Monumento do ataque de Novembro de 1970 em Conacri
A Operação Mar Verde foi uma operação militar planeada pelas Forças Armadas Portuguesas e realizada em 22 de Novembro de 1970 no curso da Guerra Colonial Portuguesa na Guiné-Bissau. Foi concebida e executada pelo fuzileiro capitão-tenente Alpoim Calvão responsável pelo Centro de Operações Especiais da Guiné-Bissau com o apoio do brigadeiro António de Spínola que era o governante militar deste território.
Esta operação era extremamente audaciosa e secreta porque
envolvia o ataque com um pequeno número de homens à capital de um estado
soberano, a República da Guiné que servia de santuário aos rebeldes do PAIGC.
Mais melindrosa era pelo isolacionismo que Portugal tinha na comunidade
internacional por querer manter as suas colónias a todo o preço.
Portanto, uma das condições para o sucesso da operação era que
não houvesse vestígios da participação de forças Portuguesas no golpe e
para isso foram tomadas uma série de medidas como o uso de um uniforme
indistinto e a utilização de armamento que teria de ser de uso corrente
em África e que foi especialmente adquirido para o efeito no mercado
paralelo (basicamente AK-47 e RPG´s).
Até os 6 navios que iriam transportar os homens não continham nenhuma
informação exterior que os pudesse identificar e os poucos brancos
teriam o rosto pintado de negro e perucas de carapinha. Todos os
militares tiveram que posteriormente assinar um documento onde se
comprometeram a nunca falar desta operação e ainda hoje esta não é
reconhecida pelo estado Português.
Objetivos
O plano consistia num ataque anfíbio a Conacri, capital da República da Guiné, com vários objectivos:
- Destruir neste porto as lanchas rápidas fornecidas pela União Soviética ao PAIGC: supunha-se que seriam ao todo 6 a 7 unidades, todas elas com mais de 25 metros e possuindo lança-torpedos e mísseis. Missão conseguida
- Libertar os prisioneiros de guerra portugueses (26), sendo um deles o famoso piloto da Força Aérea Portuguesa, o tenente António Lobato que, após uma aterragem de emergência no seu North-American T-6, foi feito prisioneiro pelo PAIGC em 1963. Missão conseguida
- Atacar e destruir o quartel-general do PAIGC (havendo a hipótese de capturar Amílcar Cabral). Missão conseguida
- Necessidade imperiosa de destruir no aeroporto os caças Mig-15 e Mig-17 da República da Guiné para não serem atacados por estes durante a operação. Missão não conseguida
- Proporcionar o desembarque de oposicionistas guineenses da FLNG (Front de Libération Nationale Guinéen) que foram previamente treinados pelos portugueses na ilha de Songa, localizada no Arquipélago dos Bijagós,
durante sete meses. Foi uma tarefa difícil porque foi necessário
ultrapassar as rivalidades tribais e religiosas que existiam entre eles.
A instrução era igual à dos Comandos Africanos. Esta ação tinha a finalidade de auxilia-los num golpe de estado e na captura ou eliminação física do Presidente Sékou Touré. Inclusive ia a bordo dos navios um governo provisório. Um dos instrutores foi o furriel Comando Africano Marcelino da Mata que viria a destacar-se durante a operação em atos de grande heroísmo. Missão não conseguida
Meios
Para o sucesso desta operação era necessário um grande número de raides de comandos
em simultâneo e em que cada equipa atingia um objectivo específico como
por exemplo ir à central eléctrica para colocar a cidade às escuras,
tomar a emissora de rádio (não conseguiram), eliminar Sékou Touré na sua residência (não conseguiram) e destruir muitos edifícios relevantes. No total foram identificados 26 alvos e estes raides não tinham apoio aéreo nem uso de qualquer armamento sofisticado: tudo teria de ser feito com lanchas, barcos pneumáticos e armamento ligeiro.
Foi também necessário efectuar um prévio reconhecimento a Conacri, em Setembro de 1969 com uma lancha de fiscalização grande disfarçada. Caso algum barco se aproximasse o navio hastearia a bandeira do PAIGC e do exterior só se veriam marinheiros negros.
As forças portuguesas que participam são compostas maioritariamente por militares africanos: o destacamento de Fuzileiros Especiais Africano 21 (81 homens), a Companhia de Comandos Africanos (150 homens), um pequeno número de Paraquedistas, os militares do FLNG
(aproximadamente 200 homens) e alguns homens recrutados pelos
conhecimentos e /ou bravura para esta difícil missão. Seriam
aproximadamente 400 homens.
Estes não sabiam mas iriam enfrentar milhares de homens e bem treinados: muitos guerrilheiros do PAIGC foram treinados pelos cubanos em Marrocos e Argélia e no ataque ao quartel da Guarda Republicana iriam combater a elite das Forças Armadas da República da Guiné que era treinada por conselheiros militares checoslovacos.
Desfecho
Esta operação foi considerada um fracasso porque não foi obtido o desejado golpe de estado: a não presença dos Mig no aeroporto fez o comandante Alpoim Calvão
dar ordem de regresso às tropas, com receio de um ataque destes aviões
para os quais não estavam preparados, sem dar apoio aos combatentes do
FLNG. Mais tarde, soube-se que os seus pilotos ainda não estavam aptos
para combates.
Os guerrilheiros do FLNG, que apesar da falta de apoio quiseram à
mesma avançar com a sua missão, foram incapazes de derrubar o regime
devido a falta de apoio da população com que contavam, e ao
contra-ataque das forças fieis a Sékou Touré,
apoiadas por um contingente de tropas cubanas. Os combates duraram
vários dias, sofrendo o FLNG numerosos mortos e 100 dos seus membros são
feitos prisioneiros, torturados e posteriormente executados, assim como
um grupo de vinte homens que desertaram durante a operação e que ainda
foram à emissora de rádio transmitir que apoiavam o PAIGC, e que queriam pertencer às suas fileiras (foram degolados).
Os prisioneiros relatam a operação e revelam os nomes dos seus
mentores, e segue-se o escândalo internacional, explorado pelo regime da
República da Guiné que apresenta queixa na Conselho de Segurança das Nações Unidas. Sékou Touré também aproveitou o episódio para liquidar milhares de adversários políticos.
No entanto, esta operação, para muitos, foi um sucesso, porque
sofrendo apenas três mortos e três feridos graves (forças Portuguesas), a
força de desembarque tinha destruído parte significativa do material
bélico do PAIGC e da República da Guiné, libertado 26 prisioneiros de guerra portugueses e 400 prisioneiros políticos guineenses e infligido cerca de 500 mortos ao inimigo.
Marcelo Caetano
tinha transmitido antes desta missão a Alpoim Calvão que só a
recuperação dos prisioneiros de guerra Portugueses justificaria a
operação. Na realidade, o insucesso, devido em grande parte ao facto dos Mig não se encontrarem no aeroporto, porque tinham sido transferidos dois dias antes para um outro aeródromo, e o presidente não se encontrar na sua residência, se deveu apenas a informação errónea facultada pelos serviços de informação (PIDE).
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