(imagem daqui)
Josué Apolônio de Castro (Recife, 5 de setembro de 1908 - Paris, 24 de setembro de 1973), mais conhecido como Josué de Castro, foi um influente médico, nutrólogo, professor, geógrafo, cientista social, político, escritor, ativista brasileiro que dedicou sua vida ao combate à fome.
Destacou-se no cenário brasileiro e internacional, não só pelos seus
trabalhos ecológicos sobre o problema da fome no mundo, mas também no
plano político em vários organismos internacionais.
Partindo de sua experiência pessoal no Nordeste brasileiro, publicou uma extensa obra que inclui: "Geografia da Fome",
"Geopolítica da Fome", "Sete Palmos de Terra e um Caixão" e "Homens e
Caranguejos". Exerceu a Presidência do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e foi também embaixador brasileiro na Organização das Nações Unidas (ONU).
Recebeu da Academia de Ciências Políticas dos Estados Unidos, o Prémio
Franklin D. Roosevelt, o Conselho Mundial da Paz lhe ofereceu o Prémio
Internacional da Paz e o governo francês condecorou-o, sendo Oficial da
Legião de Honra.
Logo após o Golpe de Estado de 1964, teve seus direitos políticos suspensos pela ditadura militar.
Vida
1908-1929
Josué nasceu no dia 5 de setembro de 1908, em Recife, capital do estado de Pernambuco. O seu pai veio de Cabaceiras durante a grande seca de 1877. A sua mãe, da região da zona da mata. Josué cresceu bem próximo dos mangues da cidade, região de mocambos, habitada por retirantes e caranguejos.
Aos 20 anos formou-se em Medicina.
1930-1945
Apesar do interesse inicial pela psiquiatria, resolveu fazer nutrição e
abriu sua clínica em Recife. Na mesma época, contratado por uma
fábrica para examinar trabalhadores com problemas de saúde indefinidos e
acusados de indolência, diagnosticou: “sei o que meus clientes têm.
Mas não posso curá-los porque sou médico e não diretor daqui. A doença
desta gente é fome”. Logo foi demitido da fábrica. Vislumbrou então a
dimensão social da doença, ocultada por preconceitos raciais e
climáticos.
Efetuou um inquérito pioneiro no Brasil, relacionando a produtividade
com a alimentação do trabalhador, uma das bases para a posterior
formulação do salário mínimo, e passou a chefiar uma comissão de
estudos das condições de vida dos operários brasileiros. Como
professor, ensinava Fisiologia e Geografia Humana.
Casado com sua ex-aluna Glauce, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1935.
Após um período de dificuldades, passou a ensinar Antropologia.
Recorreu ao método geográfico para apresentar o mapa das regiões
alimentares em A alimentação brasileira à luz da Geografia Humana. Entre outros contos, crónicas, ensaios, estudos sociais e biológicos, publicou O ciclo do caranguejo, conto sobre os mangues da sua cidade natal.
A partir de 1940, participou de todos os projetos governamentais
ligados à alimentação, coordenando a implantação dos primeiros
restaurantes populares, dirigindo as pesquisas do Instituto de
Tecnologia Alimentar e colaborando para a execução de várias políticas
públicas, como a educação alimentar. Sob a sua direção foi lançado o
periódico Arquivos Brasileiros de Nutrologia.
1946-1963
O ano de 1946 foi marcado pela publicação de Geografia da fome.
Obra clássica da ciência brasileira, o livro buscou tirar da
obscuridade o quadro trágico da fome no país. Enfatizou as origens
socioeconómicas da tragédia e denunciou as explicações deterministas que
naturalizavam este quadro.
No mesmo ano, foi o fundador e primeiro diretor do Instituto de Nutrição
da Universidade do Brasil. Efetivou como professor de Geografia Humana
em 1947, na Universidade do Brasil (atual UFRJ). A Conferência da FAO de
1948 registou o início de sua participação neste órgão internacional.
Geopolítica da fome, livro publicado em 1951, concebido como uma extensão da Geografia da fome,
tornou-se um marco histórico e político nas questões de alimentação e
população. Os princípios ecológicos e geográficos foram desta vez
utilizados na escala da fome mundial. Posicionou-se contra as
interpretações demográficas que entendiam a fome como consequência de
excesso populacional e prescreviam um controle de natalidade de massa.
Cuidou de “desnaturalizar” a fome mais uma vez e demonstrou os vários
fatores biológicos, geográficos, culturais e políticos pelos quais a
fome gera a superpopulação.
Respeitado internacionalmente, foi eleito, por representantes de
setenta países, Presidente do Conselho Executivo da FAO, cargo que
exerceu entre 1952 e 1956. Enfrentou forte oposição dos países
desenvolvidos à execução de projetos voltados para o desenvolvimento do
terceiro mundo e não deixou de expressar sua frustração com a “ação
tímida e vacilante” da agência das Nações Unidas, apesar da alta
qualificação de seus experts e técnicos.
Exerceu dois mandatos como Deputado Federal eleito pelo Estado de
Pernambuco. Entre diversos projetos ligados a questões agrárias,
educacionais, culturais e económicas, apresentou o de regulamentação da
profissão de nutricionista, que dispõe sobre o ensino superior de
Nutrição e o projeto para a reforma agrária,
entendida como “um processo de revisão das relações jurídicas e
económicas entre os que detêm a propriedade rural e os que nela
trabalham”. Com seus pronunciamentos, deixou registados relevantes
acontecimentos históricos, assim como a defesa contra abusos da imprensa
quando, em várias ocasiões, dá vazão a interesses subservientes.
Em 1963, tornou-se Embaixador brasileiro junto à sede europeia da
Organização das Nações Unidas, em Genebra. Era então uma personalidade
de projeção internacional, convidado por reis e chefes de Estado, capaz
de atrair uma plateia de 3.500 pessoas na cidade de Rouen, interior da
França.
Em 9 de abril de 1964, com o Golpe Militar, foi destituído do cargo de
embaixador-chefe em Genebra e logo depois tem seus direitos políticos
suspensos por 10 anos pelo Regime Militar no Brasil (1964–1985) no seu
primeiro Ato Institucional Nº 1.
Impedido de voltar ao país, escolheu a França para viver, morando em
Paris de 1964 a 1973 onde continuou as suas atividades intelectuais.
Fundou, em 1965, e dirigiu até 1973 o Centro Internacional para o
Desenvolvimento, além de Presidente da Associação Médica Internacional
para o Estudo das Condições de Vida e Saúde. Depois de um ano de
docência, em 1969, o governo francês o designa professor estrangeiro
associado ao Centro Universitário Experimental de Vincennes
(Universidade de Paris VIII), onde trabalhou até sua morte.
No exílio, sentiu agudamente a falta do Brasil, a ponto de declarar que
"não se morre apenas de enfarte ou de glomerulonefrite crónica, mas
também de saudade". Faleceu em Paris, em 24 de setembro de 1973, quando
esperava o passaporte que o traria de volta ao Brasil. O passaporte
chegou, porém já era tarde. O seu corpo foi enterrado no cemitério de
São João Batista, no Rio de Janeiro.
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