E depois de Plutão, a New Horizons segue para a rocha 2014 MU69
Representação artística da futura passagem da sonda New Horizons por um objecto da Cintura de Kuiper
A NASA já escolheu o provável destino “extra-missão” da sua sonda. Trata-se de um pequeno corpo celeste situado a uns 1600 milhões de quilómetros para lá de Plutão.
Em 2019, se tudo correr como previsto, a sonda New Horizons da NASA, cujas espectaculares imagens do planeta-anão Plutão deliciaram e surpreenderam os cientistas e o mundo em julho, deverá passar ao pé de um pequeno objecto designado pelo nome de código 2014 MU69, anunciou a agência espacial norte-americana NASA em comunicado.
Será assim a primeira vez que uma nave espacial vinda da Terra observa e estuda de muito perto um “objecto da Cintura de Kuiper” (KBO, na sigla em inglês). A Cintura de Kuiper é uma zona cheia de asteróides, que começa para lá de Neptuno, que foi descoberta em 1992 e da qual Plutão é o representante mais próximo da Terra.
Foi a equipa responsável pela sonda que seleccionou aquela gélida rocha dos confins do sistema solar como alvo “extra-missão” potencial da New Horizons. Tal como muitas outras sondas espaciais, esta tem uma vida útil bem superior à da sua missão principal e pode portanto ser aproveitada pelos cientistas para continuar a recolher uma massa de dados adicionais – e inéditos – enquanto se dirige para o espaço interestelar.
A escolha do alvo não foi fácil. A procura, explica ainda a NASA, começou em 2011 com a ajuda de alguns dos maiores telescópios terrestres, tendo então sido identificadas várias dezenas de KBO. Infelizmente, todos eles se encontravam a distâncias inatingíveis pela sonda com as suas reservas de energia. Seria preciso esperar até ao Verão de 2014 para o Telescópio Espacial Hubble descobrir finalmente cinco objectos, dos quais apenas dois viriam a ser seleccionados mais tarde.
Agora, a escolha final parece ter recaído no 2014 MU69. E ao que tudo indica, trata-se de um alvo ideal a vários títulos. “É uma escolha muito boa porque é realmente o tipo de KBO dos primórdios [que queremos visitar], formado no mesmo sítio onde hoje orbita”, disse Alan Stern, responsável científico pela missão New Horizons, citado no mesmo documento. “Por outro lado, pode ser atingido gastando menos combustível”, o que faz com que a energia disponível para a missão propriamente dita seja maior.
Contudo, a NASA ainda deverá proceder a uma avaliação muito cuidadosa de 2014 MU69 e dos custos adicionais da missão antes de dar a sua aprovação final. Mas isso não impede que, em preparação para essa próxima fase, a sonda já deva efectuar, entre finais de outubro e inícios de novembro deste ano, uma sequência de quatro manobras de forma a redireccionar a sua trajectória. Só desta forma é que será possível aumentar as hipóteses de sucesso desta parte da missão. Qualquer atraso, salienta o comunicado, poderia deixar a sonda sem o combustível necessário para a cumprir.
Os cientistas estimam que o 2014 MU69, a que entretanto deram a alcunha informal de PT1 (“alvo potencial 1”), tem menos de 45 quilómetros de diâmetro. É dez vezes maior e mil vezes mais maciço do que um cometa, sendo que o seu tamanho equivale a entre 0,5% e 1% do de Plutão e que a sua massa é 10.000 vezes inferior à do planeta-anão.
“Os KBO só foram ligeiramente aquecidos pelo Sol e, por isso, pensa-se que representam uma amostra super-congelada e bem conservada do que era o sistema solar quando nasceu, há 4.600 milhões de anos", lê-se ainda no comunicado.
“Há imensas coisas que nunca conseguiríamos saber a partir da Terra e que ainda podemos aprender com base em observações de proximidade feitas por naves espaciais”, disse por seu lado John Spencer, um outro elemento da equipa da sonda. “As imagens pormenorizadas e os outros dados que a New Horizons poderá obter aquando da sua passagem na vizinhança de um KBO vão revolucionar a nossa compreensão da Cintura de Kuiper e dos objectos que a povoam.”
A New Horizons foi concebida de raiz para explorar outros corpos da Cintura de Kuiper para lá de Plutão. Em particular, transporta combustível adicional para o efeito, diz a NASA. Por outro lado, o seu sistema de comunicação permite-lhe transmitir sinais de rádio a distâncias muito superiores à que separa Plutão da Terra e os seus instrumentos científicos conseguem operar com níveis de luminosidade muito mais baixos dos que aqueles que a sonda terá de enfrentar, mesmo quando passar ao pé de 2014 MU69. O encontro deverá, em princípio, acontecer a 1 de janeiro de 2019.