de 1971, disse: "Naquela turnê, Monk disse duas palavras. Digo, literalmente duas palavras. Não dizia 'bom dia', 'boa noite' ou 'que horas são?'. Nada. O porquê eu não sei. Depois da turnê, ele disse que a razão pela qual ele não se comunicava ou tocava era porque Art Blakey e eu éramos muito feios."
Outro lado de Monk, porém, é revelado na biografia de autoria de Lewis Porter John Coltrane: His Life and Music; Coltrane diz: "Monk é o exato oposto de Miles [Davis]: fala de música o tempo inteiro e deseja tanto que você entenda isto que, se você lhe perguntar algo, ele gastará horas e horas para lhe explicar".
O documentário Thelonious Monk: Straight, No Chaser (1989), produzido por Clint Eastwood e dirigido por Charlotte Zwerin, atribui o seu estranho comportamento a doenças mentais. No filme, o filho de Monk, T. S. Monk, diz que, às vezes, o seu pai não o reconhecia e afirma que Monk foi internado em várias ocasiões, em função de uma doença mental nunca especificada, que somente se agravou no fim dos anos 60. Não há notícias de diagnósticos oficiais, mas Monk várias vezes ficava muito animado por dias e, aos poucos, parava de falar e recolhia-se. Médicos recomendaram eletroconvulsoterapia, mas sua família não permitiu; antipsicóticos e sal de lítio foram prescritos então. Outros culpam o comportamento de Monk pelo uso inadvertido de drogas: Monk pode ter consumido LSD e peiote com Timothy Leary. Outros clínicos sustentam que Monk foi mal-diagnosticado e lhe foram dados medicamentos que causaram-lhe sérios danos cerebrais.

Legado
Monk é um dos fundadores e principais músicos do bebop. O seu famoso estilo (o "Melodious Thunk, segundo a sua esposa), apesar de único, é referência no jazz da segunda metade do século XX. Uma vez questionado sobre quem era sua maior influência, declarou: "Bem, eu próprio, naturalmente."
O seu estilo experimental antecipava muito do que, mais tarde, na década de 60, foi o free jazz. Monk influenciou muitos músicos jazz dos anos 60, como John Coltrane, Ornette Coleman, Sonny Rollins e Eric Dolphy.
Apesar de ele próprio ser referência, Monk opôs-se ao avant-garde jazz, chamando-o de incoerente e ilógico, simplesmente "um monte de notas".
Monk compôs ao longo de sua vida apenas 71 temas (Duke Ellington, por exemplo, compôs de cerca de 2000). Ainda assim, é considerado um dos poucos grandes compositores do jazz. Muitas de suas obras são referências pela sua brilhante, única e, muitas vezes, bizarra forma de linguagem em relação ao jazz clássico (o chamado "padrão").
Em 1993 foi agraciado, postumamente, com o Grammy Lifetime Achievement Award. Em 2006, Monk foi laureado com o Pulitzer Prize Special Citation.