Mostrar mensagens com a etiqueta Adalgisa Nery. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Adalgisa Nery. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, outubro 29, 2025

Adalgisa Nery nasceu há cento e vinte anos...

 Adalgisa Nery, em retrato de seu primeiro marido

 

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, DF, 29 de outubro de 1905 - Rio de Janeiro, RJ, 7 de junho de 1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, foi uma poetisa modernista e jornalista brasileira, mais conhecida por suas obras Ar do Deserto, de 1943, Mundos Oscilantes publicado entre 1937 e 1952, e A Imaginária, de 1959.  

   

Infância

Nascida na rua Sebastião Lacerda, no bairro Laranjeiras, Adalgisa era filha do advogado Gualter José Ferreira, natural do Mato Grosso, mas baseado no Rio de Janeiro, e da portuguesa Rosa Cancella Ferreira. Sensível e imaginativa desde cedo, ela ficou órfã de mãe aos oito anos de idade, o que lhe foi um grande impacto, registado mais tarde em sua obra.

O segundo casamento de seu pai tornou-se motivo de conflitos emocionais, pois Adalgisa não se adaptou ao temperamento difícil da madrasta. Estudou como interna num colégio de freiras e, naquela época, já era vista como "subversiva" por defender as "órfãs" (categoria comum nos colégios religiosos da época), consideradas subalternas e maltratadas. Por essa razão, acabou sendo expulsa da escola. Portanto, a única educação formal que ela recebeu em vida foi a do ensino primário.

Adalgisa era tia e madrinha da Miss Brasil Adalgisa Colombo, filha de sua irmã Percília Olga Ferreira. Sobre a tia ela declarava ser de personalidade forte, e que lhe dizia: "minha filhinha, você também é Adalgisa, porém a segunda!" 

 

 Vida com Ismael Nery

Aos quinze anos, Adalgisa se apaixonou por seu vizinho, o pintor Ismael Nery, um dos precursores do modernismo no Brasil, com quem casou aos dezasseis anos. O casamento durou doze anos, até à morte do pintor em 1934. A partir do casamento, Adalgisa Nery mergulhou numa vida trepidante, que lhe proporcionou a entrada em um sofisticado circuito intelectual graças a frequentes reuniões em sua casa, uma estada de dois anos na Europa com o marido, e a consequente aquisição de cultura. Porém a vida de Adalgisa foi também muito marcada pelo sofrimento e pela relação conflituosa, muitas vezes violenta, com o marido. O casal teve sete filhos, todos homens, mas somente o mais velho, Ivan, e o benjamin, Emmanuel, sobreviveram.

Em 1959 Adalgisa Nery publicou o romance autobiográfico A Imaginária, que se tornou seu maior sucesso editorial. Adalgisa, usando como alter ego a personagem Berenice, descreveu como o fascínio que sentia pelo marido no início do casamento foi substituído por um verdadeiro sentimento de terror pela violência que ele podia assumir na vida quotidiana.

Viúva aos vinte e nove anos, sem muitos recursos financeiros e com dois filhos para criar, Adalgisa foi trabalhar primeiro na Caixa Económica Federal, mas depois conseguiu arranjar um cargo no Conselho do Comércio Exterior do Itamaraty. Em 1937 lançou o seu primeiro livro de poesia, intitulado Poemas.

 

Vida com Lourival Fontes

Em 1940 Adalgisa casou com o jornalista e advogado Lourival Fontes, que era o diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), criado por Getúlio Vargas em 1939, para difundir a ideologia do Estado Novo brasileiro.

Seguiu o segundo marido em funções diplomáticas em Nova Iorque, de 1943 a 1945, e como embaixador no México em 1945. No México desenvolveu amizade com os pintores Diego Rivera, José Orozco (ambos a retrataram), Frida Kahlo, David Siqueiros e Rufino Tamayo. Em 1952 viajou novamente àquele país, como embaixadora plenipotenciária, para representar o Brasil na posse do presidente Adolfo Ruiz Cortines. Recebeu a Ordem da Águia Asteca, nunca antes concedida a uma mulher, em virtude de suas conferências sobre Juana Inés de la Cruz.

O casamento com Lourival durou treze anos, e a separação ocorreu quando ele se apaixonou por outra mulher. 

 

Jornalista e política

Em razão do grande sofrimento causado pelo abandono de Lourival Fontes, e apesar de seu valor literário ser reconhecido não só no Brasil como na França, onde uma coletânea de poemas foi traduzida por Pierre Seghers, Adalgisa resolveu destruir a própria fama e renegar sua obra. A partir daí, tornou-se jornalista, escrevendo para o jornal Última Hora e política. Foi eleita deputada três vezes, primeiro pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e depois, no tempo do bipartidarismo, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1969 teve o mandato e seus direitos políticos cassados.

Encontra-se colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.

 

Últimos anos

Pobre e desamparada, sem ter onde morar, após em vida ter doado tudo para os filhos, Adalgisa passou a residir entre 1974 e 1975 numa casa do comunicador Flávio Cavalcanti, em Petrópolis, onde viveu como reclusa. Contrariando seu propósito de nunca mais dedicar-se à literatura, escreveu e publicou ainda dois livros de poesia, dois de contos, um de artigos e um romance, Neblina. O romance foi dedicado a Cavalcanti, considerado "dedo-duro" pela Ditadura, em gratidão pelo acolhimento que lhe dera. No conflito entre o que seria "politicamente correto" e a lealdade a um amigo, Adalgisa escolheu, sem hesitar, o caminho do afeto. Em razão disso, o livro foi ignorado pela crítica.

Em 1975 passou a morar na casa de seu filho mais moço, Emmanuel. Em maio de 1976, deixou um bilhete para o filho e se internou sozinha, por livre e espontânea vontade, sem ter doença alguma, numa casa de repouso para idosos, em Jacarepaguá. Emmanuel, quando chegou em casa, surpreso, não encontrou mais a mãe. Um ano mais tarde, ela sofreu um acidente vascular cerebral e ficou afásica e hemiplégica. Três anos mais tarde, aos setenta e quatro anos, faleceu.

O seu percurso literário e imagético como mulher admirada, escritora, política e jornalista combativa e perseguida, cuja imagem sofreu um apagamento (Damnatio Memoriae), foi abordado na tese académica Damnatio memoriae: Adalgisa Nery, do paraíso perdido das Laranjeiras ao esquecimento, de Geraldo Gomes Brandão Junior.

 

   in Wikipédia


Poema da Amante 

 

 
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas, desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

 

Adalgisa Nery

quinta-feira, outubro 09, 2025

Ismael Nery nasceu há 125 anos

undefined

Autorretrato (1930)

 

Ismael Nery (Belém, 9 de outubro de 1900 - Rio de Janeiro, 6 de abril de 1934) foi um pintor, desenhista, arquiteto, filósofo e poeta brasileiro de influência surrealista. A sua obra icónica é Autorretrato, 1927 (Autorretrato Rio/Paris). Esta obra participou da exposição Brazil: Body & Soul, no Museu Solomon R. Guggenheim em 2001. 

Ismael nasce em Belém do Pará, filho do doutor Ismael Ribeiro Nery e dona Marietta Macieira Nery. Seus avós paternos, eram Elzeário Ariano Ribeiro Nery e Leontina Leopoldina de Andrade, e maternos João Vicente da Silva Macieira e Maria Lopes da Cunha e Silva Macieira, sendo esta filha de Domingos Lopes da Cunha e Clara Joaquina Simões Lopes, que eram proprietários da fazenda do Campinho, em Madureira no Rio de Janeiro. Ismael cresceu junto dos pais e tias maternas, Alaíde e Maria José Macieira. Em 1909 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1917, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Viajou pela Europa em 1920, tendo frequentado a Academia Julian, em Paris. De volta ao Brasil, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes que se tornaria seu grande amigo e incentivador de sua obra.

Em 1922, casou-se com a poetisa Adalgisa Maria Ferreira. Nessa época realizou obras de tendência expressionista. Em 1926, deu início ao seu sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, denominado de Essencialismo. Em 1927 fez nova viagem a Europa, onde entrou em contato com Marc Chagall, André Breton e Marcel Noll, dentre outros surrealistas. A sua obra sofreu, também, a influência metafísica de Giorgio de Chirico e do cubismo de Picasso. Seus temas remetem-se sempre à figura humana: retratos, auto-retratos e nus. Não se interessou pelos temas nacionais, indígenas e afro-brasileiros, que considerava regionalistas e limitados. Dedicou-se a várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustrações de livros. Foi, também, cenógrafo. Em 1929, depois de uma viagem à Argentina e Uruguai, um diagnóstico revelou que ele era portador de tuberculose, o que o levou a internar-se no Sanatório de Correas, em Petrópolis (RJ), por dois anos. Saiu de lá aparentemente curado. No entanto, em 1933, a doença voltou de forma irreversível. A partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas.

Ismael morreu em 6 de abril de 1934, aos trinta e três anos de idade, na sua residência à avenida Carlos Peixoto 10, em Botafogo, Rio de Janeiro. Foi sepultado no cemitério do Caju, vestindo um hábito dos franciscanos, numa homenagem dos frades à sua ardorosa católica. Deixou 2 filhos, Ivan e Emanuel.

A mãe de Ismael, dona Marietta, apelidada de "irmã Verônica", também era muito religiosa e sofreu até o fim a morte do filho, falecendo em 1953. Além de Ismael, ela já havia perdido o marido, o filho João Vicente, seus pais e um irmão, João Macieira.

A obra de Nery permaneceu ignorada do público e da crítica até 1965, quando teve seu nome inscrito na 8ª Bienal de São Paulo, na Sala Especial de Surrealismo e Arte Fantástica. Suas obras foram expostas também na 10ª Bienal de São Paulo. Foram feitas retrospetivas em 1966, no Rio de Janeiro, e em 1984, no MAC-USP.

 

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/06/Ismael_Nery_-_Auto-retrato%2C_1927.jpg

Autorretrato Rio/Paris (ou Autorretrato) - 1927 

    

undefined

Namorados - circa 1927 

 

in Wikipédia

terça-feira, outubro 29, 2024

Adalgisa Nery nasceu há 119 anos...

 Adalgisa Nery, em retrato de seu primeiro marido

 

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, DF, 29 de outubro de 1905 - Rio de Janeiro, RJ, 7 de junho de 1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, foi uma poetisa modernista e jornalista brasileira, mais conhecida por suas obras Ar do Deserto, de 1943, Mundos Oscilantes publicado entre 1937 e 1952, e A Imaginária, de 1959.  

 

   in Wikipédia


Poema da Amante 

 

 
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas, desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

 

Adalgisa Nery

domingo, outubro 29, 2023

Adalgisa Nery nasceu há 118 anos...

 Adalgisa Nery, em retrato de seu primeiro marido

 

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, DF, 29 de outubro de 1905 - Rio de Janeiro, RJ, 7 de junho de 1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, foi uma poetisa modernista e jornalista brasileira, mais conhecida por suas obras Ar do Deserto, de 1943, Mundos Oscilantes publicado entre 1937 e 1952, e A Imaginária, de 1959.  

 

   in Wikipédia


Poema da Amante 

 

 
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas, desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

 

Adalgisa Nery

sábado, outubro 29, 2022

A poetisa Adalgisa Nery nasceu há 117 anos

 Adalgisa Nery em retrato de seu primeiro marido

 

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, DF, 29 de outubro de 1905 - Rio de Janeiro, RJ, 7 de junho de 1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, foi uma poetisa modernista e jornalista brasileira, mais conhecida por suas obras Ar do Deserto, de 1943, Mundos Oscilantes publicado entre 1937 e 1952, e A Imaginária, de 1959.  

 

   in Wikipédia


Poema da Amante 

 

 
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas, desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

 

Adalgisa Nery

sexta-feira, outubro 29, 2021

Adalgisa Nery nasceu há 116 anos

 Adalgisa Nery em retrato de seu primeiro marido

 

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, DF , 29 de outubro de 1905 - Rio de Janeiro, RJ, 7 de junho de 1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, foi uma poetisa modernista e jornalista brasileira, mais conhecida por suas obras Ar do Deserto, de 1943, Mundos Oscilantes publicado entre 1937 e 1952, e A Imaginária, de 1959.  

 

   in Wikipédia


Poema da Amante 

 

 
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas, desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

quinta-feira, outubro 29, 2020

A poetisa Adalgisa Nery nasceu há 115 anos

 Adalgisa Nery em retrato de seu primeiro marido

 

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, DF , 29 de outubro de 1905 - Rio de Janeiro, RJ, 7 de junho de 1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, foi uma poetisa modernista e jornalista brasileira, mais conhecida por suas obras Ar do Deserto, de 1943, Mundos Oscilantes publicado entre 1937 e 1952, e A Imaginária, de 1959.  

  

Infância

Nascida na rua Sebastião Lacerda, no bairro Laranjeiras, Adalgisa era filha do advogado Gualter Ferreira, natural do Mato Grosso, mas baseado no Rio de Janeiro, e da portuguesa Rosa Cancela. Sensível e imaginativa desde cedo, ela ficou órfã de mãe aos oito anos de idade, o que lhe foi um grande impacto, registado mais tarde em sua obra.

O segundo casamento do seu pai se tornou motivo de conflitos emocionais, pois Adalgisa não se adaptou ao temperamento difícil da madrasta. Estudou como interna num colégio de freiras e, naquela época, já era vista como "subversiva" por defender as "órfãs" (categoria comum nos colégios religiosos da época), consideradas subalternas e maltratadas. Por essa razão, acabou sendo expulsa da escola. Portanto, a única educação formal que ela recebeu em vida foi a do ensino primário.

  

Vida com Ismael Nery

Aos quinze anos, Adalgisa apaixonou-se por seu vizinho, o pintor Ismael Nery, um dos precursores do Modernismo no Brasil, com quem casou aos dezasseis anos. O casamento durou doze anos, até a morte do pintor em 1934. A partir do casamento, Adalgisa Nery mergulhou numa vida trepidante, que lhe proporcionou a entrada num sofisticado circuito intelectual graças a frequentes reuniões em sua casa, uma estada de dois anos na Europa com o marido, e a consequente aquisição de cultura. Porém a vida de Adalgisa foi também muito marcada pelo sofrimento e pela relação conflituosa, muitas vezes violenta, com o marido. O casal teve sete filhos, todos homens, mas somente o mais velho, Ivan, e o benjamim, Emmanuel, sobreviveram.

Em 1959 Adalgisa Nery publicou o romance autobiográfico A Imaginária, que se tornou seu maior sucesso editorial. Adalgisa, usando como alter ego a personagem Berenice, descreveu como o fascínio que sentia pelo marido no início do casamento foi substituído por um verdadeiro sentimento de terror pela violência que ele podia assumir na vida quotidiana.

Viúva aos vinte e nove anos, sem muitos recursos financeiros e com dois filhos para criar, Adalgisa foi trabalhar primeiro na Caixa Econômica Federal, mas depois conseguiu arranjar um cargo no Conselho do Comércio Exterior do Itamaraty. Em 1937 lançou o seu primeiro livro de poesia, intitulado Poemas

  

Vida com Lourival Fontes

Em 1940 Adalgisa casou com o jornalista e advogado Lourival Fontes, que era o diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), criado por Getúlio Vargas em 1939, para difundir a ideologia do Estado Novo.

Seguiu o segundo marido em funções diplomáticas em Nova Iorque, de 1943 a 1945, e como embaixador no México em 1945. No México desenvolveu amizade com os pintores Diego Rivera, José Orozco (ambos a retrataram), Frida Kahlo, David Siqueiros e Rufino Tamayo. Em 1952 viajou novamente àquele país, como embaixadora plenipotenciária, para representar o Brasil na posse do presidente Adolfo Ruiz Cortines. Recebeu a Ordem da Águia Asteca, nunca antes concedida a uma mulher, em virtude das suas conferências sobre Juana Inés de la Cruz.

O casamento com Lourival durou treze anos, e a separação ocorreu quando ele se apaixonou por outra mulher.

  

Jornalista e política

Em razão do grande sofrimento causado pelo abandono de Lourival Fontes, e apesar de seu valor literário ser reconhecido não só no Brasil como na França, onde uma coletânea de poemas foi traduzida por Pierre Seghers, Adalgisa resolveu destruir a própria fama e renegar a sua obra. A partir daí, tornou-se jornalista, escrevendo para o jornal Última Hora e política. Foi eleita deputada três vezes, primeiro pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e depois, no tempo do bipartidarismo, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1969 teve o mandato e seus direitos políticos cassados.

Encontra-se colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.

  

Últimos anos

Pobre e desamparada, sem ter onde morar, após em vida ter doado tudo para os filhos, Adalgisa passou a residir entre 1974 e1975 numa casa do comunicador Flávio Cavalcanti, em Petrópolis, onde viveu como reclusa. Contrariando o seu propósito de nunca mais se dedicar à literatura, escreveu e publicou ainda dois livros de poesia, dois de contos, um de artigos e um romance, Neblina. O romance foi dedicado a Cavalcanti, considerado "dedo-duro" pela Ditadura, em gratidão pelo acolhimento que lhe dera. No conflito entre o que seria "politicamente correto" e a lealdade a um amigo, Adalgisa escolheu, sem hesitar, o caminho do afeto. Em razão disso, o livro foi ignorado pela crítica.

Em 1975 passou a morar na casa de seu filho mais novo, Emmanuel. Em maio de 1976, deixou um bilhete ao filho e se internou sozinha, por livre e espontânea vontade, sem ter doença alguma, numa casa de repouso para idosos, em Jacarepaguá. Emmanuel, quando chegou em casa, surpreso, não encontrou mais a mãe. Um ano mais tarde, ela sofreu um acidente vascular cerebral e ficou afásica e hemiplégica. Três anos mais tarde, aos setenta e quatro anos, faleceu. 

 

in Wikipédia


Poema da Amante 

 

 
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas, desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.