Arthur Conan Doyle viveu e escreveu parte de suas obras em
Southsea, um bairro elegante de
Portsmouth.
Vida
Filho de um
inglês de ascendência
irlandesa - Charles Altamont Doyle - e de uma mãe irlandesa - com nome de solteira Mary Foley - que se casaram em
1855 - uma família rigorosamente
católica, herdando da mãe o caráter cavalheiresco, tendo sido ela quem lhe ministrou as primeiras letras.
Embora ele seja hoje conhecido como "Conan Doyle", a origem de seu
sobrenome composto (se é que ele queria que esse nome fosse assim
entendido) é incerta. O seu registo de batismo na Catedral de Santa
Maria em Edimburgo afirma que "Arthur Ignatius Conan" é seu nome
cristão, e apenas "Doyle" é seu sobrenome. O batismo também intitula
Michael Conan como seu padrinho.
Conan Doyle foi enviado para o curso preparatório num colégio
jesuíta da vila de Hodder Place, Stonyhurst (em
Lancashire)
quando tinha nove anos. Matriculou-se em seguida no Colégio Stonyhurst
mas, em 1875, quando concluiu o ensino secundário, rejeitava o cristianismo e tornou-se
agnóstico; esse questionamento surgiu de sua admiração pelo escritor
Thomas Babington Macauley, que se dizia agnóstico e, após ouvir uma preleção onde um
padre
afirmara que os não-católicos iriam para o inferno, os seus
questionamentos fizeram-se mais agudos. Mais tarde outro agnóstico viria
a influenciá-lo - Dr. Bryan Charles Waller. Literariamente, foi
fortemente marcado por
Walter Scott e
Edgar Allan Poe, além de Macauley.
Entre 1876 e 1881, ele estudou medicina na
Universidade de Edimburgo, passando também um tempo na cidade de
Aston (hoje um distrito de
Birmingham) e em
Sheffield. Em 1878, por exemplo, trabalhou por três semanas, em troca de casa e comida, como médico aprendiz nos subúrbios de
Sheffield, de cuja experiência relatou em carta: "
Esta gente de Sheffield preferiria ser envenenada por um homem com barba do que ser salva por um homem imberbe".
Enquanto estudava, começou a escrever pequenas histórias; sua
primeira obra foi publicada antes de completar os 20 anos, aparecendo no
Chambers’s Edinburgh Journal. Ainda estudante teve a sua primeira experiência naval, como médico numa
baleeira, onde ficou sete meses no
Oceano Ártico.
Após a sua formação na universidade, em 1881, serviu como médico de bordo no navio "
Mayumba" em viagem à costa Oeste da
África mas, em outubro daquele ano, a embarcação passou por sérias dificuldades no mar e, quando regressou a
Liverpool no ano seguinte, Doyle escreve a sua mãe - que o incentivara nesta aventura - dizendo que não mais embarcaria pois "
o que ganho é menos do que poderia ganhar com a minha pena ao mesmo tempo, e o clima é atroz."
Emprego e as origens de Sherlock Holmes
Em 1882, ele juntou-se ao seu antigo colega de classe George Budd para formar uma parceria numa prática médica em
Plymouth,
mas a relação entre eles provou ser difícil, e, logo, Conan Doyle
passou a fazer a sua prática médica independentemente. Chegando a
Portsmouth em junho daquele ano com menos de
£10,
ele começou a atender na 1 Bush Villas em Elm Grove, Southsea. Os
negócios não tiveram muito sucesso; enquanto aguardava por pacientes,
ele voltou a escrever as suas histórias. A sua primeira obra notável foi
Um Estudo em Vermelho, publicada no
Beeton’s Christmas Annual de 1887, e em que foi a primeira vez em que
Sherlock Holmes
apareceu. Holmes era parcialmente baseado no seu professor da sua época
na universidade, Joseph Bell, a quem Conan Doyle escreveu: "É mais do
que certo que é a você a quem eu devo Sherlock Holmes… Com base no
centro de dedução, na interferência e na observação que ouvi você
inculcar, tentei construir um homem.". As futuras histórias a apresentar
Sherlock Holmes foram publicadas na inglesa
Strand Magazine. O que é
interessante é que, mesmo na distante
Samoa,
Robert Louis Stevenson foi capaz de reconhecer a forte similaridade
entre Joseph Bell e Sherlock Holmes. "Meus parabéns às geniais e
interessantes aventuras de Sherlock Holmes… Seria este meu velho amigo
Joe Bell?". Outros autores ocasionalmente sugerem influências
adicionais, como o famoso personagem de
Edgar Allan Poe,
C. Auguste Dupin.
Durante a sua estadia em Southsea, ele jogou
futebol
amador na equipa
Portsmouth Association Club, na posição de guarda redes, sob o
pseudónimo de A. C. Smith (este clube desapareceu em 1894 e não possui
qualquer conexão com o
Portsmouth F. C. de hoje, que foi fundado em 1898). Conan Doyle também era um grande jogador de
críquete,
e, entre 1899 e 1907, ele jogou dez partidas de primeira classe para o
MCC. A sua maior pontuação foi de 43 jogando contra o London County em
1902. Ele jogava
boliche ocasionalmente, jogando apenas em uma liga de primeira classe. Além disso, ele era um grande
golfista, eleito como capitão do Clube de Golfe de Crowborough Beacon,
East Sussex, em 1910.
Família
Em 1885, ele se casou com Louisa (ou Louise) Hawkins, conhecida como "Touie", que sofria de
tuberculose
e acabou por morrer no dia 4 de julho de 1906. Em 1907, ele se casou com
Jean Elizabeth Leckie, com quem ele se apaixonou em 1897, mas manteve
uma
relação platónica enquanto a sua primeira esposa ainda estava viva, por lealdade para com ela. Jean morreu no dia 27 de junho de 1940 em Londres.
Conan Doyle teve cinco filhos, dois com sua primeira esposa – (1)
Mary Louise (28 de janeiro de 1889 – 12 de junho de 1976) e (2) Arthur
Alleyne Kingsley, conhecido como "Kingsley" (15 de novembro de 1892 – 28
de outubro de 1918) – e três com sua segunda esposa – (3) Denis Percy
Stewart (17 de março de 1909 – 9 de março de 1955), este, em 1936, o
segundo marido da princesa
georgiana
Nina Mdivani (cerca de 1910 – 19 de fevereiro de 1987; ex-cunhada de
Barbara Hutton), (4) Adrian Malcolm (1910 – 1970) e (5) Jean Lena
Annette (1912 – 1997).
Morte de Sherlock Holmes
Em 1890, Conan Doyle começou a estudar os olhos em Viena; ele se mudou para
Londres em 1891 para começar a atender como
oftalmologista. Conforme diz a sua
autobiografia,
nenhum paciente sequer passou pela porta de seu consultório, o que lhe
deu mais tempo para escrever. Em novembro de 1891, ele escreveu para sua
mãe: "Acho que vou assassinar Holmes… e lhe dar fim de uma vez por
todas. Ele priva minha mente de coisas melhores". A sua mãe respondeu,
dizendo, "Faça o que achar melhor, mas o público não aceitará essa
atitude em silêncio.". Em dezembro de 1893, ele fez o que pretendia para
dedicar mais tempo a obras que ele considerava mais "importantes" – os
seus livros históricos.
Holmes e
Moriarty aparentemente mergulharam para as suas mortes nas
Cataratas de Reichenbach na história
The Final Problem. A manifestação de desagrado do público fez com que o escritor trouxesse o personagem de volta; ele retornou na história
A Casa Vazia, com a explicação de que apenas Moriarty havia caído, mas como Holmes tinha outros inimigos perigosos, especialmente o
Coronel Sebastian Moran,
ele fingiu estar "temporariamente" morto. Com isso, Holmes apareceu em
um total de 56 pequenas histórias e quatro livros, escritos por Conan
Doyle (ele apareceu em vários livros e histórias por outros autores).
Envolvimento em campanhas políticas
Após a
guerra bôer, que ocorreu na virada do
século XX na
África do Sul, e o escárnio vindo de todo o mundo por causa da conduta do Reino Unido, Conan Doyle escreveu um pequeno panfleto intitulado
A Guerra na África do Sul: Causa e Conduta, justificando o papel do Reino Unido na guerra bôer. O panfleto foi traduzido para vários idiomas.
Conan Doyle acreditava que foi por causa deste panfleto que ele foi
condecorado com o título de cavaleiro em 1902 e indicado como
deputado-tenente de
Surrey. Em 1900, ele escreveu algo maior, um livro,
A Grande Guerra Bôer. Nos primeiros anos do século XX, Sir Arthur tentou entrar para o Parlamento como um membro da
União Liberal
duas vezes, uma em Edimburgo e outra em Hawick Burghs, mas, embora
tenha recebido uma quantidade respeitável de votos, não conseguiu ser
eleito.
Conan Doyle envolveu-se na campanha pela reforma do
Estado Livre do Congo, liderada pelo jornalista E. D. Morel e pelo diplomata
Roger Casement. Em 1909, ele escreveu
O Crime do Congo,
um grande panfleto no qual ele denunciava os horrores daquele país. Ele
se tornou um grande amigo de Morel e Casement, e é possível que eles,
juntamente como Bertram Fletcher Robinson, tenham servido de inspiração
para vários personagens do livro
O Mundo Perdido (1912).
Ele rompeu relações com ambos quando Morel se tornou um dos líderes do movimento pacifista da
Primeira Guerra Mundial, e quando Casement foi acusado de traição contra o Reino Unido durante a
revolta da Páscoa.
Conan Doyle tentou, sem sucesso, salvar Casement da pena de morte,
alegando que ele estava louco e não era responsável por suas ações.
Envolvimento com o Espiritismo
Conan Doyle, no ano de
1887, travou o seu primeiro contato com o
Espiritismo, iniciando neste mesmo ano, junto ao seu amigo Ball, arquiteto de Portsmouth, sessões
mediúnicas que o fizeram rever seus conceitos.
Após as mortes de sua esposa Louisa (
1906),
do seu filho Kingsley, do seu irmão Innes, de seus dois cunhados (um
dos quais E. W. Hornung, criador do personagem literário
Raffles), e de seus dois netos logo após a
Primeira Guerra Mundial, Conan Doyle mergulhou em profundo estado de depressão. Kingsley Doyle faleceu a
28 de outubro de
1918 de uma
pneumonia que contraiu durante a convalescença, após ter sido seriamente ferido durante a
batalha do Somme em
1916. O General Brigadeiro Innes Doyle faleceu em fevereiro de
1919, também de pneumonia.
Encontrou consolação apoiando-se no Espiritismo, e esse envolvimento
levou-o a escrever sobre o assunto. No auge da fama, em 1918, enfrenta
todos os céticos e publica "
A Nova Revelação", obra em que manifesta a sua convicção na explicação espírita para as manifestações paranormais estudadas a esmo durante o
século XIX, e inicia uma série de outras, em meio a palestras sobre o tema. Em "A Chegada das Fadas" (
1921) reproduziu na obra teorias sobre a natureza e a existência de
fadas e
espíritos. Posteriormente, em "
The History of Spiritualism" (
1926) de natureza histórica, aborda a história do
movimento espiritualista anglo-saxónico (desenvolvido nos países de
língua inglesa), do
Espiritismo (codificado pelo pedagogo
francês
Hippolyte Léon Denizard Rivail), além desses movimentos Conan Doyle
enfatizou sobre os movimentos espiritualistas alemão e italiano, com
destaque para os fenómenos físicos e as materializações espirituais
produzidas por
Eusápia Paladino e
Mina "Margery" Crandon. O assunto foi retomado em "
The Land of Mist" (1926), de natureza ficcional, com o personagem "
Professor Challenger".
Os seus trabalhos sobre o tema foi um dos motivos pelos quais a sua compilação de pequenas histórias,
As Aventuras de Sherlock Holmes, foi proibida na
União Soviética em 1929 por suposto
ocultismo. A proibição foi retirada mais tarde. O ator russo
Vasily Livanov receberia uma
Ordem do Império Britânico por sua interpretação de Sherlock Holmes.
Por algum tempo, Conan Doyle foi um amigo do mágico
Harry Houdini, que se tornaria um grande oponente do movimento
moderno espiritualista na
década de 1920 após a morte de sua mãe. Embora Houdini insistisse que os médiuns da época faziam truques de
ilusionismo
(e buscava expor tais médiuns como fraudes), Conan Doyle já estava
convencido de que o próprio Houdini possuía poderes sobrenaturais, um
ponto de vista expresso em
O Limite do Desconhecido.
Aparentemente, Houdini não foi capaz de convencer Conan Doyle de que
seus feitos eram simples ilusões, levando a uma amarga e pública quebra
de relações entre os dois.
A sua convicção foi além: para receber o título de Par (
Peer)
do Reino Britânico, foi-lhe imposta a condição de renunciar às suas
crenças. Confrontando a todos, e ao sectarismo vigente, permaneceu fiel à
fé que abraçara, e que acompanhou até aos seus últimos dias. Foi
Presidente Honorário da
International Spiritualist Federation (1925-1930), Presidente da Aliança Espírita de Londres e Presidente do Colégio Britânico de Ciência Espírita.
Richard Milner, historiador
americano de ciências, apresentou um caso no qual Conan Doyle pode ter sido o responsável pela fraude do
homem de Piltdown
de 1912, criando um fóssil hominídeo falso que enganou o mundo
científico durante mais de 40 anos. Milner disse que o motivo de Conan Doyle
era de se vingar do mundo científico por destratar uma de
suas áreas favoritas, dizendo ainda que
O Mundo Perdido continha várias pistas criptografadas que se tratavam do seu envolvimento com a fraude.
O livro de 1974 escrito por Samuel Rosenberg, Naked is the Best Disguise,
se propõe a explicar como Conan Doyle deixou no meio de seus escritos
pistas abertas que se relatam a aspectos ocultos da sua mentalidade.
Morte
Conan Doyle foi encontrado, apertando o seu peito, nos corredores da
Windlesham, a sua casa em Crowborough, East Sussex, no dia 7 de julho de
1930. Ele morreu de
ataque cardíaco aos 71 anos. As suas últimas palavras foram ditas à sua esposa: "Você é maravilhosa.". A tradução em português de seu
epitáfio em seu túmulo no Cemitério de
Minstead é:
VERDADEIRO AÇO
LÂMINA AFIADA
ARTHUR CONAN DOYLE
CAVALHEIRO
PATRIOTA, MÉDICO & HOMEM DE LETRAS
Undershaw, a casa que Conan Doyle havia construído nas redondezas de
Hindhead, ao Sul de Londres, e onde ele viveu por aproximadamente uma
década, virou um hotel e restaurante entre 1924 e 2004. A casa foi,
então, adquirida por um desenvolvedor, e foi mantida vazia desde então
enquanto conservacionistas e fãs do autor lutam para preservá-la.
Há uma estátua em honra a Conan Doyle em Crowborough Cross,
Crowborough, onde Conan Doyle viveu durante 23 anos. Também há uma estátua
de Sherlock Holmes em Picardy Place, Edimburgo, Escócia, próximo da casa
onde Conan Doyle nasceu.